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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 11. Ensino-Aprendizagem
A ASSIMILAÇÃO DO CONTEÚDO DE EVOLUÇÃO POR DUAS TURMAS DE TERCEIRA SÉRIE DO ENSINO MÉDIO
Ivan Braga Campos  1
Denílson Cunha  1
Mônica Meyer  2
(1. INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DA UFMG / ICB - UFMG; 2. FACULDADE DE EDUCAÇÃO DA UFMG / FAE - UFMG)
INTRODUÇÃO:

O conteúdo de evolução confronta muitas vezes com dogmas religiosos e com idéias do senso comum. O distanciamento da fé na construção do saber científico exige bastante maturidade por parte do aluno e do professor para evitar que esse conflito provoque desinteresse e rechaça por uma das formas de pensamento. Não deve ser tarefa do professor alterar as crenças religiosas dos alunos, pois estas fazem parte de outro universo de pensamento distante do pensamento acadêmico, o universo da fé.

Quando o estudo de evolução é feito de maneira a propiciar uma queda de braço entre diferentes formas de pensamento, acaba contribuindo para a não assimilação das idéias consideradas corretas do ponto de vista científico, pois este embate torna-se uma barreira para a compreensão das idéias evolucionistas apresentadas.

Por esse motivo, Evolução é um dos conteúdos de maior dificuldade de assimilação durante toda a biologia do ensino médio.

Os objetivos desse trabalho foram comparar o conhecimento sobre evolução dos alunos antes do estudo da matéria e após o estudo para verificar se houve assimilação e avaliar o desempenho dos alunos em um teste após o estudo do conteúdo, abordando alguns conceitos não abordados no primeiro questionário.

METODOLOGIA:

Antes do estudo da matéria, os alunos responderam um questionário diagnóstico com seis perguntas gerais sobre evolução. O mesmo questionário foi respondido pelos alunos após o estudo da matéria e as diferenças entre os dois questionários foram avaliadas.

O segundo questionário além de conter as mesmas seis perguntas do primeiro, continha ainda cinco perguntas novas que buscavam avaliar o desempenho dos alunos, independente da comparação com as respostas do primeiro questionário.

O trabalho foi executado em duas turmas de terceiro ano do ensino médio no Colégio Técnico da UFMG identificadas como M31 e M32.  Os resultados e discussão foram feitos considerando o total de alunos que responderam os questionários e cada turma independentemente.

Foi feita a quantificação das respostas em números de alunos e porcentagem de alunos.

Nas perguntas abertas, após a leitura de todos questionários foram definidas categorias de respostas nas quais as respostas foram encaixadas e quantificadas.

As perguntas dos questionários, devido ao número limite de caracteres, não estão citadas nesta metodologia. Isto não impede a compreensão dos resultados porque estes estão detalhadamente discutidos.

RESULTADOS:

O conceito de evolução não foi consensual nem antes nem depois das aulas. Na turma M31 a variação foi marcante: no primeiro questionário 50% dos alunos descreveram evolução como adaptação ao meio, já no segundo, 56,25% descreveram como sendo seleção natural.

Antes das aulas a explicação para o fato de que o homem, o cachorro, o morcego e o macaco, todos possuírem cinco dedos, era mais heterogênea entre os alunos e depois houve uma concentração maciça na explicação do ancestral comum (96,6% dos alunos). A mudança foi mais marcante na turma M31 na qual, antes das aulas, 31,25% dos alunos compartilhavam a explicação do ancestral comum e depois esse número passou para 100%.

É consenso entre os alunos a idéia de que mudanças físicas sofridas pelo indivíduo não são herdadas pelos descendentes, uma vez que não são mudanças genéticas ocorridas nos gametas.

Os dois únicos alunos que não acreditavam em evolução antes das aulas mantiveram sua posição após estas.

Quanto às perguntas presentes somente no segundo questionário:

Grande maioria dos alunos relacionou as idéias da seleção natural ás inovações trazidas por Darwin e também soube identificar idéias lamarckistas, indicando uma consolidação dessa parte do conteúdo.

Não ficou claro para os alunos o papel do acaso na evolução como gerador de variedade biológica através das mutações e recombinações.

Foi consensual a idéia de que homem e os macacos têm um ancestral comum, contrapondo ao senso comum que diz que o homem veio do macaco.

CONCLUSÕES:

Ocorreu assimilação do conteúdo pelos alunos, entretanto essa assimilação ocorreu em níveis diferentes em cada parte do conteúdo. Além da distinção na assimilação de cada parte do conteúdo, ocorreu diferença entre as duas turmas estudadas com relação a cada conceito.

Os dois alunos que não acreditavam em evolução, ambos por motivos religiosos, continuaram não acreditando, mostrando que o conflito gerado entre as duas formas de interpretações dos fatos (científica e religiosa) não foi capaz de desfazer a idéia pré-existente.

Tanto as duas turmas individualmente quanto o total dos alunos se saíram razoavelmente bem nas cinco questões teste finais que não constavam no primeiro questionário, embora alguns conceitos claramente não foram internalizados. Isso demonstra que o conhecimento geral sobre evolução desses estudantes é razoavelmente bom e que o estudo foi bem feito, atingindo assimilação satisfatória do conteúdo.

 
Palavras-chave: Ensino; Evolução; Pensamento científico x religioso.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006