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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 15. Formação de Professores (Inicial e Contínua)

TAREFA PARA CASA: O QUE DIZEM OS PROFESSORES E O QUE REVELAM OS CADERNOS DE SEUS ALUNOS

Andréia Patrícia dos Santos Auresco  1
Lizete Shizue Bomura Maciel  2
(1. Curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Maringá-UEM; 2. Dep. de Teoria e Prática da Educação-Universidade Estadual de Maringá-UEM)
INTRODUÇÃO:

Esta pesquisa de Iniciação Científica, desenvolvida durante o ano de 2006, está vinculada ao Projeto de Pesquisa Institucional da orientadora denominado “Tarefa de casa: uma atividade pedagógica ou alienadora do processo ensino-aprendizagem?”. Tratamos neste estudo acerca de uma das atividades mais solicitadas no meio escolar: a tarefa de casa. Para tal, priorizamos uma pesquisa de levantamento de dados junto a professoras das séries iniciais do Ensino Fundamental de uma instituição escolar localizada na região central e de duas localizadas mais distante do centro do município de Maringá-Pr., a fim de conhecermos a concepção de tarefa de casa presente em seus discursos, bem como análise dos cadernos de seus respectivos alunos, fonte concreta das ações desenvolvidas pelas mesmas. A pesquisa bibliográfica e de campo ofereceu subsídios para realizarmos uma comparação entre o que dizem as professoras e o que revelam os cadernos de seus alunos, além de observarmos se há ou não diferenças nas concepções das professoras das três escolas. Essa atividade escolar, maciçamente solicitada pelas escolas e cobrada pelas famílias, de uma forma geral, precisa ser cuidadosamente investigada para oferecer subsídios teórico-metodológicos nos cursos de formação inicial e continuada de professores, principalmente das séries iniciais do Ensino Fundamental.

METODOLOGIA:

A nossa opção metodológica esteve fundamentada nos princípios fornecidos pelo paradigma da pesquisa qualitativa (BOGDAN; BIKLEN, 1999) de cunho etnográfico (LÜDKE; ANDRÉ, 1986). Os dados foram coletados por meio de: 1) entrevistas semi-estruturadas realizadas com professoras das séries iniciais do Ensino Fundamental; 2) cadernos de seus respectivos alunos. Para tal, entrevistamos nove professoras de três escolas públicas do município de Maringá: uma localizada na região central e duas localizadas na periferia. Algumas professoras permitiram a gravação das entrevistas, outras se negaram e, para tal, as suas falas foram registradas por nós. Além disso, foram analisados cadernos de tarefa para casa ou cadernos que continham tarefa para casa de nove alunos, com o objetivo de realizarmos uma comparação entre “o que diziam as professores e o que revelavam os cadernos de seus respectivos alunos” a propósito dessa atividade escolar. Os interlocutores intelectuais que utilizamos auxiliaram-nos na compreensão e análise dos dados que obtivemos junto às professoras e aos alunos.

RESULTADOS:

A problematização de nossa pesquisa voltada para os objetivos da professoras da séries iniciais do Ensino Fundamental de escolas públicas do município de Maringá, ao solicitarem a atividade tarefa de casa a seus alunos, foi desenvolvida tendo por base as falas dessas profissionais e as atividades  de tarefa para casa registradas nos cadernos de seus respectivos alunos. Destacamos que, após as análises dos dados, podemos afirmar que a atividade escolar, denominada de tarefa de casa, de forma geral, em sua forma e conteúdo, não se apresenta de forma diferenciada entre as três escolas públicas investigadas: Escola A, Y e Z. Encontramos 56 tipos de atividades de tarefa para casa e desse total, 38 são solicitados pelas professoras da Escola A e Y; 41 deles são solicitados pelas professoras da Escola Z. Ainda do total, 23 tipos de atividades são solicitados pelas 9 professoras. As atividades mais solicitadas são: fazer operações, fazer tabuada, atividades do livro, escrever palavras com letras determinadas, ler pesquisar, estudar tabuada, recortar e colar, produzir texto e desenhar. Nas entrevistas as professoras explicitam claramente seus objetivos e que são ratificados nos registros dos cadernos de seus alunos. Destacamos, entre os principais, aqueles que estão voltados intencionalmente para : revisar, recordar, repassar, reforçar, fixar o conteúdo escolar desenvolvido pelas professoras em sala de aula, conforme já apontado nos estudos de Castilla e Méndez (2002).

CONCLUSÕES:

Em nosso estudo observamos que todas as professoras solicitam aos seus alunos a realização da tarefa de casa, porque a considera uma atividade importante no processo ensino-aprendizagem. Essa atividade é solicitada somente após o desenvolvimento do conteúdo escolar pela professora, portanto, ela ocorre dentro de uma seqüência, de um ordenamento. Diante disso, as solicitações estão sempre marcadas por atividades que envolvem a reprodução e repetição do conhecimento trabalhado em sala de aula. Quais são as razões que levam as escolas a se aproximarem de um mesmo ritual, cujo espaço e tempo estão definidos, e com os mesmos modelos de atividades para casa? Será que as escolas estão em consonância teórico-metodológica? Essa semelhança está ocorrendo em razão da prática pedagógica e do processo ensino-aprendizagem estarem fundamentados em uma mesma concepção de educação, escola, conhecimento escolar, formação do aluno? Ou, essas atividades passaram a ser atividades que caíram no ritual da escola, exatamente, pela concepção de ensino-aprendizagem estar fundada no ideário da reprodução? Consideramos que diante da grande valorização dessa atividade indagamos: essa valorização não deveria estar articulada a uma prática pedagógica reflexiva (VEIGA, 1989) e crítica dentro do processo ensino-aprendizagem, no qual as professoras pudessem instrumentalizar seus alunos por meio do movimento continuidade-ruptura? (SNYDERS, 2001).

Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Tarefa de casa; Prática Pedagógica; Formação de professores.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006