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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 5. Psicologia da Saúde

CONCEPÇÕES SOBRE LOUCURA PARA OS PROFISSIONAIS DA SAÚDE MENTAL QUE ATUAM NA ENFERMARIA PSIQUIÁTRICA: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO

Valéria Rezende Silva 1
Hugne Eduardo Naves Pereira 1
Fernanda Alves de Araújo 1
Maria Lúcia Castilho Romera 1
Patrícia Helena Figueiredo do Vale Capucho 1
(1. Instituto de Psicologia da Universidade Federal de Uberlândia/UFU)
INTRODUÇÃO:
As concepções sobre loucura são muitas, variando de acordo com as diversas mentalidades construídas em um período histórico, ou seja, ela é antes de tudo histórica. Desde a Grécia antiga até os dias atuais a loucura já foi (e pode ser ainda) considerada como desrazão, manifestação de natureza demoníaca, uma forma de saber, uma criação cultural, uma má vontade, um erro ético, uma questão moral, uma forma inumana de ser, “doença”, doença mental. A forma de se lidar com a loucura é determinada pela concepção que se tem da mesma. O presente trabalho foi elaborado a partir de um anteprojeto desenvolvido na disciplina de Psicopatologia Geral 2, do curso de Psicologia da Universidade Federal de Uberlândia. Investigaram-se as concepções de loucura dos profissionais da saúde que trabalham na Enfermaria Psiquiátrica da mesma universidade (UFU). Trata-se de pesquisa qualitativa no formato de relatos orais ou depoimentos. O objetivo foi analisar as concepções de loucura entre os profissionais da saúde mental em uma instituição, bem como questões referentes à: formação/atuação profissional, relações profissionais, teoria e prática, estrutura da enfermaria psiquiátrica, tratamento, internação e instituição.
METODOLOGIA:
A amostra constituiu-se de um representante de cada área profissional, que trabalha na instituição e tem formação de nível superior: um psiquiatra, um psicólogo e um enfermeiro. A construção de dados foi realizada através de uma entrevista semi-estruturada, cujo roteiro foi elaborado pela professora da disciplina e pelos realizadores deste trabalho. As entrevistas foram gravadas digitalmente e realizadas em locais e horários determinados pelos próprios entrevistados. As análises, qualitativas, foram feitas de acordo com o tema do estudo e os novos aspectos que surgiram para ampliar a investigação.
RESULTADOS:
Os resultados indicaram que as concepções de loucura e as formas a ela concebidas variam de acordo com a visão de cada profissional entrevistado: pelo psicólogo, como estado de alteração da mente; como parte do ser humano; doença, passível de um tratamento médico, não tem cura, precisa ser medicada, controlada; pelo enfermeiro, como anormalidade, comportamentos inadequados à sociedade; pelo psiquiatra, como perda da razão; delírios e alucinações; rebaixamento da crítica; incapacidade momentânea de percepção das vivências próprias e do mundo. As relações entre profissionais são vistas de forma satisfatória. A equipe de profissionais segue o modelo médico, e a figura central é o médico psiquiatra. Os entrevistados relataram um distanciamento entre a formação teórico-acadêmica e a prática. A questão dos estigmas e preconceitos quanto à loucura, à doença mental e à enfermaria psiquiátrica (internação) foi levantada por todos os entrevistados, e observaram que as visões preconceituosas e os estigmas devem ser quebrados pela instituição, pelos profissionais e pela sociedade. Há uma crítica quanto ao tratamento recebido pelos pacientes da enfermaria psiquiátrica, que segue predominantemente o tratamento medicamentoso. A instituição psiquiátrica tende, em sua organização total, à alienação e à segregação do doente mental.
CONCLUSÕES:

A partir dos resultados conclui-se que a enfermaria psiquiátrica é vista como um espaço ainda fechado, dominado pelo modelo médico, focada no problema da saúde mental em si, porém, está sofrendo transformações em sua estrutura física, na equipe, no tratamento e na instituição. Surpreendeu-se com a constatação - a partir do discurso “enfermaria... está sofrendo transformação - de que toda transformação implica sofrimento e é carregada de idiossincrasias. Reconhece-se a importância do tratamento medicamentoso das patologias, mas outras abordagens deveriam ser englobadas, como a psicoterapia, o trabalho com os familiares do paciente no contexto social, mais programas extra-hospitalares. Assim, a loucura precisaria desarticular-se da ordem médica de forma totalizante para resgatar a articulação com as vicissitudes das humanidades. Percebe-se também que o tratamento deveria ser centrado no trabalho em equipe, de caráter interdisciplinar, e não na figura do médico. Isso ainda não acontece de forma satisfatória na prática. O estudo atingiu seus objetivos na medida em que pôde apreender no discurso dos profissionais a visão subjacente que os mesmos carregam sobre a doença mental - loucura e sua complexidade. O trabalho conseguiu verificar os objetivos e questões determinadas anteriormente e durante a sua realização.

 

Instituição de fomento: Universidade Federal de Uberlândia/UFU
 
Palavras-chave: loucura; enfermaria psiquiátrica; profissionais da saúde mental.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006