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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 5. Psicologia da Saúde

A INCIDÊNCIA DA SÍNDROME DE BURNOUT EM PROFISSIONAIS DA ÁREA DE ENFERMAGEM

Vanessa Bertoldi Boff  1
Gisele Chinowski Bernardi 1
Fabio Bruno de Souza Saraiva 1
Monica Alice Mattiello Carolo Cogo 1
Clarissa Giuliani Scherer 1
(1. Curso de Psicologia, Faculdade Assis Gurgacz)
INTRODUÇÃO:

Os profissionais da área de enfermagem estão expostos diariamente a doenças e a morte. Desafios estes que exigem, além do conhecimento de uma série de técnicas e habilidades, preparo emocional para lidar com o sofrimento, a tristeza e a tensão decorrentes. Diante de tais circunstâncias, os profissionais da área de enfermagem se encontram em risco de desenvolver a síndrome de burnout. Os sintomas que caracterizam esta síndrome refletem problemas no desempenho profissional devido a dificuldades nas relações interpessoais, bem como exaustão física e emocional. No trabalho dos profissionais da área da saúde, sejam enfermeiros, fisioterapeutas, médicos, psicólogos ou psiquiatras, a incidência da síndrome de burnout é mais evidente devido à peculiaridade de suas ocupações. São atividades que têm como principal função ajudar, curar, recuperar, promover a satisfação do indivíduo no sentido de aliviar a dor, o trauma, o sofrimento. Nesse contexto, o presente trabalho teve como objetivo - investigar a incidência da síndrome de burnout em profissionais da área de enfermagem em um hospital que atende a rede pública e privada da cidade de Cascavel - PR. Quando se faz uma análise tendo o indivíduo como foco, as condições de trabalho em que ele está inserido também estarão sendo analisadas. Assim é possível verificar a influência das questões organizacionais para o bem-estar dos trabalhadores.

METODOLOGIA:

Participaram da pesquisa 46 (quarenta e seis) profissionais da área de enfermagem, que atuavam no Hospital Policlínica de Cascavel-PR. Foi utilizado um questionário para caracterização do perfil amostra, com questoes de dados sócio-profissionais; e o Maslach Burnout Inventory (MBI), traduzido e validado no Brasil por Maslach e Jackson, 1986 para avaliar a incidência da síndrome de Burnout através dos sintomas apresentados. Três aspectos básicos caracterizam a síndrome de burnout: A exaustão emocional (EE), que ocorre quando o indivíduo percebe que não possui mais condições de despender a energia que o seu trabalho requer. Despersonalização (DE), apresenta-se como uma maneira do profissional se defender da carga emocional derivada do contato direto com o outro. Reduzida realização profissional (RP), ocorre na sensação de insatisfação que a pessoa passa a ter com ela própria e com a execução de seus trabalhos. Os procedimentos adotados para a coleta de dados prezaram pela integridade dos participantes e a disponibilidade para participar das atividades previstas, priorizando também o anonimato e o caráter confidencial das respostas contidas nos questionários respondidos. Todos os cuidados tomados para com os procedimentos adotados durante as etapas de realização da pesquisa tiveram por finalidade respeitar as normas éticas e, dessa forma, justificaram a aprovação do projeto pela avaliação da Comissão de Ética formada pelo colegiado do curso de Psicologia da FAG.

RESULTADOS:

A partir dos dados obtidos com os instrumentos utilizados, constatou-se como predominante o sexo feminino entre os profissionais da área de enfermagem, com um percentual de 93,5%. A maioria dos profissionais apresenta idade igual ou inferior a 30 anos, representado por 61%; sendo 48% casados, 33% solteiros e o restante dividido entre os separados e os que vivem juntos. Verificou-se também que 45% dos profissionais tiraram suas últimas férias entre seis meses e um ano, 40% tiraram suas últimas ferias há mais de um ano e 15% a menos de seis meses. Quanto ao fator que refere-se a atividade profissional, 60% não acredita que a sua atividade profissional interfere em sua vida pessoal e 40% acredita que sim. A maioria desses profissionais, representada por 70%, trabalha em dois turnos. O MBI traz como princípio para diagnóstico do burnout a obtenção de classificação alta para EE e DE e classificação baixa para rRP (Benevides – Pereira, 2002). Os resultados obtidos com os participantes da pesquisa indicaram médio nível de despersonalização, baixa exaustão emocional e baixa realização profissional, conforme parâmetros traçados na validação do MBI no Brasil. Com tais índices é possível afirmar que não há incidência significativa de sintomas de burnout neste grupo. No entanto, devido à baixa realização profissional e à média despersonalização, é importante alertar que existe risco desse quadro se reverter.

CONCLUSÕES:

O estudo realizado com os profissionais da área de enfermagem destaca que esta é uma profissão predominantemente feminina e jovem (com até 30 anos). A maioria dos profissionais teve férias no prazo de, no máximo, um ano e trabalha em dois turnos. Muito embora esses profissionais apresentam-se realizados profissionalmente, encontram-se em exaustão profissional e já é possível constatar, devido a média despersonalização, sintomas que indicam aversão em relação ao paciente. Contudo, esses não são aspectos suficientes para caracterizar a síndrome. Conclui-se que diante do risco eminente da incidência da síndroma de burnout no profissional da área de enfermagem investigados, é possível sugerir que os participantes não consideram suas atividades profissionais e as condições do ambiente em que trabalham como aversivas, a ponto de afetar sua vida profissional e pessoal. Além disso, a maioria tinha usufruído de suas férias há pouco tempo, num período médio de um ano e não fazia horas-extras com freqüência. Certamente com boas condições de trabalho, os profissionais não estão tão expostos à incidência do burnout.

 
Palavras-chave: burnout; saúde; enfermagem.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006