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F. Ciências Sociais Aplicadas - 2. Economia - 5. Economia Internacional
O PAPEL DOS HEDGE FUNDS NA DINÂMICA FINANCEIRA INTERNACIONAL
Fabiano Lourenço Crespilho 1
(1. Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas / IE-Unicamp)
INTRODUÇÃO:

A pesquisa objetiva estudar o papel desempenhado pelos hedge funds no sistema financeiro internacional. A este estudo contribuem: (i) a análise do processo de liberalização e desregulamentação dos mercados de capitais que caracteriza o sistema financeiro internacional contemporâneo; (ii) o levantamento da seqüência de crises financeiras, das décadas de 1980 e 1990, até a primeira metade da primeira década do século XXI; (iii) o exame mais detalhado do comportamento dos hedge funds e a identificação das estratégias de alocação de recursos de seus gestores; (iv) a discussão sobre as possibilidades de elevação do risco sistêmico associadas às estratégias de gestão de ativos dos hedge funds; e, finalmente, (v) a compreensão das atuais discussões sobre controle e regulação dos hedge funds e dos mercados de derivativos.

Os hedge funds movem uma pequena parcela do capital financeiro mundial, porém, recentemente, passou-se a atribuir a estes agentes a capacidade de ampliação do “risco sistêmico”, isto é, diz-se que estes agentes podem produzir distúrbios no sistema financeiro capazes de se multiplicarem mundialmente, dada a vulnerabilidade sistêmica da configuração do sistema financeiro internacional. Ademais, estes fundos operam como sinalizadores dos principais movimentos dos mercados de capitais, que se valem dos grandes volumes movidos pelos demais investidores institucionais (fundos de pensão, fundos mútuos, etc), bancos transnacionais e os grandes grupos empresariais.

METODOLOGIA:

Esta investigação trabalha com um corpus composto de textos acadêmicos de analistas e teóricos econômicos; documentos, tais como relatórios financeiros de instituições internacionais relevantes como FMI (Fundo Monetário Internacional) e BIS (Banco para Compensação Internacional) e relatórios governamentais. Estes dados foram analisados de forma qualitativa e quantitativamente (por meio de cálculos estatísticos e gráficos), de forma a inferir o grau de influência da atuação dos hedge funds sobre o funcionamento dos mercados de capitais contemporâneos. O material pesquisado e analisado é bastante amplo, polêmico e atual, principalmente no que diz respeito à relação entre o sistema financeiro internacional e os hedge funds. Por esta razão, o levantamento bibliográfico e a leitura comparativa entre os textos, apesar de se basear nas visões dos autores e dados que de antemão fundamentaram a elaboração do projeto de pesquisa, é extensa e, desta forma, de destacada importância para os resultados da pesquisa.

RESULTADOS:

Os estudos indicaram uma relação entre as estratégias de gestão dos hedge funds e a elevação da instabilidade e do risco sistêmico. Levando-se em conta as duas principais dimensões que ameaçam o sistema financeiro, destaca-se que estes investidores se inserem: (i) como indicadores de tendência e desencadeadores de comportamento de manada, ao ter suas estratégias por vezes mimetizadas pelos demais agentes financeiros; e/ou (ii) como potenciais desencadeadores de crises de pagamento associadas ao risco de falhas de estratégias altamente alavancadas. Deste modo, os hedge funds podem desestabilizar os mercados de capitais tanto: (i) ao conduzir, por meio do mimetismo e comportamento de manada, grandes movimentos especulativos contra moedas, commodities e demais ativos; como (ii) ao falhar, nas suas estratégias de gestão, por comprometer o capital de seus credores - além do capital dos agentes que copiaram suas estratégias.

A pesquisa possibilitou, ademais, compreender algumas das causas da vulnerabilidade do sistema financeiro internacional, haja vista: (i) o crescimento dos casos de bancos e investidores institucionais que, na busca de maiores lucros, copiaram as estratégias e inovações introduzidas pelos hedge funds; (ii) o rápido aumento do montante de ativos gerenciados por estes fundos, que em 2004, ao se aproximar do estoque de US$ 1 trilhão em ativos, cresceu aproximadamente 20%; e (iii) a multiplicação dos casos de direções de hedge funds por bancos.

CONCLUSÕES:

Crescente parte da riqueza privada está sendo alocada em ativos mobiliários, migrando da esfera produtiva para a financeira sob a mediação das estratégias de curto prazo dos gestores dos fundos de investimento, fundos de pensão, bancos e demais agentes financeiros. As decisões de investimento em atividades produtivas e políticas sociais tornaram-se condicionadas à atração de influxos de capitais diante das expectativas voláteis das diversas variáveis financeiras.

É neste palco que os hedge funds surgem, ampliando o risco sistêmico e a instabilidade do hipertrofiado sistema financeiro internacional, como se demonstrou com os resultados parciais da pesquisa. Os países capitalistas da América Latina e Caribe durante a década de 1990 e os países emergentes da Ásia, em princípios da década de 2000, aparentemente convergiram à dependência estrutural dos influxos de capitais voláteis para o financiamento de seus esforços de crescimento.

Por outro lado, apesar da aparente uniformização de caminhos para o desenvolvimento, crescente número de países, incluindo alguns latino-americanos, estão desenvolvendo alternativas ao sistema financeiro internacional. Os anúncios de uma crise sistêmica já estão presentes até mesmo nos textos dos mais tradicionais defensores deste sistema, tais como Dani Rodrick, Joseph Stiglitz e Paul Krugman. Desta forma, a próxima etapa da pesquisa procurará explicitar e confirmar a viabilidade destas alternativas ao atual sistema financeiro internacional.

Instituição de fomento: PIBIC/CNPq
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Hedge Funds; Mercados de Capitais; Risco Sistêmico.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006