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G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 2. Geografia Regional

AGRICULTURA FAMILIAR E SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL: UM ESTUDO DE CASO

Mario Zasso Marin 1
(1. Centro de Filosofia e Ciências Humanas / Pós-Graduação em Geografia / UFSC)
INTRODUÇÃO:

A principal proposta deste trabalho é analisar as implicações que a modernização da agricultura trouxe para a agricultura familiar e fazer a análise de uma dimensão do desenvolvimento sustentável, que é a sustentabilidade ambiental. Priorizou-se a problemática das condições da agricultura familiar, e os aspectos correlacionados com a conservação dos recursos naturais.

Através do resgate da importância da agricultura familiar e da necessidade de se alcançar a sustentabilidade ambiental, procurou-se contribuir com o desenvolvimento de um município caracterizado pela agricultura de base, essencialmente familiar. Partindo-se da hipótese de que os diferentes tipos de agricultores atuam de formas bastante distintas na organização de seu espaço produtivo, buscou-se avaliar o impacto de cada forma de exploração deste espaço.

METODOLOGIA:

O estudo baseia-se na “Análise-diagnósticos dos Sistemas Agrários”, onde o espaço é estratificado em pequenas porções homogêneas que permitem planejar ações apropriadas. Ao concluir o zoneamento agroecológico através de fatores “quantitativos” identificados através da sobreposição de mapas e fatores “qualitativos”, oriundos do estudo das diferenciações dos agricultores do município, pôde-se delimitar as áreas homogêneas do ponto de vista sócio-econômico e ambiental.

Para discutir a sustentabilidade ambiental em cada zona agroecológica buscou-se a proposta sugerida por D'AGOSTINI e SCHLINDWEIN (1998) em avaliar um agroecossistema através da comparação do custo entrópico em cada critério de manejo (manejo conservacionista, edafo-econômico e operacional). Custo entrópico do processo produtivo é “a demanda energética de um processo produtivo em estruturas dissipativas que não se pode converter no produto desejado”. (1998, p. 57).

O custo entrópico é a razão entre o somatório do custo de cada modalidade analisada nos componentes de manejo considerados e o número de modalidades verificadas. A partir da média calculada pelos dados levantados a campo, o correspondente custo entrópico se situa entre 1,0 (mínimo) e 5,0 (máximo). A amplitude de variação do custo entrópico é, portanto, 4,0 unidades. De 1,1 a 2,3 define o grupo de custo entrópico reduzido; o terço médio 2,4 a 3,7 define o grupo de custo entrópico médio; e o terço superior > 3,8 define o grupo de custo entrópico elevado.

RESULTADOS:

Os terrenos favoráveis à mecanização determinaram às unidades de produção situadas no Planalto sul-rio-grandense (zonas 3 e 4, Planalto, agricultura e pecuária modernizadas), a diferenciação sócio-econômica em relação aos demais agricultores das zonas 1 e 2 (terrenos planos a ondulados).

As decisões ligadas ao futuro das unidades de produção estão relacionadas ao manejo operacional das atividades, onde os agricultores procuram incorporar determinadas tecnologias (mecanização, insumação ou ambos), a fim de diminuírem o tempo de trabalho. Deste modo, reduz-se a importância concebida aos manejos conservacionistas e edafo-econômicos.

Pode-se mencionar que, atividades como o cultivo da soja (zonas 3 e 4) e do fumo (zona 2), principalmente, estão inseridas num contexto de dependência de um padrão tecnológico que tende a aumentar o custo entrópico, ameaçando a sustentabilidade a longo prazo. Ao contrário, constatou-se que atividades como a pecuária de corte e leiteira e o cultivo do arroz, tem sido capazes de absorver tecnologias que auxiliam na manutenção da capacidade produtiva do agroecossistema, principalmente pela adaptação aos terrenos em que são cultivados.

CONCLUSÕES:

A modernização da agricultura brasileira provocou mudanças substanciais no espaço rural, sendo que este espaço passou a interligar-se com esferas socioeconômicas mais amplas, inserindo-se ao capitalismo controlado pelo setor urbano industrial. Pela necessidade de se gerar divisas através da agricultura, priorizou-se o agronegócio, buscando exportar produtos que permitiriam gerar capital a ser investido na industrialização. Neste processo a agricultura de base familiar não foi alvo de políticas públicas. Mesmo assim a agricultura familiar não se apresenta como residual, em transição ou em vias de extinção. Através da organização em cooperativas, sindicatos, associação de agricultores e outras estratégias o agricultor familiar vem mantendo seu espaço no meio rural brasileiro.

A modernização da agricultura alterou profundamente o rural brasileiro. Apesar dos aumentos produtivos, o meio social, econômico e natural sofreu profundas transformações. Há necessidade de se pensar no rural visando à incorporação dos excluídos da modernização, na realização de uma política de desenvolvimento agrícola baseada em interesses endógenos, pautados na viabilidade econômica, no socialmente justo e no ecologicamente correto. Este ensaio procurou discutir apenas brevemente tais processos. O debate ainda é intenso e longo mas, indiscutivelmente, há necessidade de ser feito.

Instituição de fomento: Cnpq
 
Palavras-chave: Agricultura Familiar; Sustentabilidade Ambiental; Custo Entrópico.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006