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H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 6. Literatura

O IMAGINÁRIO DO FEMININO NA LITERATURA INFANTO-JUVENIL CONTEMPORÂNEA (RE)ESCRITA POR MULHERES

Julyanna de Sousa Barbosa 1
(1. Universidade Estadual da Paraíba/UEPB)
INTRODUÇÃO:

Esta pesquisa tem como objeto de estudo o imaginário do Feminino[1] nas produções contemporâneas femininas, objetivando interpretar o simbolismo arquetípico de que se revestem todos os elementos da narrativa e comparar com os contos de fada clássicos a fim de comprovar se os contos contemporâneos conservam os mesmos elementos míticos, simbólicos e arquetípicos e o mesmo sentido dos contos tradicionais. A literatura infanto-juvenil tem uma aplicação ideal para cada etapa existencial humana e um material cultural consciente menos específico que espelha as estruturas básicas da psique em que se manifestam os arquétipos em sua forma concisa e plena. Há outras motivações internas e coletivas latentes no plano da linguagem, refletidas nas imagens textuais bastante familiares nos contos clássicos que conotam o elo do feminino com sua natureza arquetípica. Deste modo, questionamos até que ponto essa literatura contemporânea escrita e/ou reescrita por mulheres representa a natureza profunda do feminino, como se configuram as heroínas dessas narrativas e se são um novo modelo de mulher. Para tentar responder estas questões nos apoiamos nas teorias propostas por Gilbert Durand (1997), em As estruturas antropológicas do imaginário, em cuja obra ele demonstra o significado simbólico de certas imagens do feminino dentro de um regime noturno de imagem, e por Erich Neumann (1996) que em A Grande Mãe mapeia a constituição feminina do inconsciente e sua projeção nas imagens artísticas.



[1] O termo “Feminino” grafado com letra maiúscula refere-se a arquétipo.

METODOLOGIA:
Esta é uma pesquisa qualitativa, de natureza fenomenológica, que se apóia em estudo bibliográfico. Fizemos a revisão dos suportes teórico-metodológicos e a leitura das narrativas literárias, bem como a análise, interpretação e comparação dessas narrativas subsidiadas pelo regime noturno de imagem, proposto por Durand (1997) e o arquétipo do Feminino, por Neumann (1996). Na parte de coleta de dados foram analisados os contos A fada que tinha idéias, A bolsa amarela, História meio ao contrário, Para onde vão os dias que passam, Longe como o meu querer, Melusina e A caixa de Pandora e seguimos os seguintes procedimentos de análise: coleta e classificação de  todas as imagens que representam abismo,  morte, perigo; de espaços simbólicos de realeza, do sagrado, da natureza; de personagens simbólicos humanos, inumanos e sobre-humanos; de objetos simbólicos e elementos da natureza; de  arquétipos parentais, suas funções e ações; de  dimensões arquetípicas do ciclo vital e, por fim, a coleta de papéis arquetípicos. Em seguida, foi analisado o significado destes elementos dentro dos contos e interpretado o sentido que adquirem de acordo com a teoria. Mais adiante, foram comparados os mesmos elementos simbólicos classificados nos seguintes contos de fada clássicos: Branca de Neve, A Bela Adormecida, Rapunzel, Cinderela, A Bela e a Fera, Eros e Psique e Pele de Asno. Por fim, redigimos um texto com o resultado desta análise.
RESULTADOS:

Percebemos que, apesar das mudanças na forma de apresentação e no conteúdo representado nos contos contemporâneos, apesar de as heroínas demonstrarem comportamento diferenciado, os textos conservam intactas formas tradicionais de representação do maravilhoso e do fantástico, através de imagens ricas de significado mítico, simbólico e arquetípico, das quais citamos, dentre outras, as personagens simbólicas de reis, rainhas, príncipes e princesas, por exemplo; de arquétipos parentais, como pai e mãe bondosos e terríveis, irmãs, madrastas; elementos simbólicos da natureza, como lua, estrelas, neves, pedras, fogo; espaços simbólicos comuns entre os contos, como aldeias, castelos, cabanas, florestas, cavernas, dentre outros.

CONCLUSÕES:

Comprovamos que os elementos míticos, simbólicos e arquetípicos evidenciados nos contos contemporâneos escritos e/ou reescritos por mulheres são os mesmos criados pelo imaginário coletivo que embasaram os antigos contos populares e as lendas em muitas culturas, a exemplo, dentre outros, da história de Melusina, dama dos mil prodígios, em cujo conto contemporâneo evidenciamos a aproximação que há com o mito de Eros e Psique.  Além dos elementos míticos e arquetípicos presentes nos contos em questão, estes e tantos outros apresentam também uma significativa simbologia das quais podemos citar a do mar, a do fogo, da águia, do bosque, da lua, das estrelas, comuns aos contos e com um significado próprio dentro de cada um. Dentre os símbolos que se destacam em Eros e Psique, a “caixa” é um deles. Tomada pela curiosidade, Psique a abre e cai num sono profundo, sendo mais tarde salva pelo amado (esse mesmo ocorrido dá-se na história da Bela adormecida que é despertada pelo príncipe após dormir um longo e profundo sono). Esta história mais uma vez é comparada, agora a um outro conto, A caixa de Pandora, em que o mesmo elemento não pode ser aberto. Os episódios citados traduzem a natureza profunda da mulher e são representados por heroínas que desafiam seus papéis e revelam verdades que a sociedade reprime ou ignora. Até aqui concluímos que as histórias mudam e se diversificam, mas os elementos que compõem o seu repertório permanecem os mesmos em todas elas.

Instituição de fomento: Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica - PIBIC/CNPq/UEPB.
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: mitos; símbolos; arquétipos.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006