A SBPC foi criada em 1948 com a principal finalidade de promover o desenvolvimento da ciência no país. Desde os primeiros anos de sua criação, a SBPC desempenha papel preponderante na comunicação da ciência através da realização das reuniões anuais da Sociedade em âmbito nacional. Nesse evento são apresentadas comunicações de trabalhos de pesquisa em andamento ou recém concluídos nas diversas áreas da ciência. A necessidade de sistematizar as comunicações por tema de pesquisa, para a apresentação pública no evento e para a indexação dos resumos nos anais, levou à criação de uma classificação por áreas do conhecimento. O surgimento de novas áreas de pesquisa e o desmembramento das áreas já consolidadas em subáreas no tempo faz com que a classificação sofra ajustes no sentido de melhor acompanhar, para fins e ordenação e representação, o desenvolvimento das áreas da ciência no país. O objetivo do presente trabalho é identificar as mudanças ocorridas na estrutura da classificação no tempo e as questões de natureza conceitual concernentes à alocação das áreas do conhecimento, nas agregações por grandes áreas e nas especificações de subáreas, visando obter subsídios para futuras atualizações ou re-estruturação da classificação. O acompanhamento da classificação por um período de cinqüenta anos apresenta contribuições relevantes para a indexação e recuperação da informação especializada em ciência no país

A coleta de dados foi feita nos veículos da SBPC para divulgação das comunicações apresentadas às reuniões anuais: a Revista Ciência e Cultura e os fascículos publicados em separado dos Resumos das Comunicações. O levantamento de dados compreendeu o período 1956 a 2006. A busca nessas fontes foi feita ano a ano para a identificação das respectivas versões de classificação no período estudado. Como a classificação não se apresentava completa em cada ano base, comparações tiveram que ser feitas também ano a ano para permitir as respectivas complementações para análise. Este procedimento permitiu a identificação dos marcos de mudança mais significativos da classificação no tempo. Para suprir a necessidade de uma única base referencial para o tratamento dos dados coletados de todo o período analisado, foi feita uma classificação por cor para identificar as áreas e subáreas, no nível das grandes áreas em todas as versões da classificação. Como parâmetro de referência foi selecionada a estrutura do ano de 2001, que apresentou o menor número de grandes áreas para a agregação das áreas. Este procedimento permitiu a identificação das alterações mais representativas de ordenação das áreas do conhecimento, ocorridas no tempo, nos níveis hierárquicos de super-ordenação em grandes áreas e de sub-ordenação em subáreas. Os principais elementos de análise foram: a estrutura da classificação e as questões conceituais decorrentes da alocação das áreas nas respectivas grandes áreas.

Os anos de 1976, 1984, 2001 e 2003 foram identificados como quatro momentos marcantes de mudanças na estrutura da classificação no período estudado. De 1956 até 1975, havia uma enumeração de vinte e cinco áreas do conhecimento, sem agregação hierárquica em grandes áreas. No período de 1976 a 2005, ocorre o agrupamento das áreas em estruturas hierárquicas, correspondendo ao mínimo de três grandes áreas no ano de 2001 e ao máximo de oito grandes áreas em 2005. As grandes áreas de 2005 passam a ser as mesmas da tabela de áreas do conhecimento do CNPq em vigor na mesma data. As Ciências Aplicadas e as Ciências do Meio Ambiente aparecem e desaparecem como grandes áreas no período estudado. As Ciências Aplicadas aparecem como grande área no período 1976 a 2000, compreendendo áreas oriundas das Ciências Exatas e Tecnológicas, das Ciências Biológicas e da Saúde e das Ciências Humanas e Sociais. A grande área Ciências do Meio Ambiente aparece apenas no período de 1976 a 1994. Na ordenação das seções aparece intercalada na seqüência das grandes áreas das Ciências Exatas e Tecnológicas. Em 2005, a grande área Ciências do Meio Ambiente, compreendendo as áreas Ecologia e Poluição Ambiental, deixa de ser representada como tal e a Ecologia aparece como área das Ciências Biológicas. A notação das seções da classificação no tempo é representada por letras, por números e por letras e números. Algumas áreas mudaram de grandes áreas no período estudado.

As áreas do conhecimento na classificação das seções de comunicações às reuniões anuais da SBPC no tempo sofreram mudanças na seqüência de ordenação, nas denominações e em número. As diferenças de denominação das grandes áreas evidenciam que ainda não existe um consenso terminológico, indicando a necessidade de um questionamento contemporâneo neste sentido. A constatação em 2006 das mesmas grandes áreas da tabela em vigor no CNPq indica que este número e as denominações parecem ser ainda aceitas como válidas pela comunidade. A inclusão e posterior exclusão no tempo das Ciências do Meio Ambiente e Ciências Aplicadas como grandes áreas merecem atenção em reestruturações ou atualizações futuras de uma classificação das ciências para o país. Do ponto de vista conceitual, algumas áreas também merecem especial atenção por terem tido enquadramento em diferentes grandes áreas no tempo, o que mostra indícios de interdisciplinaridade. Até o momento, a classificação das seções de comunicações apresentadas às reuniões anuais da SBPC seguiu uma estrutura hierárquica em até três níveis representando grandes áreas, áreas e subáreas da Ciência numa ótica disciplinar. Com vistas a uma maior flexibilidade e especificidade na recuperação da informação especializada no contexto da comunicação em ciência, talvez esteja próximo o momento de ser semeada a interdisciplinaridade na classificação das seções de comunicações apresentadas às reuniões anuais da SBPC.

Instituição de fomento: CNPq