Muitos modelos cognitivos consideram que o processo de focalização atentiva é baseado no espaço. Nesta concepção, o foco da atenção é metaforicamente comparado, ou a um holofote com dimensão relativamente constante, que se desloca pelas posições ocupadas pelos objetos no campo visual (Posner, Snyder, & Davidson, 1980), ou ao zoom de uma poderosa lente de aumento (Eriksen & Yeh, 1985; Eriksen & St. James, 1986) com a capacidade de ajustar o seu tamanho a uma área específica no campo visual. Nos dois modelos a capacidade de processamento da informação é maior no interior da área focalizada do que fora dela. No presente estudo, duas questões foram investigadas: uma possível mobilização dos recursos atentivos por figuras ilusórias de Kanizsa em estágios iniciais do processamento da informação visual, e a temporização deste processo de ajuste atentivo. Estes aspectos foram investigados através de uma tarefa flanker (Eriksen & Eriksen, 1974). Nesta tarefa, os participantes são solicitados a identificar uma letra acompanhada de letras flankers compatíveis ou incompatíveis com a letra alvo. Invariavelmente o desempenho do participante é prejudicado pela apresentação da letra alvo acompanhada por letras flankers incompatíveis (efeito flanker). Neste estudo foi investigado se a presença de um limite ilusório entre a letra alvo e as letras flankers, bem como o tempo de exposição da figura ilusória, pode apresentar uma influência significativa no processo de discriminação da letra alvo.

O experimento foi realizado por nove participantes, de ambos os sexos, sem nenhuma experiência na tarefa, com visão normal ou corrigida. A tarefa do participante era pressionar, o mais rápido possível, a tecla que correspondia à letra alvo determinada (W ou O) sempre apresentada no centro da tela dentro de um retângulo ilusório de Kanizsa (DI). A DI era induzida pela apresentação simultânea de um arranjo de quatro estímulos indutores que produziam a percepção subjetiva de um retângulo ilusório com 1,7° x 0,7° de ângulo visual. A letra alvo sempre era acompanhada por letras flankers compatíveis (ex. O O O) ou incompatíveis (ex. W O W) em arranjos de 3 letras apresentadas com uma orientação horizontal ou vertical. As letras flankers eram apresentadas dentro ou fora da área delimitada pela DI. A DI era apresentada por oito intervalos de exposição (SOA) antes da apresentação do arranjo de letras (50, 100, 150, 200, 250, 500, 750, e 1000ms). Em 50 % das provas as letras flankers (compatíveis e incompatíveis) eram apresentadas fora da DI. No restante das provas todo o arranjo de letras era apresentado dentro da DI. Os estímulos visuais e o registro dos tempos de reação foram realizados pelo programa SuperLab Pro (Cedrus, 2001). Cada participante foi submetido a uma sessão experimental com dois blocos de 640 provas, totalizando 20 provas por condição experimental.