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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 14. Ensino Superior

FORMAÇÃO PEDAGÓGICA PARA O EXERCÍCIO DA DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR: UMA QUESTÃO NECESSÁRIA PARA A ORGANIZAÇÃO CURRICULAR

Neide Arrias Bittencourt 1
(1. Departamento de Metodologia do Ensino/CCE/UFSC)
INTRODUÇÃO:

Ao coordenar o subprojeto de Avaliação de Disciplinas, inserido no Programa Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras (Paiub), de 1993 a 1996, passei a ter contato com os mais variados problemas que permeiam o ensino e a sua condição de órfãos dentro da instituição de ensino superior, inclusive em relação aos seus representantes - os centros acadêmicos, coordenadores de cursos e chefias de departamento.

Quantificando os dados, foi possível perceber que dos vinte e oito cursos avaliados, em vinte cinco apontavam para a “falta” de didática e metodologias diferenciadas nas aulas; ou seja, em 89% dos cursos, o maior problema, na visão dos alunos, era de ordem didático-metodológica.

Este foi um dos fatores que justificaram a criação do projeto de formação pedagógica continuada para professores do curso de Zootecnia, pois havia professores que desejavam mudar, mas lhes faltava respaldo teórico-metodológico, segurança e um mínimo de formação pedagógica para tentá-lo.

Portanto, este estudo teve como objetivo principal ter a sala de aula como centro de excelência, como foco das atenções, como laboratório de pesquisa, visando melhorias para o curso a partir de mudanças concretas na gestão das aulas. Além disso, prestar apoio didático-metodológico aos professores; melhorar a qualidade do curso investindo na melhoria das aulas; proporcionar embasamento teórico para pudessem  discutir e rever o projeto político-pedagógico do curso de Zootecnia.

 

METODOLOGIA:

Para o desenvolvimento da pesquisa de formação pedagógica continuada com 20 professores do curso de Zootecnia, foram realizados quinze encontros de 4 horas-aula cada um, perfazendo 60 horas-aula. Estes encontros foram divididos em momentos de estudos teóricos e de discussão de situações práticas de sala de aula, dos programas das suas respectivas disciplinas e das experiências entre os pares, visando encontrar soluções para problemas vivenciados na sala de aula.

No embasamento teórico utilizado para os encontros buscou-se demonstrar que era possível um clima de sala de aula mais preocupado com o aprender. Isso se faria criando um ambiente onde o professor se tornasse um facilitador, um mediador do processo de aprendizagem, estabelecendo assim outras formas de relacionamento professor-aluno e aluno-aluno, de modo a estabelecer contratos didáticos que propiciassem uma maior participação e responsabilidade do aluno frente ao seu processo de aprendizagem.

 

Destarte, neste estudo o problema foi acompanhar as possíveis mudanças que ocorreriam nas práticas pedagógicas dos professores envolvidos no programa voluntário de formação continuada. Num primeiro momento, por meio de seus próprios depoimentos registrados em diário de bordo, durante os encontros. Em segundo lugar, na comparação destes resultados aos dados quantitativos e qualitativos que apareceram no projeto de avaliação institucional do curso que vem sendo por mim aplicado desde 2000; e, por último, por meio de um questionário final.

RESULTADOS:

Ainda pode ser prematuro afirmar que o curso tenha melhorado, pois o processo avaliativo nunca é de curto prazo; mas foi por isso que colocamos como condição para aceitar o desafio desta formação continuada a retomada, por parte da chefia e coordenadoria do curso, do processo de auto-avaliação do curso, para termos indicadores de possíveis mudanças e para assim fugirmos dos “achismos”. Em 2000, não obteve nenhum escore na categoria ótimo e pontuou apenas com 34% na categoria bom, 65% na categoria Regular e 1% na categoria insatisfatório. Em 2001 a categoria bom subiu para 52% e Regular ficou com 47%. Em 2002,  3% das disciplinas pontuam na categoria Ótimo, 50% na categoria Bom e a categoria Regular recua para 36% e a categoria Bom pontua com  58%. Em relação à docência também aconteceu esta melhora, embora com menos intensidade, pois na disciplina o aluno tende a ser mais impessoal do que quando na avaliação do exercício da docência. Em 2000 o exercício da docência pontuou com 5% na categoria ótimo, 46% na categoria Bom, 38% na categoria Regular e 11% na categoria Insatisfatória.No segundo ano, em 2001, o exercício da docência pontuou com 4% na categoria ótimo, mas a categoria Bom melhorou foi para 54%, a categoria Regular obteve 40% só que a categoria Insatisfatório recuou para 5%. Em 2002, temos 4% na categoria ótimo, 56% na categoria Bom, 30% na categoria Regular e 10% na categoria Insatisfatório. Podemos dizer que uma das metas seria diminuir a pontuação obtida nas categorias Regular e insatisfatória, pois somadas ainda atingem  40% o ideal seria ficarmos abaixo de 30%.

 

 

CONCLUSÕES:

Ao encerrar este relato, gostaria de lembrar que as mudanças positivas que vêm ocorrendo no curso não são frutos exclusivos do curso de formação continuada, mas sim, da soma de várias posturas que o departamento de Zootecnia vem assumindo, entre elas: a retomada da auto-avaliação desde 2000; a ampla socialização e discussão dos seus resultados para os professores e alunos, inclusive disponibilizando-os na Internet; o amadurecimento de professores e alunos neste processo de auto-avaliação; e principalmente, os professores não se eximirem de traçar metas de qualidade para superar os problemas detectados nesta auto-avaliação, o que aumenta a confiabilidade e credibilidade do processo.

A resposta ao programa de formação pedagógica continuada para os professores também foi uma das questões em busca de solução, pois de nada adiantaria identificar índices tão altos de insatisfação com as práticas pedagógicas de seus professores e não se fazer nada. Os responsáveis pelo curso sabiam que havia problemas de ordem metodológica, através das conversas de corredores, reclamações de alunos, da chefia e da coordenação. A implantação da avaliação institucional tornou o problema de domínio público e institucionalizado, e isto exigia soluções; sendo assim, o curso de formação continuada surgiu como uma resposta aos anseios dos alunos e dos professores que desejavam mudanças.

 
Palavras-chave: ensino superior; formação continuada; gestão.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006