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D. Ciências da Saúde - 5. Farmácia - 6. Farmácia
AVALIAÇÃO NA PRESENÇA DE FUNGOS PATOGÊNICOS EM ÁGUAS DE HEMODIÁLISE.
Tatiane Beltramini 1
Aristeu Gomes da Costa 2
Rubens Ferracini Junior 2
(1. Depto. de Biologia - Centro Universitario Barao de Mauá / CBM; 2. Depto. de Farmácia / CBM)
INTRODUÇÃO:

Hemodiálise é a técnica aplicada em pacientes renais crônicos, que resulta em melhoria na qualidade de vida dos que aguardam transplante renal. Pacientes submetidos a este tratamento geralmente estão imunossuprimidos, o que favorece a aquisição de infecções durante este procedimento.A hemodiálise ocorre em um diálisador que contém em seu interior uma membrana através da qual passa o sangue do paciente. Ao entrar em contato com o banho de diálise, o sangue é descontaminado e as impurezas, por osmose, atravessam a membrana para o banho. Este banho é tratado segundo padrões de qualidade definidos na portaria 2042 de novembro de 1996 do Ministério da Saúde (reformulada pela GM/MS nº 82 em 03 de janeiro de 2000). Para ser apropriada, a água da hemodiálise deve estar dentro das normas definidas pela portaria garantindo assim que esta esteja livre de coliformes totais, fecais e bactérias heterotróficas. Quando a água não é adequadamente tratada, os pacientes podem ser contaminados com os mais diversos patógenos (e/ou suas toxinas). Porém, a portaria não faz referência à necessidade de determinação da presença de fungos em águas de diálise. A determinação e enumeração  deste grupo de microrganismos é de suma importância, já que são agentes oportunistas por excelência e os pacientes renais crônicos são portadores de atividade imunológica deficitária. Neste contexto, o presente trabalho tem por objetivo verificar a ocorrência de fungos em várias etapas do processo de diálise.

METODOLOGIA:

Amostras de águas de diálise foram obtidas junto a dois hospitais de grande porte de Ribeirão Preto, num período de sete meses, com três visitas a cada local. Foram coletadas amostras das áreas reservatório pré e pós-dialisador, em volumes de 50ml de água por área em condições assépticas (paramento e coletores plásticos). Cada amostra foi imediatamente conduzida ao laboratório em condições de resfriamento, para determinação: de coliformes totais, bactérias heterotróficas e fungos. Na contagem de coliformes foram utilizados 100ml de caldo peptona inoculados com 2,5 mL de amostra, e incubados por 24h a 35°C para enriquecimento. Após este período, foram inoculadas diluições decimais do caldo enriquecido nos meios de caldo lauril, de caldo verde brilhante e de caldo EC (para contagem de coliformes totais e fecais) e em meio Plate Count Agar (PCA) (para contagem de bactérias heterotróficas), todos incubados por 24 horas a 37ºC. Em paralelo, as amostras foram filtradas em membrana filtrante de 0,45 µm (sistema Millipore), e semeadas em meio de Sabouraud Dextrose Agar (SDA), e incubadas a 30°C. Cada isolado foi avaliado por preparação corada por Azul de Lactofenol Algodão (fungos filamentosos) ou por Gram (leveduras). A identificação de cada isolado ocorreu segundo técnicas convencionais para fungos filamentosos (laminocultivo e colônia-gigante) e para leveduras (auxanograma, zimograma, tubo germinativo, indução de clamidósporos) conforme. BLEVINS, K.; KERN, M. Micologia Médica.

RESULTADOS:

Por questões éticas os nomes das instituições onde as amostras foram obtidas serão omitidos, com referência apenas como instituição 01 ou 02. Amostras coletadas na instituição 01 em junho, julho e setembro apresentaram boa qualidade microbiológica, atestada pela determinação de coliformes. Na mesma instituição, a coleta realizada em março, apresentou acima de 50 colônias de bactérias heterotróficas/mL, acima do permitido. Para as amostras obtidas na instituição 02, boa qualidade microbiológica foi observado em março, junho e setembro. Nos meses de junho e julho, a contagem de coliformes e bactérias heterotróficas foi discretamente elevada. Não se detectou contaminação por fungos em março, abril e maio em ambos as instituições, já nos meses seguintes houve considerável proliferação de fungos leveduriformes e/ou filamentosos considerados oportunistas, como: leveduras do gênero Candida sp; filamentosos toxígenos e/ou oportunistas principalmente dos gêneros Aspergillus (incluindo Aspergillus fumigatus), Penicillium e Fusarium;  agentes de micoses subcutâneas como Fonsecaea compacta; e dermatófitos como Trichophyton sp. Além disso, muitos fungos que compõem microbiota normal humana também foram identificados.

CONCLUSÕES:

Pacientes renais crônicos, independente da condição de base, são indivíduos que podem apresentar alterações orgânicas que propiciam a ocorrência de infecções oportunistas ou secundárias. Seja pela própria patologia, por complicações decorrentes da cronicidade deste estado, ou por fatores iatrogênicos, estes indivíduos freqüentemente são vitimas de infecção por microrganismos de microbiota normal e por fungos. Estes últimos são microrganismos com caráter oportunista por excelência, são produtores de poucos fatores de virulência. Os resultados do presente trabalho mostram um quadro de perigo potencial, pois várias espécies fungicas foram detectadas em amostras das duas instituições pesquisadas. Embora a determinação desses agentes não tenha ocorrido em todas as amostras, a freqüência foi significativa, principalmente por ter ocorrido nos três pontos de análise, sejam reservatório, pré e pós-dialisador. Dentre os gêneros fungicos de maior interesse temos Candida e Aspergillus, os quais incluem espécies já relacionadas a portadores de infecções renais crônicas. Como situação agravante, espécies de maior significado do ponto de vista de patogenicidade neste tipo de situação, foram isoladas. Sugere-se a necessidade de  preconizar também a verificação de fungos em amostras de águas de diálise, melhorando o controle de qualidade, e reduzindo ainda mais o risco de infecção em indivíduos que têm que se submeter á hemodiálise. Os pacientes renais crônicos agradeceriam, com certeza.

Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: hemodiálise; águas; fungos.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006