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C. Ciências Biológicas - 12. Neurociências e Comportamento - 1. Neurociências e Comportamento

EFEITOS DA MORFINA E NALOXONA SOBRE A PREFERÊNCIA DE RATAS LACTANTES: CUIDAR DA PROLE OU CAÇAR INSETOS

Marcia Harumi Sukikara  1
Maíra Duque Platero  1
Newton Sabino Canteras  2
Luciano Freitas Felicio  1
(1. Depto.de Patologia (VPT) - Fac.de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) - USP; 2. Departamento de Anatomia - Faculdade de Ciências Biomédicas (ICB)– USP)
INTRODUÇÃO:

As fêmeas de mamíferos cuidam de seus filhotes durante a lactação. Entretanto, esse comportamento pode ser inibido em algumas situações para favorecer a expressão de outros comportamentos de maior valor adaptativo. Fugir de um predador ou buscar comida pode ser mais importante em um determinado momento que cuidar da prole. Assim, colocando os animais numa situação específica com dois estímulos eficazes e conflitantes presentes, estes animais podem deixar de cuidar de sua prole para predar ou buscar comida em um determinado momento. A estimulação ou bloqueio opioidérgico nessa situação pode ter o potencial de revelar a importância desse sistema na seleção comportamental durante a lactação.

METODOLOGIA:

Foram utilizadas ratas da linhagem Wistar com idade média de 90 dias. Os animais foram acasalados e mantidos em salas com sistema de ventilação (23 ± 2ºC), ciclo de luz de doze horas (0600 às 1800), comida e água à vontade durante todo o período. O parto foi considerado dia zero da lactação. No dia 1, foi realizada a contagem, sexagem e padronização da ninhada para 4 fêmeas e 4 machos. Nos dias 3 e 4 de lactação, as ratas foram habituadas na caixa experimental durante 30 minutos. No dia do teste (5º dia de lactação) as ratas foram colocadas na caixa experimental 1 hora antes do início do teste comportamental. Trinta minutos após, as mães receberam uma injeção com as respectivas drogas: Experimento 1 - animais que receberam sulfato de morfina (3,0 mg/kg, sc.) (grupo 3,0mg/kg, n=9) e grupo controle que receberam solução salina (n=10); Experimento 2 - ratas tratadas com sulfato de morfina (3,0 mg/kg, sc.) (grupo M, n= 16), ratas tratadas com naloxona (1,0 mg/kg, sc.) 3 minutos antes da injeção de morfina (3,0 mg/kg, sc.) (grupo NM, n=16). Para o teste comportamental foram introduzidos na caixa experimental 8 filhotes e cinco baratas (Periplaneta americana). Durante 30 minutos foram observados o comportamento maternal e latências para a captura dos insetos.

RESULTADOS:

Experimento 1- Em relação ao percentual de animais que cuidaram dos filhotes, o teste de Fisher mostrou diferença significante entre o grupo 3,0 mg/kg e o seu controle, sendo que 100% dos animais apresentaram o comportamento no grupo controle enquanto no grupo experimental o percentual foi de 44%. De acordo com o teste de U Mann-Whitney houve diferença significante entre os grupos para as latências em tempo para: segurar o primeiro inseto, comer o primeiro inseto, comer do primeiro ao quinto inseto. Experimento 2- Entre os grupos M e NM o teste de Fisher mostrou diferença estatisticamente significante em relação ao percentual de animais que cuidam dos filhotes, sendo que no grupo MN 100% dos animais apresentaram o comportamento, enquanto que o percentual cai para 44% no grupo M. Ao analisar o agrupamento e grooming nos filhotes antes da mãe caçar o primeiro inseto, o percentual destes parâmetros analisados no grupo NM mostrou-se estatisticamente maior quando comparado ao grupo M. A freqüência do grooming nos filhotes ao longo do experimento também foi maior no grupo NM em relação ao grupo M. De acordo com o teste de U Mann-Whitney houve uma diferença significante quanto ao número de insetos predados por cada rata, o grupo NM capturou menos insetos em relação ao grupo M. A latência para comer o 1º inseto foi maior para o grupo NM em relação ao grupo M.

CONCLUSÕES:

A dose de 3 mg/kg de sulfato de morfina, é capaz de inibir o comportamento maternal quando colocada num contexto mais etológico, no qual lhe é dada a opção de cuidar dos filhotes ou caçar. O estímulo farmacológico opioidérgico facilita o comportamento predatório, pois as latências para a predação foram reduzidas pela naloxona.

Instituição de fomento: FAPESP
 
Palavras-chave: Comportamento maternal; Sulfato de morfina; Comportamento predatório.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006