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D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 1. Epidemiologia
ASPECTOS CLÍNICOS, EPIDEMIOLÓGICOS E LABORATORIAIS DE ALERGIA AO LÁTEX EM USUÁRIOS DE LUVAS DE UNIDADES PÚBLICAS DE SAÚDE EM FLORIANÓPOLIS
Ziliani da Silva Buss 1
Tânia Silvia Fröde 1
(1. Dep. de Pós-Graduação em Farmácia, Universidade Federal de Santa Catarina/UFSC)
INTRODUÇÃO:

O s alérgenos presentes no látex vêm despertando o interesse cada vez maior dos pesquisadores em função das reações de hipersensibilidade que os mesmos vêm causando nos seres humanos. As reações de hipersensibilidade são observadas principalmente nos indivíduos submetidos a várias cirurgias ou expostos freqüentemente a meios diagnósticos ou terapêuticos, ou ainda nos profissionais da saúde, expostos a produtos e materiais derivados do látex . Os resultados da freqüência de sensibilização ao látex, na população em geral, são limitados, mas é estimada em cerca de 6%. Não há estudos epidemiológicos adequados para explicar a prevalência de reações ao látex nesses indivíduos. O risco de alergia ao látex da borracha natural entre os profissionais da saúde parece variar com a freqüência e a intensidade da exposição. É imperativo que numa avaliação imunológica em reação ao látex, os primeiros profissionais a serem investigados, devem ser aqueles que estão em contato freqüente com o látex, como os profissionais da área da saúde. Além disso, se a alergia ao látex for reconhecida enquanto os sintomas estão ausentes ou são leves, é possível que este indivíduo, com pequenas modificações em seu ambiente de trabalho, possa continuar as suas atividades sem maiores problemas. Tendo em vista os fatos acima apresentados, o objetivo geral deste trabalho foi avaliar a freqüência de reações alérgicas ao látex em funcionários de Unidades Públicas de Saúde em Florianópolis.

METODOLOGIA:

Neste estudo a alergia ao látex foi avaliada em funcionários da área da saúde por meio de um questionário específico para doenças alérgicas, testes cutâneos, dosagens séricas de IgE total, IgE específica para o látex e hemograma. Os funcionários foram divididos em dois grupos de estudo: usuários de luvas, que possuem contato freqüente com as luvas de látex, e grupo-controle, funcionários de setores administrativos. A população participantes foi de 140 funcionários usuários de luvas, com média de idade±e.p.m. de 38,8±0,7 anos, e 120 funcionários do grupo controle, e média de idade±e.p.m. de 38,4±0,9 anos. Para avaliar as diferenças estatísticas das variáveis entre os grupos de estudo utilizou-se os Testes de Fisher, Qui2 e teste “T” de Student. Além disso, foi calculado um fator preditivo de alergia ao látex, por meio da análise estatística de regressão logística e desta forma, foi obtido um escore de risco para uma ou várias respostas afirmativas relatadas no questionário. Valores de p<0,05 foram considerados significativos.

RESULTADOS:

Nos questionários foram verificadas diferenças estatísticas entre os grupos de estudo para os sintomas: dermatite de contato n=80(57%), (p<0,01, OR=158,7, LC95%:21,5-1168,8); rash cutâneo nas mãos n=67(52%), (p<0,01, OR=10,0, LC95%:4,8-20,9); asma ou rinite alérgica n=61(43%), (p<0,01, OR=3,4, LC95%:1,9-6,1); sintomas ao encher balão de ar n=61(43%), (p<0,01, OR=8,5, LC95%:4,1-17,6); sintomas respiratórios relacionados ao pó liberado pelas luvas n=49 (35%), (p<0,01, OR=10,2, LC95%:4,1-24,9); alergia a alimentos n=35(25%), (p<0,01, OR=6,3, LC95%:2,5-15,7); alergia às frutas n=32(23%), (p<0,01, OR=11,5, LC 95%:3,4-38,8) e história de múltiplas cirurgias n=32(23%), (p<0,05, OR=2,9, LC 95%:1,4-6,1). A partir de uma análise de regressão logística, foi observado uma associação significativa entre o risco de sintomas de alergia ao látex, incluindo o teste cutâneo positivo e mais de quatro respostas positivas no questionário, para os usuários de luvas (OR= 6,8, LC95%: 0,7–60,3). O teste cutâneo positivo foi observado em 6(4%) dos usuários de luvas (OR=11,6, LC95%: 0,6-209,1). Em relação aos níveis séricos de anticorpos IgE total e específica para o látex e hemograma não foram observadas diferenças estatísticas significativas entre os grupos de estudo (p>0,05).

CONCLUSÕES:
As reações do tipo alérgico ao látex são raras e de freqüência variável dependendo do grupo de estudo, bem como o local de trabalho. A dermatite de contato parece ser o sintoma mais freqüente em indivíduos alérgicos ao látex. Existe uma pequena população de indivíduos alérgicos ao látex que desenvolvem sintomas sistêmicos como asma e/ou rinite. Até o presente momento não existem testes sorológicos 100% específicos e sensíveis que possam confirmar ou não o diagnóstico de alergia ao látex. Os testes cutâneos e um questionário específico são os meios seguros para a identificação de alergia ao látex. A identificação de indivíduos alérgicos ao látex, principalmente aqueles que possuem contato freqüente com este antígeno é importante para prevenir futuras reações alérgicas graves, que podem comprometer a vida deste indivíduo. Medidas profiláticas como, por exemplo, a utilização de material isento de látex, ou o deslocamento do profissional da saúde para outro setor de trabalho, devem ser realizadas. A identificação e o esclarecimento sobre a alergia ao látex são fundamentais para que os profissionais possam exercer suas funções sem oferecer risco a sua saúde.
Instituição de fomento: Pró-Extensão - Universidade Federal de Santa Catarina
 
Palavras-chave: Alergia ao látex; Luvas; Anticorpos IgE.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006