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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação
ENTRE AS RUAS E A ESCOLA: UM ESTUDO ETNOGRÁFICO SOBRE A TRAJETÓRIA DE ALUNOS E ALUNAS EXCLUÍDOS EM SEU RETORNO À ESCOLARIZAÇÃO FORMAL
Cleonice Puggian 2
Carmen Lúcia Guimarães de Mattos 1
(1. Faculdade de Educação, ProPed, Universidade do Estado do Rio de Janeiro / UERJ; 2. Faculty of Education, University of Cambridge)
INTRODUÇÃO:
Neste pôster apresentaremos os resultados do projeto piloto da pesquisa “Entre as ruas e a escola” desenvolvida junto a alunos excluídos do sistema educacional conhecidos como “meninos e meninas de rua” (12 a 17 anos). Esta pesquisa procurou explorar o processo de re-inclusão educacional de jovens, que mesmo marcados por uma trajetória de exclusão social e educacional, decidiram regressar à escola contando com o auxílio de organizações não governamentais (ONG). Esse trabalho justifica-se devido à urgência em buscar alternativas para a educação de alunos que estão fora do sistema educacional e prevenir a exclusão daqueles que estão na escola; justifica-se também por oferecer uma contribuição original para compreensão do processo de desengajamento dos jovens da rua. De acordo com a literatura especializada, são raros os estudos sobre o processo de desengajamento dos jovens das ruas (Visano, 1990; Lucchini, 1998; Bultler & Rizzini, 2003; Beazley, 2003), assim como estudos sobre o seu engajamento em espaços pedagógicos, como aqueles promovidos por organizações não-governamentais e, principalmente, por escolas da rede pública (Leite, 1998; Volpi, 2002).
METODOLOGIA:
A metodologia adotada foi qualitativa, de cunho etnográfico, centrando-se no jovem, na sua cultura e linguagem. Dados foram coletados durante quatro meses (maio a agosto de 2005) através de observação participante, entrevistas e atividades empregando métodos visuais (desenho, fotografia e vídeo) junto a mais de 40 jovens ligados a projetos de duas ONGs da cidade do Rio de Janeiro. Cerca de 20 educadores também foram entrevistados, assim como 8 professores de uma escola municipal que trabalham com jovens engajados nos programas de uma das ONGs. Cinco bolsistas de iniciação científica do curso de pedagogia da UERJ atuaram como assistentes de pesquisa. Dados foram analisados de forma indutiva com base na abordagem conhecida como ‘grounded theory’(Glaser & Strauss, 1967). Utilizamos triangulação de métodos, triangulação temporal e construção dialógica das categorias de análise para assegurar a validade dos dados e dos resultados da pesquisa.
RESULTADOS:
Do ponto de vista metodológico, nosso estudo indicou que o uso de vídeo e fotografia pode facilitar a construção de narrativas que revelem a voz e a perspectiva de jovens em situação de risco. Esses instrumentos, aliados a outros métodos, como observação participante e entrevistas, facilitaram a validação dos dados obtidos através da abordagem etnográfica, enriquecendo as contribuições oferecidas pelo estudo. Nossa investigação também indicou que o retorno dos jovens para a escola - mediado por ONGs - pode ocorrer de forma espontânea (o jovem decide regressar e procura auxílio dos profissionais motivado por um desejo pessoal), ou de forma institucionalizada (o jovem que abandona as ruas, se envolve numa rede institucional sendo matriculado novamente na escola). A matrícula do jovem, entretanto, não garante seu re-engajamento acadêmico. Os dados indicaram que seu re-engajamento, geralmente, está vinculado a uma descoberta pessoal sobre o papel do conhecimento oferecido pela escola.
CONCLUSÕES:
De fato, entre as conclusões do nosso estudo, a mais interessante diz respeito à relação entre o jovem e a escola. Os participantes da pesquisa que regressaram ao ensino formal apontaram sua prontidão para aprendizagem e atenção recebida de educadores e professores como as principais razões para sua permanência na escola. Notamos também que as ONGs estão preechendo uma lacuna deixada pelo poder público, acompanhando os jovens durante seu desengajamento das ruas e re-aproximação com a educação formal. Finalmente, como outros autores já sugeriram (Butler & Rizinni, 2001) a promoção de atividades que previnam a exclusão educacional deve ser encarada como um objetivo concomitante à promoção social e educacional de mais de 30 mil crianças e jovens que vivem nas ruas. Acrescentamos, porém, que tais atividades devem considerar o conhecimento e a voz do educando de forma interdisciplinar. Esperamos dividir com educadores, professores, políticos e também com os participantes da 58a Reunião da SBPC algumas lições aprendidas durante a pesquisa com alunos que, superando a exclusão, retornaram à escola.
Instituição de fomento: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), processo n. BEX2799/04-9.
 
Palavras-chave: pesquisa etnográfica; educação inclusiva; meninos e meninas.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006