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H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 1. Lingüística Aplicada
MÍDIA IMPRESSA E HETEROGENEIDADE: POLÊMICAS DA ATIVIDADE E DA IDENTIDADE NO ESPAÇO DISCURSIVO-ENUNCIATIVO DA AMAZÔNIA LEGAL
Neusa Inês Philippsen 1
Marcos Antonio Moura Vieira 2
(1. Profa., Instituto de Linguagem/Programa de Mestrado em Estudos da Linguagem - MeEl - UFMT; 2. Prof. Dr. / Orientador, Instituto de Linguagem - MeEl - UFMT)
INTRODUÇÃO:

As relações linguagem/trabalho/ideologia verificadas em um recorte de pesquisa na mídia impressa da região norte mato-grossense constituem o objeto deste pôster. A imprensa escrita tem relação direta com fatos sociais e, ao mesmo tempo, apreendem sentidos e os reenviam ao espaço social. Assim, procuramos compreender como se processam os fatos sociais que constroem a participação do mundo do trabalho pela atividade madeireira na região norte mato-grossense. Nossa investigação busca revelar como ocorre o processo de construção do diálogo entre indústria madeireira, movimentos sociais e mídia impressa, concebendo as esferas de atividade das organizações de trabalho como produtoras de sentido. Nosso objetivo, neste pôster, é focalizar como a articulação entre linguagem e trabalho pode ampliar a compreensão da atividade madeireira para além da tarefa econômica restrita, acentuando o caráter de produção de sentido no embate ideológico social.

METODOLOGIA:

Este trabalho filia-se à Lingüística Aplicada às situações de trabalho, para averiguar os enunciados e formações discursivas de diferentes protagonistas dos sentidos da indústria madeireira na região norte mato-grossense. Buscamos desenhar os efeitos de sentido, deslocamentos e polêmicas suscitadas pelas várias “vozes” trazidas pelo enunciador-jornalista. Para tanto, recorremos à Análise Dialógica do Discurso e a Análise da Atividade Profissional. Selecionamos as duas empresas jornalísticas de maior circulação em Sinop (cidade pólo do norte de Mato Grosso): O Capital e o Diário Regional. Realizamos entrevistas e recolhemos materiais referentes ao contexto histórico e à gestão das instituições referidas, bem como dos dois principais sindicatos madeireiros do norte mato-grossense: o Simenorte e o Sindusmad. O material coletado foi organizado nos marcos da autoconfrontação enunciativo-discursiva, o que possibilitou uma análise dialógica das seqüências selecionadas, bem como verificar as interferências que o gênero notícia tem para o (re) dimensionamento e a (re) valorização das relações sociais e do indivíduo nesta comunidade.

RESULTADOS:

Nossa abordagem enunciativo-discursiva, voltada para a representação midiática da esfera de atividade das indústrias madeireiras da Amazônia Legal, demonstrou, por um lado, na palavra autoritária (heterogeneidade mostrada): a hegemonia do discurso da organização extrativista como o representante do projeto coletivo regional; por outro lado, na palavra interiormente persuasiva (heterogeneidade constitutiva), a tendência em ocultar as contradições que apontam para o desencadeamento de uma crise estrutural dessa atividade econômica e social. Neste sentido, percebemos os procedimentos e manifestações na dimensão dialógica pelas marcas lingüísticas expressas na heterogeneidade, especificamente no discurso relatado, que enunciadores-jornalistas mobilizam nos limites da comunidade discursiva ampliada. Desse modo, ao procedermos às análises das marcas discursivas, que apontaram tensões, contradições e restrições, foi possível desvelar posicionamentos ideológicos e ‘vozes’ que se legitimam pelo simulacro do outro. E, ao mesmo tempo, verificar como ocorre o ‘jogo’ da construção da identidade, ligada sempre aos processos de poder e às instituições que nutrem, mantém e (re) definem os processos identitários. Entre as indefinições e as instabilidades verificadas no atual momento econômico da Amazônia Legal encontra-se um trabalhador fragilizado, desorientado, desestimulado e sem nenhuma garantia de emprego dos gestores da atividade, de amparo político e de revitalização dos órgãos ambientais competentes. Tudo isso, aliado à dependência do setor madeireiro aos mercados extra-regionais e a isenção dos responsáveis pela crise, mobiliza sentidos de dúvidas sobre a saída do impasse econômico e da retomada das atividades legais do setor. No entanto, entre as muitas “vozes” que fluem nos textos, depreende-se a sugestão para uma possível reversibilidade do quadro atual, na proposta de investir no manejo sustentável e na agregação de valores.
CONCLUSÕES:

Identificamos e caracterizamos que o setor madeireiro da Amazônia Legal se inscreve numa estrutura mercadológica que lhe dá suporte pelo discurso desenvolvimentista e neoliberal. Após a sistematização científica do material recolhido verifica-se que esta atividade, além de instituir-se como a principal fonte sócio-econômica da região, quer legitimar-se como a responsável pela identidade do trabalhador que habita este espaço. Nesse sentido, os discursos também refletem e refratam a carência de políticas de créditos junto ao setor e de projetos eficientes que possam estimular o crescimento industrial com o aproveitamento máximo da madeira, bem como de alternativas que busquem recursos e tragam progresso para a região. Embora, alguns assuntos tragam sentidos de crise, tais como: desemprego em massa, estagnação econômica, fechamento de empresas madeireiras, redução do poder aquisitivo, enfraquecimento do comércio e diminuição dos serviços prestados, a temática que prevalece é a de tonalidade da palavra autoritária. Estes assuntos são citados para reforçar a necessidade de fortalecer a política da indústria madeireira como a única alternativa ao desenvolvimento sustentável. Entretanto, no espaço da heterogeneidade constitutiva, começa a gestar-se uma palavra interiormente persuasiva, no diálogo entre enunciador-jornalista e comunidade discursiva, que passa a exigir respostas e soluções para a crise aí instaurada.

Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Linguagem; Trabalho; Identidade.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006