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D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 5. Saúde Coletiva
AVALIAÇÃO DO USO DE AUTOMEDICAÇÃO EM PACIENTES QUE FAZEM USO DA TERAPIA ANTI-RETROVIRAL
João Henrique Torquato Oliveira 1
Aurea Regina Telles Pupulin 1
Marcia Paludo 1
Cristiane Maria Colli 1
(1. Depto. de Análises Clínicas Universidade Estadual de Maringá/ UEM)
INTRODUÇÃO:

            A automedicação é um fenômeno bastante discutido na cultura médico-farmacêutica, e tido como especialmente preocupante no Brasil. É uma prática comum, vivenciada por civilizações de todos os tempos, com características peculiares a cada época e a cada região, no Brasil de acordo com a Associação Brasileira das Indústrias Farmacêuticas (ABIFARMA), cerca de 80 milhões de pessoas são adeptas da automedicação, e inseridos nesta parcela encontram-se os pacientes HIV/AIDS.

Os impactos sociais de AIDS são de extrema significância, seja pelo número de casos, letalidades e reflexos econômicos. Nos últimos anos tem-se observados um aumento na compreensão da patogenia da infecção pelo HIV, novos e mais potentes medicamentos foram introduzidos e sua eficácia tem sido responsável pela sobrevivência dos pacientes.

           Embora o uso adequado da terapia anti-retroviral reduza o número de mortes, a disciplina espartana por ela exigida e os seus efeitos colaterais fazem com que partes dos pacientes desistam do tratamento ou o façam de modo irregular. Este fato poderia também levar o paciente a procura de terapias alternativas e automedicação. Por tanto a automedicação ao se tratar da população HIV/AIDS pode ocasionar graves problemas e conseqüentemente interromper a adesão e aderência ao tratamento. Preocupando-se com esta questão o presente trabalho avaliou o uso da automedicação por pacientes portadores de HIV.

METODOLOGIA:

            A Casa de Emaús – Centro de Apoio ao Portador do Vírus HIV/AIDS atende a população carente de Maringá e região. A partir de um grupo, foram selecionadas aleatoriamente, pessoas que se encontravam na instituição nos dias de visitas. O paciente era informado quanto à pesquisa, sua finalidade e procedimento da entrevista. Em seguida, era obtido o consentimento do paciente para a participação no estudo e o mesmo conduzido a uma sala privativa para realização da entrevista. As informações foram coletadas a partir de um questionário contendo os itens: Sócio-econômico, Histórico patológico, hábitos de vida, medicamentos anti-retrovirais e automedicação, obtidos através de entrevistas individuais. Após análise dos resultados da entrevistas, está sendo realizada orientação individual e coletiva sobre uso de medicamentos anti-retrovirais, interação medicamentosa, efeitos adversos de medicamentos e automedicação, alem das principais doenças que acometem o paciente HIV/AIDS.

RESULTADOS:

No período de 15/09/05 - 17/03/06, 46 pacientes foram avaliados, (25 mulheres e 21 homens), entre idade de 22 a 55, cuja profissão variava desde dona-de-casa, profissional do Sexo e autônomos. A renda familiar da maioria dos pacientes (93%) foi de um a três salários mínimos, 5% recebem entre 4 a 6 salários e 2% encontram-se desempregados.

Considerando as formas de transmissões, 85% contaminaram-se por contato sexual, contra 11% por drogas intravenosas e 4% acidentalmente. Sobre o uso de drogas, 67% dos pacientes utilizam alguma espécie de droga (droga ilícita e drogas lícitas). Em relação à escolaridade, 4% são analfabetos, 82% possuem o 1º grau (dos quais 30% declaram ter concluído o 1º grau completo e 52% desta parcela não terminaram o 1º grau). Os restantes, 14% dos pacientes entrevistados, afirmaram ter o 2º grau (7% possuem 2º incompleto contra 7% que possuem o 1º grau completo).

Quanto ao item uso de automedicacao a prevalência verificada foi: 56% dos pacientes declaram fazer uso da automedicação para aliviar sintomas do dia-dia. Os medicamentos mais utilizados neste tipo de auto-atenção são os antiinflamatórios (44%), analgésicos (32%) antibióticos (15%) e fitoterápicos (9 %) respectivamente.

CONCLUSÕES:

A automedicação na Casa de Emaús –encontra-se próximo aos parâmetros observados no Brasil e no exterior (Projeto Bambuí - Bahia 46,6%. Self-medication Hong Kong 32,5%). Identificaram-se como possíveis fatores desse consumo a renda familiar mensal, a baixa escolaridade e as formas de marketing noticiadas pela mídia, refletindo as carências e hábitos da população. Acrescenta-se a estes fatores, o fato dos pacientes pertencerem a um grupo estigmatizado socialmente. Este simples ato de auto-atenção pode ocasionar graves problemas em conseqüência da interação medicamentosa com os anti-retrovirais, contribuindo para a falta de adesão e aderência do tratamento.

O uso de drogas lícitas e ilícitas é outro ponto que deve ser visto de forma preocupante, já que o tratamento também é interferido, e por tanto, deve haver trabalhos intensificados sobre os pacientes que fazem seu uso.

            É importante, compreender que no processo de automedicação, está envolvido, o modo de vida das pessoas; portanto é necessário atenção dos órgãos municipal, estadual e federal no desenvolvimento de práticas de prevenção, orientação e promoção da saúde, tanto dos HIV´s quanto às pessoas que fazem parte se suas vidas, com o objetivo de minimizar esta prática.

         No Brasil não há registros quanto à automedicação associada ao paciente HIV-positivo, por tanto o presente trabalho funciona como um estímulo para estudos posteriores.

Instituição de fomento: A Casa de Emaús – Centro de Apoio ao Portador do Vírus HIV/AIDS
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Automedicação; Anti-retroviral; AIDS.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006