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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 7. Educação Infantil
O JOGO DRAMÁTICO COMO MEDIADOR DA APRENDIZAGEM DA CRIANÇA NA SALA DE AULA DE UMA ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL DA REDE PÚBLICA MUNICIPAL DE PELOTAS/RS
Fabiane Tejada da Silveira 1, 2
(1. Mestranda em Educação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos/UNISINOS; 2. Profª. do Instituto de Artes e Design da Universidade Federal de Pelotas/UFPel)
INTRODUÇÃO:
Nosso objeto de análise nasceu da necessidade de apropriar-nos dos mecanismos que promovem a construção de conhecimento, desde a mais tenra idade. Acreditamos que só se aprende a ensinar, quando conhecemos os processos que levam ao aprender, portanto, um compromisso importante que temos como educadores, é o de desvelar práticas que desencadeiem processos de aprendizagens, para novas formas de compreensão e relação com a vida. Talvez tenhamos ficado durante algum tempo pesquisando sobre as relações entre os agentes que fazem parte da educação formal (professores e alunos), deixando para segundo plano a análise dos fenômenos que estão imbricados nas relações de ensino - aprendizagem. Fenômenos estes ligados às formas de abordagem de diferentes saberes, processos de construção de conhecimentos mediados por diferentes formas de aprender. Portanto direcionamos a nossa questão de pesquisa para: Qual é a importância do jogo dramático na aprendizagem das crianças pequenas? Destacamos como objetivos do trabalho: analisar como as atividades com os jogos dramáticos podem desencadear processos de aprendizagem; identificar as principais características da imaginação dramática, presentes nos exercícios com o faz-de-conta; discutir a importância das práticas pedagógicas que estimulam o jogo dramático no espaço da sala de aula da Escola de Educação Infantil.
METODOLOGIA:
Esta pesquisa foi realizada no 1º e 2º semestres de 2004 com as alunas do Curso de Licenciatura em Artes do Instituto de Artes e Design da Universidade Federal de Pelotas, como uma das atividades do Projeto de extensão Teatro nas Escolas. Fizemos uma pesquisa qualitativa, assumindo a perspectiva do paradigma interpretativo, com base filosófica na fenomenologia e hermenêutica. Como ferramentas para recolhermos elementos de reflexão no espaço de pesquisa, utilizamos observação participante e entrevistas. Nosso primeiro trabalho após o contato com uma Escola de Educação Infantil da Rede Pública Municipal de Pelotas (campo de pesquisa) foi observar durante 10 meses, uma vez por semana, as atividades de uma turma de crianças de 4 a 6 anos de idade(sujeitos da pesquisa) mediadas pelas atividades com o jogo dramático. Utilizamos este enfoque no “jogo” e no “drama” porque acreditamos que esta atividade “social” que exercemos na infância pode marcar profundamente na construção da personalidade e na maneira que apreendemos a compreender a realidade. Após este período de observações fizemos as entrevistas com as crianças e partimos para análise temática dos “dados” coletados. Estivemos fundamentadas nas teorias sóciointeracionistas (Piaget e Vigotski) que concebem o desenvolvimento infantil como um processo dinâmico, onde as crianças não são passivas e meras receptoras de informações que estão ao seu redor.
RESULTADOS:
As observações feitas com o grupo de crianças, que jogam dramaticamente, foram importantes para identificarmos nas atividades, os mecanismos que desencadeiam aprendizagens durante os exercícios com a imaginação dramática e o papel da intervenção dos jogadores na promoção de tais mecanismos. Toda a atividade de jogo tem um problema a ser resolvido e o esforço que o indivíduo faz para chegar o mais próximo possível da solução deste problema desencadeia um processo de aprendizagem. Apareceu nas respostas das entrevistas feitas com as crianças e durante as observações das atividades realizadas com as crianças jogando dramaticamente, o prazer de “brincar de imitação” e a “formulação de respostas” às relações entre as personagens criadas. Ao imitar um adulto, como por exemplo, a criança imita sua mãe e escreve uma lista de compras de supermercado, ela está promovendo o amadurecimento de processos de desenvolvimento que a levarão ao aprendizado da escrita. Portanto não seria um equívoco afirmar, que o exercício de imitação presente nos jogos de faz-de–conta desencadearam processos de formação de conceitos. A importância do drama para a criança está na possibilidade dela compreender o mundo exterior a partir da experimentação “imaginária” de relações humanas que acontecem em seu cotidiano.
CONCLUSÕES:
As atividades com os jogos dramáticos ou com faz-de-conta, como preferem denominar alguns autores, aparece nas atividades espontâneas da criança, como mediadora de suas aprendizagens, tendo como característica principal o desenvolvimento do trabalho coletivo e o estímulo à compreensão das relações que estabelecem os diferentes “personagens” sociais. Em (Slade, 1978) “Child Drama”, que teve sua versão original publicada em 1954, o autor atribui a possibilidade do drama à criança, quando no início de sua formação, “luta” para se conhecer e apreender o mundo ao seu redor. Analisando as experiências das crianças com o drama, identificamos que é próprio do jogo dramático, à possibilidade da criança de ser ao mesmo tempo uma e múltiplas, porque na sua espontaneidade ela permite-se novas experiências de sentir e agir no mundo, mesmo sendo um mundo imaginário, mas que faz com que a criança experimente as diferenças que formam os seres. Em relação à prática -pedagógica podemos observar que em muitas circunstâncias as atividades propostas às crianças são pouco desafiadoras e até inibidoras da criatividade, seria importante se o (a) professor (a) organizasse o espaço e o tempo escolar, incentivado (a) pelo projeto político -pedagógico da escola, para a promoção do jogo dramático, colocando à disposição na sala de aula, utensílios como materiais de sucata que possibilitem que as crianças montem, desmontem e construam inúmeras situações imaginárias.
 
Palavras-chave: Crianças; aprendizagem; jogo dramático.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006