O tema desenvolvido neste trabalho enquadra-se na problemática da discussão da Área Central e sua dinâmica socioespacial. Verificamos que, desde o início do século passado, esta temática vem sendo tratada por estudiosos de diversas correntes científicas. Entretanto, foi somente a partir do segundo conflito mundial, que os centros das grandes cidades têm passado por transformações significativas, tendo em vista o processo de descentralização das atividades de comércios e serviços. Atualmente, percebemos que há um novo interesse pela investigação desta temática, fato este explicado pela resistência de algumas atividades econômicas nesta área, bem como pela mudança de várias atividades para áreas atraentes na periferia urbana. Isso posto, analisamos a Área Central da cidade de Natal, localizada no litoral oriental do estado do Rio Grande do Norte, a qual abriga uma população estimada em quase 780 mil habitantes, a fim de compreender a sua atual configuração e importância para a capital potiguar. Tal objetivo tem como raciocínio investigar o crescimento desenfreado, no sentido centro-periferia, que a cidade de Natal tem sofrido nos últimos 25 anos. A flexibilidade advinda do Capitalismo tem concentrado todos os investimentos da iniciativa privada e pública nas áreas distantes do centro da cidade, colocando em dúvida a importância da Área Central para a cidade de Natal.

Nosso trabalho foi desenvolvido sobre o prisma da Geografia Urbana, a partir de discussões teóricas promovidas a partir de dois conceitos primordiais para a pesquisa. O primeiro seria o conceito de espaço urbano, uma das principais categorias de análise da ciência geográfica visto por Corrêa (1995), Santos (1978 & 1999), Gottdiener (1993) e Carlos (1994 & 2004) e utilizado para o entendimento de algumas questões levantadas neste estudo. Num segundo momento, lançarmos um debate, a título de contribuição, sobre a noção teórica de bairro, tendo por base as discussões colocadas principalmente por Lefebvre (1971), Carlos (1994, 2001 & 2004) e Seabra (2003 & 2004), pois percebemos que a definição deste vocábulo ainda possui algumas brechas que não foram preenchidas suficientemente em algumas experiências geográficas, embora corroboramos com a idéia de que o conhecimento científico nunca estará pronto e acabado, mas sempre passível de receber novas críticas e interpretações diversas. Por fim, buscamos também um apoio na teoria das Localidades Centrais de Walter Christaller (1933) para entender a Área Central da cidade de Natal. Com base na teoria do Geógrafo alemão, Corrêa (2001), Santos (1979, 1995, 1996) dentre outros autores fazem parte da nossa bibliografia. Realizamos pesquisas de campo e consulta junto à população do local e obtemos alguns resultados condizentes com os objetivos lançados neste estudo. Elaboramos gráficos e mapas que ilustram os resultados já atingidos.

Observamos que a busca do embasamento teórico acerca do assunto que desenvolvemos no leito da UFRN somou a construção deste trabalho científico. Para a compreensão da atual configuração da Área Central da cidade de Natal, era necessário entender também o processo histórico de Natal. As hipóteses lançadas no início do estudo se confirmaram: um considerável recorte espacial do centro da cidade tem resistido e/ou permanecido frente aos processos de especulação e crescimento econômico constatado na periferia da área central de Natal. Bairros, como por exemplo, o Alecrim, têm o comércio popular como atividade que se adapta aos investimentos advindos do Capital. Com base na pesquisa de campo que realizamos, percebemos que os moradores da Área Central não têm tentado se deslocar para outras localidades da cidade. Praticamente 90% dos entrevistados acreditam que não exista um lugar melhor para se viver do que no Alecrim. Aproximadamente 93% dos moradores disseram estar satisfeitos em viver na Área Central e ressaltaram que essa satisfação se dá basicamente pela boa localização, pois, como o Alecrim, os demais bairros localizam-se próximos a supermercados, feiras e demais serviços públicos, como oferta de linha de ônibus disponível para a Área.

Mesmo obtendo os referidos resultados, a pesquisa em pauta ainda não se encontra concluída. Concluímos uma dissertação de mestrado que segue os mesmos pressupostos, mas pretendemos levar essa discussão para um futuro doutorado. Como pesquisadores da Base de Pesquisa em Estudos Socioespaciais e Representações Cartográficas desta universidade, desenvolvemos um trabalho que discutiu o perfil do setor Terciário na cidade de Natal. Esta pesquisa nos mostrou algumas inquietações relacionadas à Área Central de Natal que, atualmente, veio contribuir para o a diligenciamento destas novas idéias. Sobre a pesquisa em questão, podemos tecer que o modo de vida é bastante particular aos elementos sociohistóricos daqueles que vivem há mais tempo na Área. E estas características fazem parte do perfil etário percebido em seus moradores, pessoas que vivem ali há muitos anos, resistindo ao processo de transformação urbana imposto na cidade nos últimos decênios. Atualmente, estamos vinculados à Base de Pesquisa de Estudos sobre Habitação e Espaço Construído, pretendemos finalizar esta pesquisa em breve, talvez de maneira mais completa numa Pós-graduação e, com ela, apresentar nossos resultados de forma completa em alguns eventos ligados à temática.