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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 3. Educação Ambiental

Programa de Educação Ambiental Não-Formal Voltado para o Uso de Eletricidade: Uma Experiência em Comunidades Carentes (2003-2004)

Antonio Luiz da Silva 1
Petra Sanchez Sanchez 2
(1. Centro Universitário Nove de Julho - UNINOVE; 2. Universidade Presbiteriana Mackenzie - Mestrado em Educação, Arte e H da Cultura)
INTRODUÇÃO:

A sociedade organizada está cada vez mais consciente da necessidade de usar de modo racional a energia elétrica e sempre mais envolvida com a questão, por ser ela um recurso indispensável e estratégico para o desenvolvimento socioeconômico dos paises. Porém, uma parcela considerável da população brasileira vive em péssimas condições de saneamento, coexistindo com séria carência de energia elétrica. Assim sendo, entendemos que a educação ambiental não-formal - de caráter interdisciplinar e que leve à conscientização - tem um papel relevante em áreas de muita pobreza, uma vez que os problemas ambientais, causados pela sociedade, devem ser solucionados com a participação de todos e contar com apoio político baseado no respeito aos direitos humanos e à  diversidade cultural. O presente estudo teve seu foco centrado no Programa Educativo “Energia e Cidadania” implementado em comunidades carentes de três municípios da Baixada Santista. O programa foi planejado e coordenado pela Companhia Piratininga de Força e Luz em parceria com o Mackenzie e com a colaboração de órgãos da administração pública e privada e de lideres das comunidades locais. Visou fornecer subsídios para o desenvolvimento de atividades educativas, de caráter interdisciplinar, que pudessem contribuir para o processo de mudanças de comportamento, em relação tanto ao uso racional de eletricidade, quanto à preservação ambiental. O trabalho alinha-se à tendência de valorização da formação de uma consciência cidadã.

METODOLOGIA:

Com base nos objetivos propostos, foi utilizada a metodologia da pesquisa qualitativa a qual, por sua vez, caracterizou-se por  um estudo de caso exploratório e participativo, visando à descoberta dos  problemas existentes nos ambientes pesquisados. O estudo de campo foi realizado durante o ano de 2004 e contou com a participação de 96 moradores de três comunidades da Baixada Santista (SP): Vila Mirim (Praia Grande), Vila Esperança (Cubatão) e Vila Gilda (Santos). Contou ainda com sete professores e com alunos dos cursos de graduação das seguintes áreas: Educação, Engenharia, Economia e Engenharia Elétrica, da Universidade Mackenzie. Participaram do programa ministrando palestras e desenvolvendo outras atividades de suporte. A amostra definida para a entrevista com os moradores foi do tipo probabilístico aleatório simples, segundo Richardson (1999). O método escolhido para a coleta das informações foi a entrevista semidiretiva, por meio de questionário com questões abertas e estruturadas, que permitiram avaliar como os moradores processaram as mensagens do programa aplicado. Os dados obtidos foram considerados tendo como base a análise de conteúdo proposta por Bardin (2002). Para garantir o anonimato e assegurar a confiabilidade das respostas, os moradores entrevistados não foram identificados por seus nomes. Com relação à entrevista com os professores e com os alunos, o roteiro constou de cinco questões abertas que foram gravadas e, posteriormente, transcritas.

RESULTADOS:

Dada a amplitude dos resultados, são destacados apenas:

  •  a maioria dos moradores entrevistados (87,6%) considerou que o programa “Energia e Cidadania”, discutindo aspectos importantes, teve boa aceitação por parte da comunidade e possibilitou reflexões sobre os problemas energéticos e seus riscos. Também propiciou a conscientização dos moradores quanto aos problemas ambientais locais (lixo, água e energia);
  • entre janeiro e fevereiro de 2004, os agentes comunitários efetuaram 1.575 cadastramentos de famílias, possibilitando fazer  o contrato para instalar oficialmente a energia pela Companhia Piratininga de Força e Luz;
  • a maioria dos moradores (67%) respondeu que seria importante regularizar a sua situação em relação à energia, principalmente porque, com a instalação oficial,  teriam um documento  (a conta de luz) emitido em seu nome. Observou-se ainda  que 24% dos moradores responderam que não podiam regularizar as instalações, porque dependiam da regularização do vizinho de onde eles puxavam os fios para as ligações clandestinas;
  • quanto à  importância do programa, 57% dos moradores responderam que as palestras contribuíram para  melhorar e  mudar  seu comportamento, pois conseguiram entender  que a produção de energia elétrica tem um custo muito alto e aprender como é  importante pagar por ela. Ressaltaram também a segurança que as ligações corretas trazem para a sua família, uma vez que é muito comum ocorrerem incêndios nos barracos e, em algumas vezes, com vítimas.
CONCLUSÕES:

Com base nos resultados obtidos com a implementação do programa “Energia e Cidadania”, estas são as  conclusões da pesquisa:

·         destacaram-se não só a necessidade de se valorizar sempre mais a educação ambiental não-formal, face à realidade existente em regiões carentes, como também a importância de programas interdisciplinares semelhantes, visando à promoção do bem-estar das populações excluídas;

·         a iniciativa da Companhia Piratininga de Força e Luz de planejar, organizar e realizar um programa de energia elétrica em parceria com a Universidade Presbiteriana Mackenzie possibilitou às comunidades carentes a oportunidade de refletirem sobre os problemas e os riscos que as ligações elétricas clandestinas representam. Tal oportunidade motivou-as a colaborar com a empresa concessionária de energia na adesão ao cadastramento e no compromisso com a redução do consumo;

·         pelos discursos dos moradores verificou-se que o programa foi um agente indutor para melhorar hábitos voltados ao desperdício de energia elétrica; isso demonstrou a pertinência do programa de educação ambiental não-formal que foi desenvolvido;

·         quanto à relevância social dos conhecimentos transmitidos, salienta-se a importância da Universidade, por meio de uma equipe multidisciplinar, em participar de programas de educação não-formal no sentido de ampliar os conhecimentos da comunidade sobre as questões ambientais com o intuito de auxiliar na superação de obstáculos que se fazem presentes em áreas  de extrema pobreza.

Instituição de fomento: Fundo Mackpesquisa
 
Palavras-chave: Eletricidade; Educação Ambiental Não-Formal; Interdisciplinaridade.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006