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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 7. Psicologia do Ensino e da Aprendizagem

DAS “IDÉIAS PSICOLÓGICAS” À PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO: CONTRIBUIÇÕES DE VIVES

Simone Burioli Ivashita 1
Sheila Maria Rosin 1
(1. Departamento de Teoria e Prática da Educação, Universidade Estadual de Maringá.)
INTRODUÇÃO:

Este trabalho objetivou mostrar que os temas que atualmente fazem parte dos conteúdos do campo disciplinar de Psicologia da Educação foram inicialmente desenvolvidos por autores que viveram numa época anterior ao advento da Psicologia científica, mas cujas produções já davam indícios daquilo que se pode chamar de “idéias psicológicas”. Tendo em vista a marcante presença dos “fenômenos psicológicos” nas questões de cunho educacional, propomo-nos a estudar Juan Luis Vives (1492-1540) que, já no século XVI, antecipou muitas idéias psicológicas e pedagógicas dos grandes pensadores que vieram depois dele. As obras deste teórico, especificamente as que se referem à educação, evidenciam vestígios do que posteriormente seria sistematizado como conteúdo da Psicologia da Educação. Vives inovou em relação aos outros autores do período por demonstrar um interesse especial pela alma e pela psicologia infantil. Interesse este que aparecia quando Vives aconselhava que as crianças, desde a mais tenra idade, fossem iniciadas no processo educativo, para que, ao alcançar a idade adulta, não se desviassem do caminho das virtudes ou, quando, ainda, afirmava que a condição imprescindível para a arte de ensinar seria o amor dos mestres por seus discípulos, semelhante ao afeto paternal.

METODOLOGIA:

Esta proposta de trabalho originou-se a partir do projeto denominado HISTÓRIA DOS CAMPOS DISCIPLINARES: investigações em torno da pesquisa e do ensino em História da Educação e Psicologia da Educação, no curso de Pedagogia da UEM (1973/2003). Este projeto propõe alguns procedimentos que destacam a interdisciplinaridade entre áreas distintas de conhecimento, como a da Educação, a da História e a da Psicologia, focalizando o objeto de estudo sob eixos diferentes, mas inter-relacionados. A “História dos campos disciplinares” foi um dentre a multiplicidade de temas que recebeu as luzes da contemporaneidade, e é a partir deste recorte temático que esta pesquisa se estruturou. Dessa forma, os parâmetros teórico-metodológicos desta pesquisa bem como as suas adequações aos objetivos propostos permitiram eleger alguns procedimentos que destacaram conhecimentos e subsídios que auxiliaram na reflexão do objeto de estudo proposto. Destarte, o trabalho foi realizado especificamente por meio da leitura das obras de Vives, nas quais procuramos destacar seus pressupostos sobre a educação das crianças, suas capacidades e aptidões. Na condição de pesquisadores, transcrevemos, detalhadamente, os registros de nossos estudos.

RESULTADOS:

As leituras realizadas permitiram verificar que a atenção de Vives recaiu na valorização do homem e na necessidade de conhecer a natureza interna e externa de cada indivíduo, esta valorização estende-se também para a valorização das crianças, de suas capacidades e aptidões. O autor declara ter orgulho da criatividade e do poder de engenho dos homens. Resgata o valor do homem que, pela sua mente e pelos seus sentidos, diferenciar-se-ia de todos os outros animais, pois é capaz de inventar. Em relação à escola, Vives (1948) acredita que, em primeiro lugar, o professor deve explorar os dotes morais e intelectuais dos alunos e, só depois, determinar para qual área cada um teria mais aptidões, porque, afirma o autor, as pessoas desempenham da melhor forma e com melhores resultados as funções para as quais nasceram e estão dispostas. Assim, o importante é que o professor leve em consideração a idade e a aptidão de cada aluno. Os bons costumes e as boas opiniões inculcados na criança na tenra idade, no período de sua formação, acompanham-nos pela vida inteira. Desse modo, pode-se afirmar que as “idéias psicológicas” por ele desenvolvidas evidenciam vestígios do que posteriormente seria sistematizado como conteúdo da Psicologia da Educação.

CONCLUSÕES:

O pesquisador em Ciências Humanas é um ativo descobridor de significados das ações e das relações que se representam nas instâncias culturais da sociedade, pois, na prática da pesquisa, empresta-se, desloca-se, corta-se, alteram-se valores e outros significados começam a ser construídos. No processo de constituição da pesquisa, também acontece o deslindamento do conjunto de significados atribuídos pelos sujeitos ao tempo. No que tange ao fenômeno educacional, precisamos situá-lo para que possa ser analisado. No caso específico deste estudo, objetivamos verificar quais as “idéias psicológicas” que, elaboradas no século XVI, foram precursoras do campo educacional da Psicologia da Educação. Vives contribuiu com temas importantes para nossas reflexões acerca da educação no século XVI, como a afetividade, o conhecimento das aptidões de cada aluno, a idade ideal para iniciar os estudos, a prática de exercícios físicos para a manutenção de um corpo sadio. Tais temas trouxeram, conseqüentemente, uma maior valorização dos sentimentos, dos indivíduos e das particularidades humanas que se refletiu na educação. É nesse sentido que Vives (1968), em virtude de sua preocupação com o fornecimento de bases psicológicas para a educação e reconhecido pela contemporaneidade como precursor da Psicologia da Educação, tornou-se um autor importante para a nossa pesquisa.

Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Educação ; Campo Disciplinar ; Psicologia da Educação.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006