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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 10. Educação Rural

PEDAGOGIAS ALTERNATIVAS DE EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL: A CONTRIBUIÇÃO DO TERCEIRO SETOR NOS MUNICÍPIOS JUAZEIRO, UAUÁ E VALENTE NA BAHIA.

Lucia Marisy Souza Ribeiro de Oliveira 1
(1. Fundação Universidade Federal do Vale do São Francisco)
INTRODUÇÃO:

O objetivo deste trabalho foi avaliar os modelos de educação gerados nos municípios Juazeiro, Uauá e Valente no Estado da Bahia,tendo como hipótese norteadora a educação rural como disseminadora de informações à população e mobilizadora das transformações social, econômica, política e cultural das comunidades, na promoção do seu desenvolvimento . Por pedagogias alternativas, estão sendo consideradas as  experiências que nasceram fora da academia para responder aos interesses específicos da população rural.Trata-se de pesquisa quanti-qualitativa fundamentada numa abordagem interativa, onde o discurso emerge como espaço de construção dos sujeitos aprendizes. A análise dos dados permitiu compreender que a educação rural nos municípios pesquisados vive duas situações: uma, veiculada pelo sistema público de ensino que, salvo experiências pontuais, não atendem aos interesses dos povos que habitam e trabalham no campo. Outra, exercitada pelas ONG´s que valorizando o rural como espaço de vida, forma indivíduos com um repertório de saberes, habilidades e valores, capaz de mobilizá-los para uma ação transformadora. A importância deste estudo está na contribuição para uma educação do campo que contribua com conhecimentos úteis que aplicados na solução dos problemas elevem o padrão de sobrevivência da sua população.

METODOLOGIA:

As unidades de referência para este estudo foram os municípios Juazeiro, Uauá e Valente na Bahia. No município de Juazeiro, estudou-se na área irrigada, os perímetros Mandacarú e Maniçoba e, na área seca o Distrito Massaroca.Em Uauá, observou-se o IRPAA -  Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada, a sua atuação no sistema formal de educação e junto aos agricultores, no sentido da sua organização e desenvolvimento.Em Valente, foi objeto de estudo a APAEB - Associação de Desenvolvimento Sustentável Solidária da Região Sisaleira e as transformações ocorridas no município a partir da sua constituição, bem como o apoio do MOC - Movimento de Organização Comunitária à Secretaria de Educação para a prática pedagógica contextualizada à realidade local. A metodologia da pesquisa tomou por base a análise das redes de relações sociais, elegendo-se como categorias o capital social, desenvolvimento local, currículo, parcerias intersetoriais e pedagogias alternativas.A análise das escolas levou em consideração a tipologia de Lima (2003:18), e o caráter plural das organizações.Pela análise do discurso dos entrevistados, inferiu-se que as grandes obras de irrigação no município de Juazeiro, não trouxeram para eles mudanças pretendidas, apresentando-se como fatores determinantes do insucesso a falta de capacitação tecnológica para o manejo da água no solo, uma visão mais integrada com o meio ambiente, a ausência de educação cooperativista e o despreparo para o empreendedorismo.

RESULTADOS:

Historicamente, as relações de educação têm privilegiado os processos  urbanos, já que o quadro docente que atua nas escolas é produto de uma formação pedagógica citadina que pouco o capacita para uma ação conectada à realidade do campo.Com conteúdos tão distanciados do seu cotidiano, o desinteresse pelas aulas materializa-se em fuga da escola por parte do aluno, perpetuando altos índices de analfabetismo no campo.No universo pesquisado, o diferencial no sistema formal de educação é a ERUM-Escola Rural de Massaroca em  Juazeiro e todo o município de Valente, onde a escola é palco das discussões significativas para a comunidade.Nos demais espaços, o que se constata é uma precariedade nas instalações, nos materiais didáticos e  na formação e  acompanhamento dos professores,com os diversos níveis de ensino desconectados entre si, mantendo as desigualdades sociais.Ao contrário, as ONG´s IRPAA, APAEB e MOC, vem promovendo programas permanentes de capacitação para agricultores e para professores que atuam em escolas rurais, proporcionando-lhes,além de conhecimentos específicos,cursos de curta duração em convivência com o semi-árido, sendo os professores levados a utilizarem o meio rural (horta, jardim, paisagem, recursos naturais e humanos, etc), como quadro pedagógico de observação e reflexão, na compreensão de que, embora a escola não seja a única agência de produção de aprendizagens, ela deve ser pensada como espaço de direito do cidadão para acessar o conhecimento e a cultura.

CONCLUSÕES:

A escola tem estado associada aos valores do individualismo, quando a economia popular na qual as formas associativistas se inserem, sinaliza uma nova lógica de pensar, produzir e relacionar-se, colocando para a educação o desafio de articular no mesmo processo, os saberes práticos do mundo do trabalho e da cultura locais e os conhecimentos históricos socialmente produzidos,para que sejam alcançados com a prosperidade econômica a equidade social, a modernidade tecnológica e o aperfeiçoamento da democracia.Na realidade pesquisada, se tais práticas já são observadas nas ONG´s IRPAA, APAEB, MOC e, como exceção no município de Valente onde todo sistema de educação se orienta pela existência do campo como espaço de vida e de trabalho, nos municípios Juazeiro e Uauá a maioria das escolas rurais tendem a ser a típica escola urbana tradicional.Mas, a exemplo de outras regiões, aqui também estão se constituindo dinâmicas para promoção do desenvolvimento em parcerias,numa demonstração que globalização e regionalização podem coexistir, desde que a comunidade se reconheça na história e construa o tecido social para  fortalecimento de espaços de convívio que facilitem o enfrentamento da realidade.As conclusões do estudo apontam para a necessidade de se definir políticas públicas específicas para o campo, onde o sujeito do desenvolvimento seja a própria comunidade a partir das suas iniciativas, dos seus atores, cabendo ao Estado  incentivar e apoiar essas ações sem tentar conduzi-las.

Instituição de fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
 
Palavras-chave: Desenvolvimento Local Sustentável; Pedagogias para o meio rural; Parcerias Intersetoriais.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006