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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 15. Formação de Professores (Inicial e Contínua)

CARTAS PARA MIM - UM RETRATO DO COTIDIANO DA SALA DE AULA: DIÁRIO DE BORDO – REFLETINDO SOBRE A PRÁTICA DOCENTE

 

Nara Eunice Nörnberg 1
Célia Carmem Martinson 1
(1. Universidade do Vale do Rio dos Sinos/UNISINOS)
INTRODUÇÃO:
Cartas para mim um retrato do cotidiano da sala de aula, busca provocar reflexões sobre a prática docente, como diz Larrosa (2004, p.21): “[...] talvez, nessa história em que um homem se narra a si mesmo, nessa história que talvez não seja senão a repetição de outras histórias, possamos adivinhar algo daquilo que somos.” A idéia de usar o Diário de Bordo como parceiro não é algo novo, ao contrário, ele tem sido usado há muito tempo, pelas mais diferentes áreas do conhecimento. Um exemplo, são as viagens marítimas, onde geralmente o capitão da nau possui um “Diário de Bordo” no qual ele faz anotações sobre a viagem, suas apreensões, expectativas, frustrações, momentos de tensão entre os tripulantes, enfim, suas reflexões cognitivas e emocionais, se é que se pode separar uma da outra. Podemos citar como arquétipo a Carta a el-rei dom Manuel sobre o achamento do Brasil, escrita por Pero Vaz de Caminha, escrivão da armada de Pedro Álvares Cabral. Este relato narra o encontro entre povos de mundos distintos, talvez aqui resida a aproximação entre o Diário de Bordo de Pero Vaz de Caminha e o Diário de Bordo de um professor. De maneira semelhante, o professor, vivencia experiências de “achamento”, de espanto, de buscas curiosas, de trabalho intenso com gente que, por ser gente, possui a ontológica vontade de ser mais gente. A pretensão através do Diário de Bordo é que o professor, narre a sua prática docente, e assim se torne sujeito de seu estar/ser professor.
METODOLOGIA:
Foi proposto aos estudantes/professores dos cursos de licenciatura da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, que ao final de cada aula, registrassem em forma de narrativa as suas observações e reflexões, sobre as expressões verbais e ações dos sujeitos envolvidos constituindo com isso os pressupostos do Diário de Bordo. Desse modo o Diário de Bordo representa a construção de um de registro que explicita situações, pessoas, ambientes e acontecimentos. Ele corporifica olhar/sentir, registrando não só as impressões mediatas mas, também, as imediatas; Para além do registro, o Diário de Bordo, é uma reflexão sobre o próprio registro. Ele possui dois tipos de anotações: a anotação descritiva, quando o professor faz a descrição dos comportamentos, atitudes, tal como eles se oferecem à sua observação; e a anotação reflexiva, quando o professor faz uma pausa para refletir sobre o que observou. Pode-se dizer que reflexão é o movimento curioso que o sujeito faz em torno do que crê, do que quer, do que escuta, do que toca, do que vê, do que percebe questionando-se sobre o por que quer o que quer, o por que que crê no crê.
RESULTADOS:
Os estudantes/professores ao refletirem e relatarem as suas apreensões sobre o cotidiano da sala de aula re-visitam a sua prática docente, suas crenças teóricas, suas posturas, seus sonhos e medos, na perspectiva de re-significar sua ação pedagógica e, para além disso, seu estar/ser professor, pois como diz Freire (1998, p. 36): “Só somos porque estamos sendo. Estar sendo é a condição entre nós para ser.” Pensar sobre como se esta sendo é a possibilidade posta pelo Diário de Bordo; a existência do estar/ser professor não pode ser separada do modo pelo qual o sujeito professor se conta, é preciso contar a si mesmo a sua história, aprender a ler e escrever de novo, para que não seja nunca de tal forma que não possa ser de outra maneira (Larrosa, 2004).
CONCLUSÕES:
Escrever o Diário de Bordo é um grande desafio e requer a conscientização de que escrever é preciso (MARQUES, 2001). Implicada a esta necessidade está a noção de que é preciso ser sujeito de sua escrita, sujeito/autor que terá sua escrita devorada e decifrada por si mesmo e pelos seus pares. E nesse sentido se faz necessário auscultar os barulhos que borbulham dentro dos sujeitos, transformando-os em perguntas engravidadas da vida que se gesta na relação professor/aluno, cotidiano, sonho e ousadia na e para a sala de aula. Pois, como afirma Freire (1998, p. 44): “[...] quanto mais me assumo como estou sendo e percebo as razões de ser de porque estou sendo assim, mais me torno capaz de mudar, de promover-me, no caso, do estado de curiosidade ingênua para o de curiosidade epistemológica.
 
Palavras-chave: Diário de Bordo; Prática Docente; Formação de Profesores.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006