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D. Ciências da Saúde - 6. Nutrição - 5. Nutrição
RELAÇÃO ENTRE A INGESTÃO ALIMENTAR PREGRESSA E O CÂNCER DE MAMA EM JOINVILLE, SANTA CATARINA
Patrícia Faria Di Pietro 1
Neiva Inez Medeiros  2
Francilene Gracieli Kunradi  3
Maria Arlene Fausto  4
Adriane Belló-Klein  5
(1. Profa. Dra. do Departamento de Nutrição/ UFSC; 2. Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Nutrição/ UFSC; 3. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Nutrição/ UFSC; 4. Profa. Dra. do Departamento de Alimentos/ UFOP; 5. Profa. Dra. do Departamento de Fisiologia/ UFRGS)
INTRODUÇÃO:

O câncer de mama é a neoplasia com maior taxa de incidência e mortalidade entre mulheres brasileiras. Um grande número de fatores de risco para o câncer de mama tem sido identificado, tais como, sexo feminino, predisposição genética, idade, menarca precoce, menopausa tardia, idade da primeira gravidez, não amamentação, lesões mamárias benignas, terapia de reposição hormonal, raça, condições sócio-econômicas, nível de escolaridade, estado civil, gordura corporal, etilismo, tabagismo, dieta, entre outros.

As principais hipóteses para os efeitos da dieta sobre o risco de câncer de mama são que a obesidade e a alta ingestão de carne, produtos lácteos, gordura e álcool podem aumentar o risco, enquanto que a alta ingestão de fibras, frutas, vegetais, alimentos fontes de antioxidantes e fitoestrógenos podem reduzir o risco de câncer de mama.

No Brasil existem poucos estudos publicados que analisam a relação entre a dieta pregressa e a incidência do câncer de mama em mulheres. Diante disso, e devido as fortes evidências à cerca do papel da alimentação no processo de carcinogênese mamária, este estudo caso-controle teve como objetivo investigar a relação entre a ingestão alimentar pregressa e o câncer de mama em mulheres atendidas no ambulatório de nutrição de um hospital público da cidade de Joinville, Santa Catarina.

METODOLOGIA:

Esse estudo foi realizado no período de junho a novembro de 2003. O grupo de casos de câncer de mama foi constituído por 33 mulheres com diagnóstico recente de câncer de mama e o grupo controle, por 33 mulheres sem câncer de mama.

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de ética para pesquisa com seres humanos da Universidade Federal de Santa Catarina. Após as participantes assinarem o termo de consentimento livre foi realizada a avaliação antropométrica e preenchido um questionário, contendo dados de identificação, grau de instrução, padrões sócio-econômicos, clínicos, informações sobre paridade, consumo de álcool, tabagismo e atividade física.

Para a avaliação da ingestão alimentar pregressa foi utilizado um questionário de freqüência alimentar (QFA), qualitativo pregresso dos últimos quatro anos, contendo informações sobre o consumo de 91 alimentos, divididos em dez grupos.

Para avaliar a associação entre câncer de mama e variáveis sócio-econômicas, demográficas e de consumo pregresso de alimentos foi utilizado o método de regressão logística não condicional. A partir da regressão logística univariada foram selecionadas as variáveis que apresentavam odds ratio bruta com valor de p<0,25.

Para as análises estatísticas foi utilizado o software Stata 6.0 e um nível de significância de 5%.

RESULTADOS:

Foram observadas diferenças estatísticas significativas na distribuição de casos e controles por grupo etário (p=0,007), renda familiar (p=0,02), escolaridade (p<0,0001) e menopausa (p<0,0001).

Na regressão logística univariada, as variáveis associadas ao risco de câncer de mama foram grupo etário maior ou igual a 45 anos (OR= 4,00, IC95%= 1.44; 11,13), renda familiar até 4 salários-mínimos (OR= 3,50, IC95%= 1,19, 10,28), tempo de escolaridade de 4 anos ou menos (OR= 16,7, IC95%= 4,63, 60,10) e menopausa (OR= 9,84, IC95%= 2,81, 34,44).  Ao ajustar pela idade, as mulheres com risco de ter câncer de mama apresentavam renda familiar até 4 salários-mínimos (OR= 4,51, IC95%= 1,32, 15,45) e escolaridade de 4 anos ou menos (OR= 11,02, IC95%= 2,87; 42,26).

O consumo pregresso de alimentos foi ajustado pela renda familiar para ajustar os fatores de confusão associados com esta variável. Os alimentos significativamente associados com risco de câncer de mama foram banha de porco (OR= 6,32, IC95%= 1,52, 26,28) e carne bovina com gordura (OR= 3,48, IC95%= 1,21, 10,06). Já como fatores protetores, foram significativamente associados ao câncer de mama, o consumo pregresso semanal de maçã (OR= 0,30, IC95%= 0,09, 0,94), melancia (OR= 0,31, IC95%= 0,10, 0,93), tomate (OR= 0,16, IC95%= 0,03, 0,78), bolo (OR= 0,30, IC95%= 0,09, 0,97) e sobremesa (OR= 0,20, IC95%= 0,06, 0,65).

CONCLUSÕES:

Os fatores de risco diretamente associados ao câncer de mama na população estudada foram idade, renda familiar, escolaridade, menopausa e consumo pregresso semanal de banha de porco e de carne bovina com gordura. O consumo pregresso semanal de maçã, melancia, tomate, bolo e sobremesa foram inversamente associados com risco para câncer de mama.

A partir destes resultados ressalta-se a importância da realização de novos estudos acerca do consumo alimentar em pacientes com câncer de mama, para determinar a efetiva relação desse fator com o risco de desenvolvimento desta doença, podendo-se, desta forma, estabelecer estratégias de intervenção para reduzir a incidência do câncer de mama.

Instituição de fomento: Programa de Pós-Graduação em Nutrição, CAPES, CNPq.
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: câncer de mama; ingestão alimentar pregressa; estudo de caso controle.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006