A lógica capitalista na Amazônia alterou e altera a estabilidade de comunidades e populações tradicionais da região. Enfatizando-se as conseqüências das intervenções estatais, intensificadas na década de 1970 através dos grandes projetos de desenvolvimento, delimitamos nosso campo de pesquisa no Distrito de Icoaraci, em Belém, Estado do Pará. Nesse espaço há expressiva concentração de famílias de pescadores artesanais migrantes. Hipoteticamente, acreditamos que muitas destas famílias migraram para o local em estudo em virtude das mudanças relacionadas aos processos de modernização, como a construção do Complexo Industrial Pesqueiro de Icoaraci. Visou-se aborda o processo de migração de famílias de pescadores para o referido Distrito, mas especificamente as famílias que estão residindo na Travessa do Furo do Maguari, tendo em vista captar elementos referentes às relações sociais estabelecidas ou acionadas por elas antes e durante a trajetória de migração, para que chegassem e se estabelecessem nessa parte da região metropolitana da cidade de Belém.

Levantamento bibliográfico e documental para auxiliar a análise de conceitos e teorias pertinentes ao estudo sobre redes sociais e migração. A pesquisa in loco foi realizada em duas fases: coleta de dados em formulário, com amostra representativa de 25 domicílios, visando reter dados sobre idade, sexo, estado civil, grau de escolaridade, local de origem, se residiram em outros municípios, as razões da migração para Icoaraci; posteriormente foram realizadas entrevitas semi-direcionadas em 5 lares, para verificar as causas e peculiaridade da migração ate chegada em Icoaraci e examinar se havia intenção de prosseguir com a migração, retornado a origem ou buscando outras áreas. Também coletou-se dados sobre a historia social da travessa, com as duas moradoras mais antigas e sobre a associação de moradores, com a atual líder da mesma.

Muitas famílias são migrantes, oriundas de comunidades pesqueiras, ou agropesqueiras, de áreas de ocupação antiga do Pará, como Ilha de Marajó e Bragança. Em pequena proporção, procedem do Maranhão e Ceará. Nas décadas de 1970 e 1980 (IBGE) Icoaraci teve acentuado crescimento populacional, assim como muitos municípios/Estados do Norte, resultado, segundo COSTA (1990, p.79), de imigração em razão das políticas de desenvolvimento. De fato, a maioria dos migrantes (41,98%) chegou há mais de vinte anos, coincidindo com a implantação/expansão do parque industrial pesqueiro na área. No bairro objeto de estudo, percebeu-se que o processo migratório (tomada de decisão, saída e estabelecimento no local) envolveu apoio mútuo dos membros das famílias nucleares, de alguns parentes consangüíneos e afetivos e de conterrâneos. Ainda hoje se verifica que os moradores compõem redes de parentesco. Há uma associação profissional, que procura ter acesso a financiamentos e parcerias que favoreçam a atividade. Laços sociais tradicionais - parentesco - ou novos - associativismo - são importantes na organização social desses pescadores.

As famílias de pescadores migraram, sobretudo, em busca de melhores condições de vida e trabalho, em busca de melhores áreas para pescar e comercializar o pescado e por conta da possibilidade de emprego. Evidencia-se a convergência entre fatores “novos”, com a modernização em curso na cidade, em razão da implementação do Parque Industrial Pesqueiro e devido à construção do Distrito Industrial de Icoaraci; por causa da ausência e/ou precariedade dos serviços públicos nas áreas rurais do estada e conseqüente busca de melhores condições de exercício da pesca e comercialização do pescado. O processo migratório é ante de tudo um projeto “familiar”. No processo de decisão, saída, chegada e estabelecimento de famílias de pescadores na Travessa do Furo do Maguari, averiguou-se a importância substancial do tecimento de relações sociais como familiaridade, parentesco, vizinhança e conterraneidade.

Instituição de fomento: UFPA/PIBIC-CNPq

Trabalho de Iniciação Científica