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F. Ciências Sociais Aplicadas - 9. Comunicação - 5. Rádio e Televisão

A CONTRIBUIÇÃO DAS EMISSORAS REGIONAIS PARA A FORMAÇÃO DAS REDES NACIONAIS DE TELEVISÃO NO BRASIL: O EXEMPLO RBSTV EM SANTA CATARINA


Estela Kurth 1
(1. Universidade Federal de Santa Catarina)
INTRODUÇÃO:
  

A Rede Globo, como outras redes nacionais de televisão, quase não faz referência as suas afiliadas, optando por reforçar a idéia de unidade. No entanto, maior rede brasileira, que é composta por 119 emissoras, tem apenas cinco estações próprias. Um dos motivos é o Dec. n° 236, de 28 de fevereiro de 1967, que restringe o número de emissoras próprias em VHF (televisão aberta e gratuita) a cinco por grupo de comunicação, sendo no máximo duas em cada Estado. O sistema de afiliadas foi a solução para a expansão da televisão no Brasil, por duas razões: pelo impedimento legal; e pela necessidade de parceiros para realizar os investimentos em infra-estrutura de transmissão. Em fins da década de 1960 a Rede Globo desenvolvia seu “Padrão Globo de Qualidade”, uma estratégia para impor barreiras aos concorrentes, através de investimentos em dramaturgia, jornalismo e equipamentos modernos de produção. De nada adiantaria todo este esforço, se a programação não fosse alcançada nos mais remotos pontos do país. Esta foi uma das contribuições do sistema de afiliadas, mas existem muitas outras. Mais do que coadjuvantes, as emissoras regionais foram agentes reais na construção do modelo de redes nacionais, que se tornou hegemônico no país. O objetivo deste trabalho é verificar quais foram as responsabilidades assumidas pelas emissoras regionais para a expansão da programação da Rede Globo. O campo de investigação é a RBSTV que chegou como afiliada exclusiva da Globo, em Santa Catarina em 1979.

 

METODOLOGIA:
 

Este trabalho integra a dissertação de mestrado defendida na Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Santa Catarina, em março de 2006.

A fundamentação teórica se baseia entre outros autores, na história dos usos sociais da tecnologia proposta por Raymond Williams.

O levantamento documental trabalhou com várias fontes, entre elas: os principais jornais de circulação estadual em Santa Catarina; revistas impressas e eletrônicas – cabe ressaltar Revista do Rádio e TV, Clube do Rádio e Televisão, e Tela Viva. Sites de instituições públicas como Minicom, Anatel e IBGE. Além dos sites oficiais das emissoras de televisão brasileiras e, entidades representativas como ACAERT e ABERT e instituições privadas como o IBOPE.

O uso de depoimetos foi de extrema relevância para esta pesquisa uma vez, que trata-se de um período histórico próximo (1979- 2005), no qual há carência de outras fontes documentais, por outro lado, apresenta-se a possibilidade de colher relatos de pessoas envolvidas em todo processo. Foram colhidos 30 depoimentos no total.





RESULTADOS:

Os resultados demonstraram que as afiliadas fizeram contribuições positivas para a consolidação da Rede Globo, dentre elas estão:

  1. Em 25 anos a RBS investiu cerca de 60 milhões de dólares em ampliação da cobertura de sinal em Santa Catarina. São seis emissoras geradoras, e seis sucursais, com capacidade de produção de programas locais;

  2. a negociação com as lideranças municipais. Ainda que a RBS tivesse capacidade de investimento, ela dependia das comunidades locais. Em muitos municípios, as concessões de retransmissão pertenciam à própria prefeitura, ou a associações. Além disso, os pontos de irradiação eram de difícil acesso e a prefeitura abria estradas, levava energia elétrica e ainda entrava com a construção de uma pequena edificação para abrigar o retransmissor. Por outro lado havia constantes pressões por parte da comunidade, especialmente políticos;

  3. o fomento de mercados anunciantes regionais, através de palestras e educação para a mídia técnica;

  4. fidelização da audiência das redes como um todo, através da inserção de programação local. Dados do IBOPE que medem a audiência entre 11 capitais brasileiras, demonstram que a média de audiência na faixa das 19h, da RBS em Santa Catarina é superior a média nacional. Enquanto a média nacional é de 40% (Índice de Audiência Domiciliar) e share ( participação no total de aparelhos ligados) de 63%, Florianópolis tem IA de 48% e share de 79%.



 

CONCLUSÕES:

 A Rede Brasil Sul é desde 1979, afiliada exclusiva da Rede Globo em Santa Catarina, com seis emissoras geradoras, atingindo cerca de 1.745.682 domicílios com televisão. O caso analisado foi a RBSTV em Santa Catarina mas possivelmente muitos aspectos desta pesquisa poderiam se adequar à outras regiões brasileiras. As afiliadas foram de uma só vez solução para muitos problemas paras a expansão das emissoras do Sudeste do país: pela solução para o impedimento legal; pela injeção de capital e responsabilidade sobre infra-estrutura de cobertura de transmissão; pela representatividade institucional que pode ser entendida como um parceiro local dos interesses nacionais; pela fidelização da audiência da rede, através de programação que representa a cultura regional e suas necessidades de auto-representação; e ainda, sem a estrutura de afiliadas a Rede Globo não teria imagens e informações em todas as partes do país. Em 2005, considerando os profissionais das emissoras afiliadas, o Jornal Nacional contava com cerca de 600 equipes em sua produção diária. De acordo com a Anatel existem no Brasil 416 emissoras de televisão em operação, as redes possuem em média 10%, as demais são afiliadas que vêem sua participação diluída na programação nacional, e o mais grave é a sujeição destas a uma hierarquia do nacional sobre o regional, quando é na territorialidade do cotidianos que nos constituímos e auto-representamos, enquanto indivíduo e grupo.


 
Palavras-chave: televisão; redes; regional.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006