Este trabalho tem como objetivo acrescentar novos elementos à discussão do acesso de jovens de comunidades carentes à universidade. Foi realizada uma pesquisa com alunos de um curso pré-vestibular comunitário na qual foram constatados índices de estresse próximo aos 80% e, numa segunda etapa, observou-se como a aplicação de um trabalho de arteterapia pôde reduzir tais índices em um grupo destes alunos. Estes jovens constituem uma população muito suscetível às pressões da vida, o que pode gerar graves problemas físicos e psicológicos, inclusive sobre seu aprendizado (perda de memória e concentração). Quando alunos de escolas públicas conseguem ter acesso a um curso pré-vestibular, embora possam vislumbrar a oportunidade de ascensão a uma vida melhor, carregam também, além da insegurança característica da faixa etária, pouco conhecimento acadêmico e a consciência de que terão que se submeter a um processo extremamente competitivo. Isto, somado às pressões sociais e familiares, aumenta consideravelmente seus níveis de estresse e ansiedade. Assim, faz-se necessário questionar quais outros elementos, além dos acadêmicos, podem estar contribuindo para o fracasso escolar e insucesso nos exames vestibulares. Dessa forma é necessário considerar outros tipos de intervenção e, a que foi feita teve como base a arteterapia em grupo, que se mostrou um recurso eficaz e de baixo custo na diminuição dos índices de estresse, além de possibilitar um aumento de motivação e confiança social.

Do total de alunos participantes da pesquisa, 78,38% apresentaram sintomas de estresse, com um percentual de 51,72 % de casos em agravamento e 12,07% na fase de quase-exaustão segundo os critérios do ISSL. As mulheres foram as que apresentaram os maiores índices tanto em relação ao número (79,31%) quanto ao grau e casos em agravamento. Após a aplicação do trabalho de arteterapia, dos 10 participantes, houve a eliminação do estresse em 5 casos, a diminuição dos índices em 3 e a permanência ou agravamento em 2, sendo que em ambos os casos o questionário sobre fatores intervenientes no período revelou a ocorrência de problemas graves como mudanças nas condições financeiras da família, uma séria depressão do progenitor com a qual o pesquisado vive e, no outro caso, uma tentativa de suicídio por parte de um membro da família.

A importância da obtenção destes dados pode ser analisada a partir de diferentes aspectos. Em se tratando da questão mais geral da sociedade, estes jovens estão submetidos a situações desumanas e sujeitos a sérios problemas biopsicossociais e exclusão social que, cedo ou tarde, terão que ser computados nas tristes estatísticas do país. Por outro lado, uma política educacional séria não pode deixar de observar a existência dos elementos estressores que, de forma geral, podem diminuir a capacidade de aprendizagem ou até impedir a continuidade destes alunos na escola, elementos que não são considerados quando da discussão sobre o fracasso e a evasão escolar e, consequentemente, sem nenhuma política de intervenção adequada.  Outro ponto importante a ser considerado é que existe a possibilidade de que a habilidade de lidar com o estresse e a ansiedade possa se constituir num elemento importante para o sucesso nos exames vestibulares, talvez tanto quanto a habilidade acadêmica ou o conhecimento que possuem para realizar tais provas. Sendo assim, pesquisas  e intervenções que tenham uma visão mais ampla da questão educacional e que sejam eficazes e de baixo custo são necessárias. Neste caso,  a arteterapia mostrou-se uma ferramenta útil na diminuição ou até na eliminação de casos de estresse, porém, mais que isso, pôde auxiliar estes jovens no sentido de entenderem seus mecanismos de escolhas e decisões, pensar em aspectos relevantes de suas vidas e perceber que são parte de uma sociedade que precisa ser transformada e que eles podem e devem atuar nesta transformação.