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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 7. Educação Infantil

"ZÊ, TÁ PERTINHO DE IR PRO PARQUE?" O TEMPO E ESPAÇO DO PARQUE EM UMA INSTITUIÇÃO DE EDUCAÇÃO INFANTIL

Zenilda Ferreira de Francisco  1
(1. Centro de Ciências da Educação/PPGE/UFSC)
INTRODUÇÃO:

Saber sobre as crianças, pela observação da cotidianidade vivida por elas é o interesse desta pesquisa, que busca contribuir para a consolidação da Pedagogia da Educação Infantil. Orientada pela Sociologia da Infância e pela garantia dos direitos fundamentais das crianças, constitui-se em uma reflexão acerca do tempo e do espaço do parque em uma instituição pública de educação de crianças, das relações sociais, das experiências e dos conhecimentos que circulam nesse lugar. O objetivo da pesquisa foi conhecer, descrever e analisar os modos como as crianças vivem suas infâncias no tempo e espaço do parque. Interessou-nos investigar para: conhecer, descrever e analisar as relações/interações que as crianças constroem entre pares, adultos e materiais no tempo/espaço do parque; investigar o que pensam e que uso as professoras fazem do parque; verificar se o os documentos oficiais contemplam o espaço do parque. O escopo dessa reflexão não é de ordem arquitetônica, ele está imbricado numa dicotomia que perfaz a historia da humanidade, onde corpo e mente ocupam posições distintas. Este conhecimento se torna relevante, pois, segundo Faria (1998, p.70), “a Pedagogia faz-se no espaço, e o espaço, por sua vez, consolida a pedagogia”. Pensar o espaço educativo não se restringe a pensar a sala,  mas a pensar que, todos os espaços da  instituição são extensão uns dos outros e, como tal, merecedores de um olhar mais aguçado e comprometido com as relações que ali se estabelecem.

METODOLOGIA:

A pesquisa se realizou em um Núcleo de Educação Infantil do Município de Florianópolis. Os meninos e meninas do grupo de crianças pesquisadas tinham entre dois e três anos de idade, denominado como grupo IV. Foram realizadas observações das crianças, da professora e auxiliar de sala, focalizando o que as crianças fazem, com quem, o que utilizam e como agem no espaço do parque, por meio de um estudo de caso, do tipo etnográfico. Na tentativa de apreender o fenômeno em movimento e obter uma grande quantidade de dados descritivos, principalmente pela observação e registro, foram utilizados recursos de registro no diário de campo, conversas informais, registro fotográfico, registro em videocassete, Inventário dos materiais lúdicos, inventário dos enredos, entrevistas, questionários e Consulta a documentos referentes à Educação Infantil no âmbito Federal, Estadual e Municipal, dando atenção especial aqueles que tratam do tempo e espaço do parque nas instituições educativas, assim como documentos referentes ao NEI pesquisado. Com as devidas autorizações, a coleta de dados se deu orientada por uma valorização das crianças como informantes privilegiados.

 

 

RESULTADOS:

O estudo permitiu detectar na cotidianidade, que o parque se apresenta como um espaço de disputa, de transgressão, de resistência, de conformação, de criação, de poder, de cultura, de construção da autonomia e espaço da brincadeira. As crianças se apropriavam dos espaços do parque, dos objetos/brinquedos de forma diversificada e na maioria das vezes diferentemente do que era esperado pelos adultos, inovando a partir do referencial do adulto. Ficou evidenciado que este era o espaço preferido das crianças, demonstrado nas atitudes de euforia e contentamento no momento de saída para o parque e nas continuas tentativas de prolongar sua estada nesse. A ordem institucional, definida pelos adultos desta instituição no tempo/espaço do parque, apoiada na igualdade, na solidariedade e liberdade das crianças, baseada no pressuposto de interesses comuns, decorre de uma concepção do brincar como “oficio” de criança (Sarmento, 2000), onde o brincar com outras crianças é assumido como uma das expressões do exercício dos seus direitos de autonomia e participação, onde a criança se manifesta como ator social, (SIROTA, 1998).  Contraditoriamente percebemos que, ao definir uma dada organização do espaço, os adultos comunicam significados sobre o que fazer, como fazer, quando fazer, onde fazer e com quem fazer. Por outro lado, é no tempo/espaço do parque que as crianças experimentam com maior vivacidade a construção da sua autonomia, revelando-se como um espaço especial na educação delas.

CONCLUSÕES:

Para responder a questão: O que fazem as crianças no tempo/espaço do parque? Poderia ser óbvio dizer: Em primeiro lugar elas brincam, em segundo lugar elas brincam e em terceiro lugar, entre outras coisas, tornam novamente a brincar. No entanto, este estudo revelou que é necessário conhecer a complexidade do brincar e sua desnaturalização como ação natural e espontânea. É necessário ressaltar que, assim como fenômenos e fatos sócio-culturais, as brincadeiras pressupõem uma aprendizagem social. Esta reflexão traz importantes conseqüências para os contextos de Educação Infantil, onde adultos e crianças se confrontam com estranhezas e incertezas, tornando-se preponderante a otimização de espaços e tempos pelos adultos, o que exige das professoras uma maior atenção no que diz respeito à participação das crianças, e também, à participação delas nesses momentos de brincadeiras, seja na forma de organizar e disponibilizar objetos/brinquedos, seja como parceiro de brincadeiras junto às crianças. Para isso precisamos olhar para as crianças e escutar o que não dizem, isto é, perceber suas múltiplas expressões. Expressões reveladoras das particularidades e singularidades, próprias de cada uma, que mostram sua forma de ver, sentir e pensar o mundo. É necessário pois, que o adulto seja um observador das crianças também neste espaço externo, que é o parque. É na trama das relações/interações desenvolvidas pelas crianças na sala com as do parque que conheceremos, de fato, nossas crianças.

 

 

Instituição de fomento: CAPES
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Criança; Educação Infantil; Parque.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006