IMPRIMIR VOLTAR
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação

PROJETO DE PESQUISA CONTE-ME UMA HISTÓRIA: A INTERAÇÃO DE CRIANÇAS COM TEXTOS NARRATIVOS.

 

Daniele de Jesus Gomes 1
Dejane Ribeiro Martins 1
Irani Rodrigues Menezes 1
Maria Claudia Silva do Carmo 1
Lilian Miranda Bastos Pacheco 1
(1. DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA/ UEFS)
INTRODUÇÃO:

O projeto de pesquisa “Conte-me uma história: a interação de crianças com textos narrativos”, visou conhecer como crianças de 3ª série do Ensino Fundamental de zona rural produziam textos narrativos, tendo como foco de investigação a estrutura narrativa do gênero história. Seu principal objetivo foi constatar se práticas pedagógicas que oportunizam situações de leitura e escrita de histórias, em sala de aula, podem promover o uso adequado da estrutura textual desse gênero narrativo, em produções escritas pelas crianças. O estudo se pautou em experiências anteriores, com professoras de alfabetização as quais revelaram o quanto é difícil o trabalho com atividade de produção de textos. Acreditamos que esta dificuldade deve-se à pouca interação das crianças com a variedade textual, considerada importante para a aquisição dos aspectos formais da língua e a busca de sentido e significado no texto. A relevância do estudo está em contribuir com alternativas de trabalho nesse campo de produção e mostrar a necessidade e importância de possibilitar às crianças, desde os seus primeiros anos escolares, a interação com os diferentes tipos de texto, para que adquiram o uso adequado na produção escrita, facilitando, assim a compreensão e a busca de sentido e significado na leitura e na escrita.

METODOLOGIA:
 

A pesquisa foi realizada com 34 crianças de 3ª série do Ensino Fundamental, de uma escola pública municipal da zona rural de Feira de Santana. O processo de coleta de dados, desenvolvido de setembro a dezembro de 2004, constou de três etapas: Diagnóstico inicial, para constatar se, após a leitura de uma história, as crianças faziam recontos escritos, usando estrutura narrativa. Intervenção, constando de  05 encontros com intervalos de uma semana. Diagnóstico final, realizado após as intervenções. As intervenções acontecerem em quatro momentos: 1º) Leitura de uma história pelas pesquisadoras; 2º) Comentário da história pelos alunos; 3º) Reconto oral da história; 4º) Reconto escrito e individual da história. Foram selecionadas 07 histórias, uma para cada encontro. Na sistematização dos dados, consideramos a estrutura seqüencial da narrativa composta pelos elementos: Começo: situação inicial, local, tempo e personagens. Ações: aparecimento do conflito que dá origem a uma série de episódios.  Reação ou situação final: desfecho e resolução do  conflito. Para a análise dos recontos, delineamos 06 categorias assim ordenadas: 0 – escrita indecifrável; 01 – escrita cartilhada; 02 – reconto com alguns elementos estruturais da história, poucos ou nenhum conectores; 03 – reconto com todos os elementos da história, mas sem conectores; 04 – o reconto tem conectores, mas nem todos os elementos estão presentes; 05 – o reconto apresenta todos os elementos estruturais articulados.

RESULTADOS:

Dos 34 sujeitos pesquisados, 07 foram retirados da análise por terem faltado a mais de 04 encontros. Portanto, a análise dos dados refere-se aos recontos de 27 sujeitos. Destes 07 faltaram ao diagnóstico inicial. Os 20 participantes desse momento, apresentaram características semelhantes nos seus recontos, ou seja encontravam-se nas categorias 01 e 02, o que vale dizer que os elementos da estrutura narrativa mais encontrados nos textos das crianças foram: as marca de tempo como Era uma vez.., o tempo verbal no passado e o final foram felizes para sempre. Por outro lado, constatamos a ausência de títulos, de conflitos, da seqüência de fatos e da solução do conflito. As crianças escreviam as histórias, usando frases fragmentadas, do tipo escrita cartilhada. No diagnóstico final, seis crianças faltaram, 02 apresentaram escrita indecifrável e 19 foram classificadas na categoria 04. Isto que dizer que estas 19 crianças foram sensíveis ao processo de intervenção, revelando no decorrer das sessões, marcas capazes de delinear o processo de construção de narrativas do gênero história, apresentando mudanças quanto ao uso de estrutura narrativa de forma mais seqüenciada.  Apenas cinco crianças não foram sensíveis ao processo de intervenção, ou seja, não conseguiram apresentar mudanças na produção escrita.

    

CONCLUSÕES:

Dessa forma, concluímos que o exercício de práticas pedagógicas que propiciam a interação de crianças com leitura de histórias podem promover o uso adequado da estrutura narrativa na produção escrita, favorecendo, assim, a formação de leitores e escritores competentes. Isto porque as histórias oportunizam o envolvimento com um universo que detona a fantasia, partindo sempre de uma situação real próxima, lidando com sentimentos e emoções já vividas pela criança, o que favorece a interpretação e o entendimento das estruturas narrativas e a construção de significados no texto. Por outro lado, a interação das crianças com a literatura infantil proporciona a organização do pensamento e da linguagem, bem como a aprendizagem e o uso adequado dos aspectos formais da língua. As dificuldades que as crianças têm em ler e produzir textos, reveladas nesta pesquisa, nos leva a buscar alternativas de trabalho, que possam subsidiar a prática pedagógica no campo da leitura e produção de textos, nas séries iniciais do Ensino Fundamental. A opção pelas séries iniciais deve-se ao fato de acreditarmos que se as crianças interagirem com a literatura infantil, desde os seus primeiros anos de escolaridade, será possível que ao chegarem às últimas séries tenham adquirido competência em relação aos aspectos formais da produção textual, e a busca de sentido e significado na leitura.  Não teremos talvez, crianças que chegam à 3ª série sem o domínio da leitura e da escrita.     

 
Palavras-chave: Estrutura Narrativa ; Literatura Infantil; Textos Narrativos.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006