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D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 4. Saúde Pública

A PRODUÇÃO CIENTÍFICA SOBRE SAÚDE E MEIO AMBIENTE NO BRASIL: AVANÇOS E PERSPECTIVAS

Silviamar Camponogara 1
Ana Lucia Kirchhof 2
Flavia Regina Souza Ramos 3
(1. Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UFSC, bolsista PQI/CAPES; 2. Professor Adjunto do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UFSC; 3. Professor Adjunto do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UFSC)
INTRODUÇÃO:

A discussão sobre questões relativas a interface saúde e meio ambiente tem se acirrado nas últimas décadas, reforçadas pelas evidências de que as conseqüências geradas pela degradação ambiental afetam a saúde da população em vários aspectos. No entanto, a produção científica sobre o assunto ainda é pouco difundida, além de, segundo autores da área, ter como base uma visão fragmentada e pouco voltada para a interdisciplinaridade. Neste sentido, buscamos desenvolver um levantamento da produção científica nacional e internacional sobre o tema, tendo como objetivo conhecer quais as tendências temáticas que tem sido enfatizadas, com vistas a fazer uma análise reflexiva sobre as perspectivas para a produção de conhecimento na área. Para este momento optamos por fazer um recorte dos dados e apresentar a produção científica referente ao Brasil.

METODOLOGIA:

Os dados foram coletados durante os meses de março e abril de 2005 e tiveram como fonte de coleta o Portal da Biblioteca Virtual de Saúde (Bireme), prioritariamente junto as bases LILACS e MEDLINE, e o Portal de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (CAPES). Em ambas as fontes foram utilizados os seguintes descritores: saúde, meio ambiente, ecologia, políticas públicas e ética, tendo em vista tornar o estudo o mais abrangente possível, delimitando-se apenas o período das publicações entre 1993 a 2004. Após cruzamento dos dados coletados foi possível chegar-se a um total de 499 publicações, incluindo as internacionais, sendo 80 publicações brasileiras oriundas do Portal Bireme. A coleta da produção relativa a dissertações e teses foi direcionada especificamente para o Brasil, tendo em vista a dificuldade de coletar dados desta natureza em nível internacional. Assim, a coleta junto ao Portal Capes, resultou em um total de 128 estudos. Os resumos foram lidos cuidadosamente, o que possibilitou fazer-se uma categorização de acordo com a tendência temática verificada, a qual originou tabelas e quadros, oportunizando uma análise e discussão de acordo com a literatura pertinente.

RESULTADOS:

A análise da produção conjunta, a partir do Portal Bireme, permitiu verificar que o Brasil é o terceiro maior produtor de publicações na área de saúde e meio ambiente (16%), superado apenas pelo Estados Unidos da América e pela Rússia. No entanto, enquanto que nestes países a tendência temática mais verificada está direcionada para a análise/avaliação de riscos diversos, no Brasil, a maior parte dos estudos estão direcionados para questões epidemiológicas e de ecologia de vetores (26% da produção nacional), seguido por discussões teóricas relacionadas com políticas públicas na área (25%). Outras categorias a serem consideradas dizem respeito a questões conceituais e éticas sobre o tema (16%) e educação em saúde (10%). Questões relacionadas a avaliação de risco totalizam 5% da produção nacional. As demais categorias aparecem em percentuais menores. A produção de dissertações e teses, igualmente está fortemente orientada pela tendência da epidemiologia e ecologia de vetores (33%). No entanto, um percentual de 16% está direcionado para a avaliação de risco, seguido da categoria análise de políticas públicas com 15% do total. As demais categorias estão distribuídas com percentuais menores.

CONCLUSÕES:

O estudo revela que a produção científica nacional, embora com relativa relevância em termos quantitativos, em comparação com dados internacionais, mantém uma estreita vinculação com o viés epidemiológico, sugerindo que a interface saúde e meio ambiente ainda está impregnada por uma tendência de olhar a saúde a partir da doença. Embora algumas dissertações e teses tenham buscado maior abrangência da temática de estudo, isto não se faz sentir em termos de publicações oriundas do Portal Bireme, sugerindo que as mesmas são pouco publicadas em periódicos de maior circulação. Além disso, embora a reflexão sobre políticas públicas se faça sentir como tendência temática, ainda resta a dúvida sobre qual o nível de participação do setor saúde na formulação das políticas vigentes, fortemente direcionadas por outros setores ligados a questões sobre saúde e meio ambiente. De uma forma geral, percebe-se que a produção científica sobre saúde e meio ambiente no Brasil, tem um caráter reducionista, na medida em que considera prioritário pesquisar questões relacionadas a doenças transmissíveis, embora elas tenham relevância do ponto de vista do perfil epidemiológico nacional. Também verifica-se que não há uma participação de diferentes setores na produção científica. Sugere-se, então, que a interface saúde e meio ambiente, no Brasil, tenha um enfoque mais amplo e contextualizado, já que

 
Palavras-chave: saúde; meio ambiente; interdisciplinaridade.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006