G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 1. Geografia Humana |
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A CONTIGÜIDADE DO LUGAR E DO NÃO LUGAR NO AMBIENTE MULTI-TERRITORIAL DO SHOPPING CENTER: O EXEMPLO DE PORTO ALEGRE |
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Marli Tereza Michelsen de Andrade 1 |
Vanda Ueda 1 |
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(1. Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS -) |
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INTRODUÇÃO: |
O presente trabalho faz uma análise das categorias lugar e não-lugar que se verificam nos Shoppings Total e Praia de Belas, localizados na cidade de Porto Alegre. Temos observado que as diversas micro-territorialidades que se formam nestes espaços são particulares a cada equipamento e diferenciadas no modo como se manifestam. O conceito de lugar tem sido alvo das diversas interpretações ao longo do tempo e entre os mais variados campos do conhecimento. Na Geografia particularmente, a expressão lugar constitui-se em um dos seus conceitos-chave. Pós-modernamente surge a categoria do não-lugar caracterizando os ambientes dos shopping centers por suas particularidades impessoais, não relacionais e a-históricas. Congregando inúmeras atividades em seu interior que, anteriormente eram desenvolvidas, de maneira especial, nas áreas centrais das cidades, esses (pós)modernos empreendimentos urbanos vêm perdendo, em certa medida, suas pretensas assepsia e dimensão de exclusividade, dada a heterogeneidade de seus freqüentadores efetivos e potenciais, o que acaba por transportar para seu interior algumas contradições que pretenderam manter distantes do âmbito de suas instalações. |
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METODOLOGIA: |
A pesquisa bibliográfica, substrato para o desenvolvimento do presente trabalho, sustenta-se em M.Santos, M. Auge, D. Harvey, Featherstone, B. Sarlo, e fornece subsídios para o entendimento teórico da formação das micro-territorialidades no ambiente shopping. Em extensão a constatação da existência de processos, incipientes mas de desenvolvimento inegável, como a lenta diminuição da assepsia pretendida e que resulta por levar para dentro dos shoppings as contradições existentes no meio urbano, foi obtida mediante pesquisa junto aos departamentos de marketing dos dois shoppings, jornais, jornais de bairro, e observação empírica do vai e vem que é a deriva dos consumidores nesses ambientes. A seletividade exigida, no primeiro momento como intenção, e efetivada a partir da ostentação pelos atores/consumidores da capacidade de apresentar um certo padrão de consumo que os qualifique como consumidores, realizava-se de forma dissimulada, visando o acesso aos clientes adequados. Símbolos e imagens, formadores de gostos e estilos costumam informar/segregar mas colocam “cada um em seu lugar” , reproduzindo uma lógica permeada pela rejeição. Tal seletividade apresenta-se em vias de ser substituída face a heterogeneidade de novos clientes, fruto da diversificação dos serviços oferecidos e da ampliação das funções dos shoppings. A categoria não- lugar caracteriza os shoppings pela ausência de referenciais históricos e produz-se no espaço global negando o espaço local |
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RESULTADOS: |
O espaço shopping configura-se como um não-lugar por se tratar de um lugar de passagem, com o qual não se formam vínculos nem existem marcadores temporais,. impregnado por símbolos que reforçam seu caráter impessoal e tecnológico. A realidade do mundo pós-moderno tem nos mostrado que os lugares e os não-lugares tendem a interpenetrar-se cotidianamente. Nos shopping centers, não-lugares por excelência, lugares-simulacros, essa categoria pode transmutar-se em lugar no momento em que o sujeito, movido por determinação interior, passa a desenvolver uma relação de trabalho ou cultural que resulta em identificação com aquele espaço. A ambiência formada a partir da ação desse indivíduo/consumidor cria um tempo social que, associado à sua memória temporal, faz com que aquele espaço-tempo se torne único, solidificando os laços de identidade com o shopping. Por outro lado os shoppings tem passado a interagir com os consumidores através de atividades como Caminhadas Indoor para idosos no Shopping Total, atividades artísticas e culturais diversas, campanhas envolvendo a comunidade do bairro e entorno que, embora reforcem a presença de consumidores em suas dependências, passam a idéia de que fogem da orientação suprema de ver nos seus clientes apenas consumidores. No shopping Praia de Belas espaços artísticos/culturais têm sido oferecidos visando aproximar público/consumidores, o que resulta na mudança parcial das relações shopping/consumidor por um determinado tempo.
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CONCLUSÕES: |
Face a presença da população convidada/incentivada a freqüentar os dois equipamentos comerciais urbanos objetivando prestigiar as campanhas desenvolvidas por seus administradores, e que certamente densificam a quantidade de público em suas dependências, a imagem do consumidor elitizado tende a se atenuar, já que campanhas de cunho eminentemente social passaram a ser desenvolvidas nestes espaços. É inegável que o Shopping Total abriu-se para a população de forma mais abrangente e sua política de boa vizinhança é aparente desde sua inauguração. Por tratar-se de espaço revitalizado, busca agradar à população do entorno, embora ocasionalmente surjam problemas em função de excesso de movimentação no bairro, espaço para estacionamentos e ultimamente a apresenta-se a discussão sobre a construção ou não de um teatro junto a este Shopping. O Shopping Praia de Belas, por outro lado, tem-se mantido relativamente fiel à sua proposta inicial, criando apenas espaços artístico-culturais e, em conseqüência, dando continuidade à política de consumidores marcadamente elitizados. No entanto, a entrada de pessoas de baixa renda que para lá se dirigem nos domingos em que a Prefeitura Municipal libera o pagamento de passagens nos ônibus municipais não é impedida. Observa-se nestas ocasiões a diminuição da população que habitualmente freqüenta este shopping. |
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Palavras-chave: Lugar; Não-lugar; Micro-territorialidade. |
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Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006 |
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