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E. Ciências Agrárias - 7. Ciência e Tecnologia de Alimentos - 4. Ciência e Tecnologia de Alimentos

COMPORTAMENTO CONSUMIDOR DE ESCOLARES DE FLORIANÓPOLIS: UM ESTUDO PILOTO

Giovanna Medeiros Rataichesck Fiates 1
Renata Dias de Mello Castanho Amboni 2
Evanilda Teixeira 2
(1. Departamento de Nutrição / CCS / UFSC; 2. Departamento de Ciência e Tecnologia de Alimentos / CCA / UFSC)
INTRODUÇÃO:
A pesquisa acadêmica sobre o comportamento consumidor de crianças data de 1950; desde então, um volume considerável de pesquisas foi desenvolvido sobre este tópico, refletindo o crescimento da sofisticação da criança como consumidora: seu conhecimento de produtos, marcas, propagandas, preços, estratégias de tomada de decisão e abordagens de negociação.  A indústria não ficou indiferente a este fato, e direcionou um amplo e massivo espectro de estratégias especificamente ao consumidor infantil. Crianças e adolescentes, além de gastarem seu próprio dinheiro, influenciam as compras da família em várias categorias de produtos, incluindo brinquedos, roupas, eletrodomésticos e alimentos. As evidências mostram que a propaganda afeta as escolhas alimentares e influencia os hábitos dietéticos, com implicações sobre o estado nutricional. Estima-se que crianças e adolescentes brasileiros gastem em média 5 horas por dia assistindo televisão; no Brasil, alimentos são os produtos mais freqüentemente anunciados, e quase 60 % deles estão no grupo da pirâmide alimentar composto por gorduras, óleos, açúcares e doces. Muito já foi estudado sobre o processo de socialização do consumidor nos países europeus e nos EUA, mas ainda existe uma grande lacuna a ser preenchida no que diz respeito a outros países, especialmente o Brasil. Sendo assim, o presente trabalho se propôs a realizar um estudo de caso, avaliando o comportamento consumidor de um grupo de escolares no município de Florianópolis.
METODOLOGIA:
Todos os estudantes de 7 a 10 anos (n = 141), de ambos os sexos, matriculados na 1ª a 4ª série de uma escola particular localizada em Florianópolis / SC foram convidados a participar da pesquisa. Os pais dos estudantes deveriam assinar um termo de consentimento livre e esclarecido, elaborado conforme orientação do Conselho de Ética para Pesquisas com Seres Humanos da UFSC – CEPSH/UFSC, que aprovou o projeto. O questionário aplicado foi desenvolvido especificamente para a pesquisa, a partir da bibliografia consultada. Os formulários foram distribuídos em sala de aula, pela pesquisadora principal, após breve explanação sobre os objetivos da pesquisa. Os estudantes levaram os formulários para casa, para preenchê-los com o auxílio dos pais. O questionário continha perguntas abertas e fechadas sobre os seguintes temas: dados de identificação, hábitos alimentares, hábito de ver TV e hábitos de consumo. A pesquisadora principal poderia ser contatada a qualquer momento para resolução de dúvidas.
RESULTADOS:
Trinta e sete escolares (26,2 %) retornaram os formulários preenchidos (15 meninos e 22 meninas).  Todos os entrevistados possuíam aparelho de televisão em casa (1 a 5 unidades), inclusive no próprio quarto (70,2 %).  A grande maioria (78,3 %) não tem horários definidos para assistir televisão, além de às vezes (59,4 %) ou sempre (35,1 %) realizar as refeições com a televisão ligada. Os comerciais mais lembrados foram de cadeias de lanchonetes, seguidos por bolachas, achocolatado e refrescos artificiais. Os pais às vezes (54 %) ou sempre (24,3 %) manifestam preocupação com seus hábitos alimentares; querem que evitem principalmente guloseimas doces - chocolates, balas, pirulitos, chicletes, bolachas recheadas - citados por 64,8% dos estudantes. Estes são justamente os alimentos mais pedidos para que os pais tragam do supermercado (62,1 %). Mais da metade dos entrevistados referiu ganhar mesada ou semanada, e destes, 82 % disseram que costumam economizar seu dinheiro para comprar brinquedos e games (19 respostas), seguido por livros / revistas e material escolar (12 respostas cada um). Quando pedem algo e os pais não compram, grande parte dos estudantes escolheu a alternativa "fico triste, mas logo esqueço" (45,9 %); 37,8 % ficam "pensando em maneiras de convencê-los a comprar o que eu quero"; 21,6 % "ficam zangados e brigam"; 10,8 % referiram "não dar muita importância".
CONCLUSÕES:

Os resultados da pesquisa demonstram que os pais dos estudantes são liberais no que diz respeito ao acesso á televisão, mas não tão liberais quando o assunto é a alimentação. No entanto, os estudantes pesquisados não estão consumindo guloseimas adquiridas com seu próprio dinheiro: estão influenciando as compras dos pais, através de pedidos de compras no supermercado. Apesar de se dizerem preocupados com o que os filhos comem, os próprios pais estão adquirindo as guloseimas ou dando dinheiro para que os estudantes as comprem. Este hábito, associado à influência da televisão, pode levar a alterações no estado nutricional desta população. Pode-se detectar também uma tendência mais forte ao sentimento de frustração do que ao conflito familiar propriamente dito, pois as alternativas mais citadas foram as que mencionavam tristeza e negociação. De fato, estas reações são características da faixa etária estudada, quando a criança já desenvolveu capacidade de barganhar para conseguir o que deseja. É preciso ressaltar a baixa taxa de retorno obtida neste estudo, o que indica que deve ser pensada uma estratégia de sensibilização a ser utilizada nas próximas etapas da pesquisa. Finalmente, é relevante esclarecer que o emprego dos resultados deste estudo torna-se limitado, pois, trata-se de um piloto. Como não são representativos da população, os resultados não devem ser extrapolados e a comparação com outros estudos deve ser cautelosa.

 
Palavras-chave: Consumidor; Estudante; Televisão.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006