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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação

ESTADO E SOCIEDADE NA EDUCAÇÃO DA JUVENTUDE: INICIATIVAS DA SOCIEDADE CIVIL E PROPOSTAS GOVERNAMENTAIS

Maria Aparecida Morgado 1
(1. GPEJD/PPGE/IE/UFMT)
INTRODUÇÃO:
O século 21 repõe em evidência o tema da juventude. Indicadores sociais, econômicos e políticos inquietam governantes, educadores e pais desafiados cotidianamente pela massa de jovens que começa a tecer o futuro da humanidade. No Brasil, aumentou o peso relativo dessa categoria que soma 34 milhões entre 15 a 24 anos, representando cerca de 20% da população (IBGE, PNAD, 2001). Mesmo que as definições de juventude sejam histórica e culturalmente datadas (LEVI; SCHMITT, 1996) e que o termo não possa se referir a uma população com características homogêneas (DAIREL; CARRANO, 2002), dadas as diferentes circunstâncias econômicas, políticas, culturais e comportamentais que atravessam a existência social, é possível dizer que esse grupo humano vem enfrentando profundas transformações nas suas condições de vida (IANNI, 1968). Os jovens brasileiros são os mais afetados pelo modelo econômico e social das últimas décadas: são preocupantes os números relacionados ao trabalho, à educação e à violência que os atinge em especial. Assim, tem crescido a atenção a eles dirigida nos últimos anos, por parte dos meios acadêmicos, dos meios de comunicação e, também, por parte de atores políticos, instituições governamentais e não-governamentais (ABRAMO; FREITAS; SPÓSITO, 2002). No campo da educação predominam propostas governamentais mais tradicionais centradas na escola. Ao lado disso esboçam-se iniciativas da sociedade civil para ampliação e implementação de propostas educacionais para os jovens.
METODOLOGIA:
A pesquisa enfoca as iniciativas sociais e propostas governamentais para a educação da juventude, em suas relações de complementaridade ou não, problematizando: em que medida as iniciativas sociais e as propostas governamentais atingem seus objetivos educacionais? Está estruturada em torno da orientação e produção de seis dissertações de mestrado: a) Jovens e Ensino Superior: o Papel do Curso Técnico em Química do CEFET-MT na Escolha do Curso Universitário em Química; b) Educação e Inserção Profissional: a Intervenção do Projeto “Arco-Íris” Junto a Jovens da Periferia de Alta Floresta, Mato Grosso; c) Jovens e Educação Militar: a Formação de Cadetes no Curso de Bacharelado em Segurança Pública da PMMT; d) Educação e Profissionalização: Formação de Jovens Técnicos e Produtores Culturais no Projeto  “Cinema Circulante”; e) Jovens do Ensino Médio e Interesse pelo Ensino Superior: a Mediação da Relação Professor-Aluno; f) Jovens e Educação Profissionalizante: Evasão em Cursos Técnicos do Centro Federal de Educação Tecnológica de Mato Grosso. O problema da pesquisa mencionado articula os seis estudos de mestrado que compreendem procedimentos metodológicos preliminares, como levantamento, análise bibliográfica e definição do campo empírico, procedimentos intermediários, como definição dos sujeitos e aplicação de questionário e entrevista semi-estruturada, e procedimentos analítico-interpretativos  que culminam na redação final das dissertações e na conclusão da pesquisa em seu conjunto.
RESULTADOS:

Os jovens constituem tema recorrente na sociedade ocidental desde os anos 1950, ao lado do questionamento das conseqüências dos meios tecnológicos na educação (MORGADO; MOTTA, 2006). A flexibilização tecnológica das relações de trabalho vem sendo reproduzida nas demais esferas da vida social (SENNET, 1999). No Brasil a tarefa educativa também foi entregue a uma espécie de auto-regulação, abrandando a influência educativa das instituições socializadoras (FREITAG, 1980). Atores políticos e pesquisas acadêmicas vêm tentando interferir em direção inversa. O Instituto Cidadania publicou Juventude e sociedade: trabalho, educação, cultura e participação (NOVAES; VANNUCHI, 2004) e Retratos da juventude brasileira: análises de uma pesquisa nacional (ABRAMO; BRANCO, 2005). Projeto de Lei da Câmara dos Deputados aprovou o “Plano Nacional da Juventude” em 2004. Nas Ciências Humanas e Sociais estuda-se a vida juvenil na modernidade (GROPPO, 2000). Aborda-se a juventude do ponto de vista dos valores e ideais sociais (MATHEUS, 2002). Enfoca-se a violência e a criminalidade que submetem os jovens (VIANNA, 1997; WESELFISZ, 1998; ABRAMOVAY, 1999). Criticam-se os veículos de comunicação que associam a juventude à violência urbana ou a reduzem às páginas e programas teens (BRAGA; CALAZANS, 2001).  Enfatiza-se a dimensão educativa da vida juvenil nas cidades (CARRANO, 2003). Propõe-se uma abordagem político-pedagógica em oposição à apresentação da juventude como problema social (MORGADO, 2005).

CONCLUSÕES:

As ações dos atores políticos e os recentes estudos nas ciências humanas e sociais, particularmente na educação, indicam escolhas políticas e ações pedagógicas que ainda não puderam subverter a lógica da flexibilização e produzir mudanças substantivas nos processos educacionais juvenis. É o que pode ser verificado nas propostas governamentais e iniciativas sociais pesquisadas: após sucessivos insucessos no vestibular, egressos do Curso Técnico em Química escolheram a Graduação na mesma área porque reorientaram sua escolha pelo curso superior; dos vinte e três egressos do Projeto  “Arco-Íris” entrevistados apenas dois conseguiram concluir o ensino médio e encontrar trabalho; depois da reforma curricular do Bacharelado em Segurança Pública, tenentes egressos ainda reproduzem práticas usuais da PM no comando de seus subordinados que atuam junto à população; técnicos egressos do Projeto “Cinema Circulante” encontram reduzidas oportunidades de trabalho e diversos obstáculos para atuar como produtores culturais; após a Reforma da Educação Profissional de 1998, aumentou a evasão escolar de jovens em cursos técnicos do CEFET-MT; por fim, entre duas escolas estaduais do mesmo porte, situadas no centro de Cuiabá, aquela que menos recebeu investimento em infra-estrutura  e equipamento aprovou maior percentual de egressos na UFMT — entrevistas com alunos do ensino médio permitem entrever uma cultura particular nessa escola, baseada em intervenção e orientação pedagógica sistemáticas.

 
Palavras-chave: Estado; Sociedade; Educação da Juventude.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006