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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 11. Psicologia Social
QUALIDADE DE VIDA, MIGRAÇÃO E REPRESENTAÇÃO SOCIAL
Ieda Franken Rodrigues 1, 2
Maria da Penha de Lima Coutinho 1, 2
Vândia Cláudia Costa da Silva 1
(1. Departemento de Psicologia/UFPB; 2. Universidade Aberta de Portugal)
INTRODUÇÃO:

Em diferentes conceitos sobre qualidade de vida, os componentes conceituais subjetivos e objetivos se fazem presentes na sua quase totalidade. Para Minayo (2000), qualidade de vida é uma noção eminentemente humana que pressupõe a capacidade de efetuar uma síntese cultural de todos os elementos que determinada sociedade considere seu padrão de conforto e bem estar, sendo, portanto, uma construção social, com a marca da relatividade cultural. A Organização Mundial da Saúde (OMS), definiu “qualidade de vida”, como a percepção do indivíduo de sua posição na vida no contexto da cultura, e sistema de valores no qual ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações. Nestes tempos de globalização a migração internacional tem suscitado interesse de pesquisadores com intuito de conhecer e entender os processos subjacentes às respostas psicológicas aos contatos de diferentes culturas (Ramos, 2004). A teoria da representação social possibilita conhecer como os atores sociais apreendem os acontecimentos, os dados do meio ambiente, diretamente relacionados ao contexto social no qual vivem (Moscovici, 2003). O presente trabalho teve como enfoque teórico-metodológico a teoria das Representações Sociais e, por objetivo identificar os componentes conceituais nas representações da “qualidade de vida”, entre imigrantes brasileiros, que vivem o processo de aculturação e que escolheram a cidade de Genebra/Suíça, como local de acolhimento.

METODOLOGIA:

Trata-se de um estudo de campo de cunho qualitativo realizado na cidade de Genebra/Suíça. A amostra foi constituída de 50 imigrantes brasileiros, trinta e duas do sexo feminino e dezoito do sexo masculino. A constituição da amostra seguiu o critério da técnica de amostragem não probabilística. Os critérios de inclusão da amostra foram: aceitar participar do estudo; ter idade mínima de dezoito anos; estar vivendo na cidade de Genebra /Suíça, a pelo menos um ano. Utilizou-se como instrumento a técnica da Associação Livre de Palavras, e como estimulo indutor “qualidade de vida”. O teste de Associação Livre de Palavras foi adaptado no campo da Psicologia Social, por Di Giacomo em 1981, e desde então vem sendo amplamente utilizado nas pesquisas sobre as representações sociais (Coutinho2003). Os dados coletados foram processados pelo software Tri-Deux-Mots (Cibois, 1991) versão 2.2, que permite a visualização gráfica tanto das variáveis fixas, bem como as variáveis de opinião e analisados através da Análise Fatorial de Correspondência (AFC). A AFC é um procedimento metodológico que consiste em distinguir os vínculos estabelecidos entre as características dos indivíduos que constituem um grupo, ao qual pertença. Suas respostas ressaltam os vínculos existentes entre suas representações, enquanto conhecimento coletivo, de um grupo do qual pertença e suas singularidades enquanto pessoas individuais diferenciadas umas das outras.

RESULTADOS:

Os imigrantes participantes desta investigação, por meio da técnica da associação livre de palavras, elaboraram um campo semântico acerca da “qualidade de vida”, constituído dos seguintes elementos: “comer bem, ter moradia certa, trabalho, educação, saúde, estar feliz, ter tranqüilidade, viajar, ter dinheiro”. O grupo do sexo feminino objetivou a “qualidade de vida”, por meio dos elementos: “tranqüilidade, estar feliz, saúde, educação e moradia” o que nos leva a inferir que as mulheres ancoram o conhecimento da “qualidade de vida” na interdisciplinaridade dos fatores psicoafetivo, orgânico e social, enquanto o grupo masculino objetivou a “qualidade de vida”, “ter dinheiro, moradia e trabalho”, elementos mais associados às esferas sócio-econômicas.

CONCLUSÕES:

Os resultados encontrados apresentaram uma certa diversidade de respostas que permitiram a hipótese de que grupos de imigrantes representam “qualidade de vida” com componentes conceituais na interseção dos componentes cognitivos, comportamentais, afetivos e normativos. Os diferentes gêneros apresentaram particularidades no processo de ancoragem, demonstrando que o sexo masculino ao objetivar o conceito de “qualidade de vida” a “ter dinheiro, moradia e trabalho” sugere uma representação mais objetiva, consoante com seu papel de provedor das necessidades daqueles que estão sobre sua proteção. Enquanto as participantes do gênero feminino ao objetivarem suas representações acerca da “qualidade de vida” em “estar tranqüila, feliz, saúde, educação e moradia”, nos leva a inferir que suas representações encontram-se interligadas aos aspectos intra-subjetivos e nas relações intergrupais. Os dados vêm corroborar com Minayo, Hartz, Buss (2000), quando referem à existência de uma pluralidade conceitual na literatura especializada, na qual os componentes conceituais subjetivos e objetivos se fazem presentes na sua quase totalidade. Esperamos que nossa investigação venha contribuir para um maior aprofundamento da temática pesquisada e que venham suscitar interesses de outros investigadores no que diz respeito às representações sociais sobre “qualidade de vida” e as diferenças de gênero, no contexto da migração

 
Palavras-chave: Qualidade de vida; Migração; Imigrantes brasileiros.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006