A cultura que permeia o âmbito da saúde no decorrer dos tempos ainda se apresenta fragmentada, dessa maneira cabe a educação ser crítica e reflexiva, levando o cidadão a uma participação plena na sociedade, por isso a questão do processo de educação permanente se torna cada vez mais uma exigência inerente a reciclagem dos diversos profissionais de diversos setores. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), saúde é “um estado de completo bem estar físico, mental, social e espiritual”, desta maneira é necessário a atuação da interdisciplinariedade uma vez que o contexto de indivíduo saudável é amplo e holístico. Entendemos que a busca pelo controle social e qualidade de vida da população depende da multiplicação de conhecimento por parte de multiplicadores que irão atingir diversas áreas de atuação da sociedade. Filosofia esta também adotada pelo projeto Rondon criado em 1966, que tem a missão de viabilizar a participação dos estudantes universitários de diferentes cursos reunidos em uma equipe Rondonista interdisciplinar nos processos de desenvolvimento local sustentável e de fortalecimento da cidadania. Sendo assim, o objetivo do estudo é analisar a interdisciplinariedade na capacitação de multiplicadores, buscando apreender aspectos necessários para a implementação educacional nos processos de promoção de qualidade de vida.

Foi realizada coleta de dados em Felício dos Santos, município pertencente ao Vale do Jequitinhonha durante a realização do projeto Rondon Operação Minas 2006. Durante o projeto foram capacitadas pessoas consideradas multiplicadores de conhecimento (agentes comunitários de saúde, auxiliares de enfermagem, professores e líderes comunitários) por uma equipe interdisciplinar que contou com a participação de acadêmicos de enfermagem, serviço social, letras, ciências biológicas e dois coordenadores professores dos cursos de ciências biológicas e de enfermagem. A capacitação ocorreu durante 10 dias em fevereiro de 2006 com carga horária de 40 horas, ao final do processo educativo foi realizada coleta de dados, sendo apresentado um termo de compromisso livre e esclarecido para os multiplicadores que participaram da capacitação. Fizeram parte do estudo 34 multiplicadores que participaram das atividades educativas, sendo que 04 desistiram no meio da pesquisa. Trata-se de uma pesquisa descritiva onde foi aplicado questionário semi estruturado com perguntas sobre as últimas capacitações que participaram e sobre a capacitação desenvolvida pelo projeto Rondon.

Quando perguntado o que diferenciou a capacitação desenvolvida pelo projeto Rondon das demais capacitações, 36,6% disseram que foi a metodologia de ensino aprendizagem, destacando que se sentiram inseridos como co-capacitadores, 30% a interdisciplinariedade e 6,6% o enfoque na realidade local. Em relação ao método desenvolvido pelo projeto Rondon, 76,6% acham que foi utilizado metodologia participativa. Quanto as dificuldades enfrentadas com a ausência de um curso de capacitação, 43,3% responderam que é a insegurança e desmotivação. Dentre os fatores dificultadores para que os conhecimentos adquiridos nas capacitações que participam sejam desenvolvidos em sua prática de trabalho, 50% citaram a falta de recursos financeiros e apoio dos gestores. Sobre a interdisciplinariedade que esteve presente na capacitação, 53,3% disseram que os assuntos foram bem relacionados uns com os outros por isso devem ser trabalhados de forma interdisciplinar e 23,3% acham que a interdisciplinariedade evitou que as atividades ficassem repetitivas e cansativas. Sobre a forma como utilizarão em seu trabalho a capacitação oferecida, 53,3% relatam que vão multiplicar o conhecimento através de reuniões, grupos, teatros e palestras e 20% de forma interdisciplinar.

Na capacitação desenvolvida pelo projeto Rondon foi apontado como diferencial a metodologia de ensino aprendizagem, destacando a co-participação entre educandos e educadores, o enfoque na realidade local aproximando os multiplicadores dos seus reais problemas possibilitando assim a construção de soluções através de suas vivências além da interdisciplinariedade que possibilitou não limitar os assuntos a apenas uma área. Dos fatores que dificultam que os conhecimentos adquiridos nas capacitações que participam sejam desenvolvidos em sua prática de trabalho, se destacaram a falta de recursos financeiros e apoio dos gestores demonstrando a importância em envolvê-los nas capacitações. Os sujeitos citaram que a interdisciplinariedade evitou que os assuntos abordados ficassem repetitivos e cansativos, o que contribui para um melhor desenvolvimento e aproveitamento. A necessidade de educação permanente fica clara quando a principal dificuldade enfrentada com a ausência de um curso de capacitação é a insegurança e desmotivação, já que a qualidade dos serviços sociais, sejam governamentais ou não, está diretamente ligada a motivação do trabalhador, especialmente quando se trata de multiplicar conhecimentos junto a comunidade, favorecendo a qualidade de vida.