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C. Ciências Biológicas - 13. Parasitologia - 6. Parasitologia
PROTOCOLO DE IDENTIFICAÇÃO E QUANTIFICAÇÃO DE BUCEFALOSE (ENFERMIDADE LARANJA) EM MEXILHÕES Perna perna
Patricia Garcia 1
Aimê Rachel Magenta Magalhães 1
(1. Laboratório de Diagnóstico e Patologia em Aqüicultura/UFSC, Florianópolis - SC)
INTRODUÇÃO:
Os trematódeos digenéticos (Filo Platyhelminthes), com mais de 40.000 espécies, incluem parasitas de interesse em moluscos marinhos. A bucefalose ou “enfermidade laranja”, causada por Bucephalus, se caracteriza por apresentar estruturas filamentosas alaranjadas no manto do hospedeiro, devido aos pigmentos dos esporocistos do parasita. Infestações elevadas causam desnutrição e emaciam o corpo. As cercárias, formadas dentro dos esporocistos, castram o molusco, danificam órgãos e tecidos, podendo matar o bivalve quando saem do hospedeiro. O parasita eleva o consumo de nutrientes como glicogênio (infestação inicial) e lipídeos (infestação elevada). Atualmente, a bucefalose é apontada como a maior parasitose em mexilhões Perna perna (Linné, 1758). A prevalência dessa enfermidade no litoral brasileiro tem variado de 2% a 49%. Tal enfermidade deve ser acompanhada com cuidado, por representar um risco potencial aos cultivos de mexilhões. Através da Portaria nº 021/02, o estado de Santa Catarina aprovou as normas técnicas do Programa de Sanidade Aqüícola. A referida Portaria exige o controle e averiguação da bucefalose nos moluscos marinhos cultivados no Estado ou importados. Para execução deste tipo de teste em laboratórios da rede oficial, há necessidade da formalização de um protocolo de análise. Em função desta exigência, foi realizada a pesquisa que ora propõe um protocolo de identificação e quantificação dessa enfermidade de difícil diagnóstico macroscópico em estágios iniciais.
METODOLOGIA:
Em agosto de 2005, 50 mexilhões Perna perna, de 3 e 7 cm de comprimento, foram obtidos do cultivo experimental do Laboratório de Moluscos Marinhos-UFSC, na Praia de Sambaqui (27º29' S e 48º33' W), Florianópolis/SC. Individualmente, realizou-se exame macroscópicos das partes moles, para verificar a presença do trematódeo Bucephalus sp.. Foram identificados 6 animais parasitados, dos quais foram feitos cortes diagonais da massa visceral. Essas secções, com brânquias, manto, intestino e glândula digestiva, foram fixadas em Davidson marinho (24-48h) e transferidas para álcool 70˚. O material foi processado por histologia clássica. Os cortes de 3µm (micrótomo CUT 4055 – Olympus) foram corados com hematoxilina de Harris e eosina aquosa 1% - HHE. A intensidade da infestação foi determinada por estereologia, com a gratícula de Weibel acoplada ao microscópio óptico (Olympus CX 31). A contagem dos tecidos do hospedeiro (TH), do parasita (TP) e dos espaços vazios (EV), feita em duas áreas de cada animal, onde cinco campos escolhidos aleatoriamente e não sobrepostos foram mensurados (42 x 2 x 5). A fração do volume TH, TP e EV foi calculada e os animais foram classificados em diferentes graus de infestação: leve (L) <5%; moderado (M) 5–50 % e pesado (P) >50% de TP. As objetivas de 10x e 40x foram usadas nas contagens e a comparação entre elas foi realizada com o teste t de Student, utilizando o procedimento de permutação.
RESULTADOS:
A prevalência de Bucephalus sp. em P. perna foi alta: 12% (n=50). Não houve diferença significativa nas análises de TH e TP, usando as duas objetivas. Houve indicação de distorção na análise de EV (<.0001), em 2 indivíduos, em comparação efetuada nas objetivas de 10X e 40X. A objetiva de 10X foi mais eficiente que a de 40X, pela ampla varredura em cada área. A objetiva de 40X causa certa distorção, por avaliar uma área reduzida do animal, agravado pela emaciação do corpo. A parasitose foi moderada em 50% dos animais e pesada nos demais. No parasitismo moderado, houve predomínio de TH (tecido conjuntivo interfolicular; remanescência dos folículos e/ou paredes foliculares), incremento de TP, raras células germinativas foliculares, esporocistos com muitas esferas germinais formadoras de cercárias e cercárias de diversos tamanhos. Em mexilhões com alto grau de emaciação, observou-se redução do tecido conjuntivo interfolicular, provavelmente em função de desnutrição. Na bucefalose pesada houve predomínio, macro e microscópico, de TP, com folículos remanescentes e esporocistos com predomínio de cercárias maduras. Nos dois casos houve animais emaciados, com redução do tecido conjuntivo interfolicular e tecidos rompidos pela saída das cercárias maduras. Nas câmaras branquiais observou-se muitos esporocistos, cheios de cercárias.
CONCLUSÕES:
O protocolo sugerido para diagnóstico de bucefalose nos mexilhões inclui: exame macroscópico das partes moles; secções diagonais da massa visceral (brânquias, manto, intestino e glândula digestiva); fixação das peças em solução de Davidson marinho por 24-48h; transferência para álcool 70°; procedimentos histológicos clássicos de desidratação (álcool 70˚, 90˚ e 100˚); diafanização e inclusão em parafina. Cortes de 3µm de espessura; coloração com HHE. Análise microscópica e, se necessário, a quantificação da infestação deve ser realizada com estereologia, utilizando a objetiva de 10x. Sugere-se a seguinte classificação, para expressar a intensidade da infestação em porcentagem de tecido do parasita (TP) encontrado no manto do mexilhão: leve (L) <5%; moderado (M) 5–50 % e pesado (P) >50% de TP.
Instituição de fomento: Capes
 
Palavras-chave: Bucephalus sp; histopatologia; protocolo.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006