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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 15. Formação de Professores (Inicial e Contínua)
FORMAÇÃO DOCENTE: UM ESTUDO SOBRE A FORMAÇÃO E INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA DO PROFESSOR DE LÍNGUA PORTUGUESA
Risocleide Pereira Bezerra Rodrigues 1
Gizelli Farias de Santana 1
Graziela Brito de Almeida 2
(1. Departamento de Letras, Universidade Católica de Pernambuco/ UNICAP; 2. Departamento de Educação, Universidade Católica de Pernambuco/ UNICAP)
INTRODUÇÃO:
Nas últimas décadas, contamos com estudos sobre novas maneiras de viver, fazer, conviver. Estes, além de proporcionarem melhorias em todos os âmbitos do conhecimento, também dividiram o meio profissional em dois blocos: os profissionais engajados e convergentes com as mudanças e os conservadores. Na educação não é diferente. Alguns pesquisadores (Perrenoud, 2000; Delors, 2004; Morin, 2002) têm-se dedicado ao processo ensino-aprendizagem, seus sujeitos e suas funções, assinalando a necessidade de que o professor esteja comprometido com as inovações e reflita sobre sua intervenção pedagógica. Compreendemos que as mudanças dos paradigmas educacionais evidenciam o pensamento de que o professor atenda às novas exigências, possibilitando uma aprendizagem significativa para seus alunos. No entanto, fica a questão: por que alguns professores ainda resistem à reflexão da sua prática no sentido de transformá-la? Objetivamos analisar a prática docente de ensino da língua portuguesa; reconhecer a importância de uma prática docente reflexiva e a articulação dos conteúdos disciplinares com as diversas áreas do conhecimento; e identificar os motivos da resistência às mudanças. Pretendemos que este trabalho não seja um fim em si mesmo, mas o início do processo de compreensão e construção de uma prática comprometida com o desenvolvimento integral e inclusivo dos alunos, através de uma perspectiva interdisciplinar, e que possa suscitar outros questionamentos sobre a formação e prática docente.
METODOLOGIA:
O presente estudo tem a configuração da abordagem qualitativa por ser descritiva, entender o ambiente natural como fonte direta dos dados, ter o pesquisador como instrumento-chave e este apresentar preocupação com o processo e não simplesmente com os resultados e o produto, e sim com a análise e o significado dos dados. Realizamos um estudo exploratório. A amostra foi composta por cinco professores de língua portuguesa, de três escolas estaduais da região metropolitana da cidade do Recife. Os dados foram obtidos através de observações do processo de aprender e ensinar; e entrevistas semi-estruturadas, com questões referentes ao posicionamento dos professores quanto aos paradigmas educacionais, metodologias pedagógicas e processos de organização do trabalho docente. As questões contemplaram as seguintes temáticas: a) prática reflexiva do professor; b) interdisciplinaridade; c) resistência às mudanças paradigmáticas. A análise dos dados foi realizada a partir de categorizações e interpretada qualitativamente.
RESULTADOS:

A interpretação dos dados obtidos foi processada qualitativamente e de acordo com as temáticas analisadas durante a realização do presente estudo. A análise foi processada segundo as seguintes categorias:

 

a) paradigmas educacionais emergentes: resistência, aceitação ou negação como indicadores; 60% apresentavam resistência quanto às mudanças; 20% as negavam; 20% as aceitavam.

 

b) metodologias pedagógicas: prática reflexiva ou conservadora como indicadores; 80% apresentavam uma prática conservadora e 20%, uma prática reflexiva.

 

c) organização do trabalho docente: interdisciplinaridade ou fragmentação do conteúdo como indicadores; 80% apresentavam os conteúdos de forma fragmentada e 20%, apenas, adotavam a interdisciplinaridade.

 

A partir da análise dos dados, pudemos observar que alguns professores ainda tendem a ser reticentes no que tange às mudanças ocorridas nos paradigmas educacionais; ainda adotam procedimentos metodológicos conservadores; resistem ao aperfeiçoamento da sua prática, ou seja, não buscam, através da reflexão para a ação, assumir o perfil de educadores e pesquisadores. E, também, quanto a desenvolver situações de aprendizagem significativas para que os alunos possam buscar informações, analisar e (re)elaborar seu próprio conhecimento. De modo geral, os docentes apresentaram-se reticentes quanto às novas exigências educacionais, quanto à articulação dos conteúdos, quanto à reflexão da própria prática e quanto à busca de uma formação contínua.
CONCLUSÕES:
Os resultados deste estudo indicam que os professores, em sua maioria, apresentam dificuldades ao adotarem procedimentos ou estratégias de ensino apoiados nos paradigmas educacionais das últimas décadas. Alguns até os consideraram prejudiciais ao ensino ou, ainda, que ganham pouco para o muito que já fazem. Apesar disso, e embora apenas uma minoria se tenha envolvido, parcialmente, com a utilização da interdisciplinaridade como uma ponte para que o conhecimento, adquirido pelo aluno, seja global e não fragmentado, reconhecemos a importância de o professor refletir a própria prática e investir na articulação dos conteúdos disciplinares com as diversas áreas do conhecimento, a fim de assumir uma postura de pesquisador, propiciando a aproximação do aluno com as novas mudanças. Os motivos reconhecidos, quanto a adotar uma postura positiva em relação às mudanças paradigmáticas, foram questões salariais, resistência e, até mesmo, dificuldade em assumir compromisso com a formação dos alunos e com o desenvolvimento de projetos que atendam às necessidades do contexto social no qual estão inseridos. Contudo, cabe salientar que o êxito da intervenção pedagógica do profissional da educação consiste em reconhecer que a escola é um fragmento da educação global que o aluno recebe, e também que o processo de ensino e aprendizagem deve, através de práticas interdisciplinares, articular o conhecimento que provém da família, da mídia e da própria comunidade na qual o aluno está inserido.
Instituição de fomento: Universidade Católica de Pernambuco
 
Palavras-chave: Formação Docente Inicial e Contínua; Professor Reflexivo; Ensino de Língua Portuguesa.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006