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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 12. Ensino de Ciências

EXPERIÊNCIA EDUCACIONAL NÃO-FORMAL NO ENSINO DE BIOLOGIA DO COLÉGIO MOURA LACERDA

Moysés Elias Neto 1
Danilo Seithi Kato  2, 3
Guilherme Pedreira de Freitas Nader  1
Marcelo Fidelis Marques Mendes  1
Clarice Sumi Kawasaki  4
Marcelo Tadeu Motokane  4
(1. Departamento de Biologia / FFCLRP-USP; 2. Departamento de Ensino de Ciências e Matemática / FEUSP; 3. Instituição Moura Lacerda Unidade II Campus Ribeirão Preto; 4. Departamento de Psicologia e Educação / FFCLRP-USP)
INTRODUÇÃO:
Em contraste às crescentes abundância e qualidade de pesquisas em Ensino de Ciências nos últimos tempos, verifica-se uma limitação na aplicação de pedagogias alternativas que visem à melhoria do quadro educacional atual. Nesse sentido, a Educação não-formal (situada entre os âmbitos formal e informal e definida como qualquer tentativa educativa organizada e sistemática que se realiza fora dos quadros do sistema convencional de ensino) representa um conveniente campo de estudo e aplicação na tentativa de sugerir métodos pedagógicos alternativos aos tradicionais. Além disso, quando conciliada ao uso da experimentação de forma investigativa, crítica e questionadora, torna-se um recurso extremamente enriquecedor na busca por uma alfabetização científica. O presente trabalho retrata uma experiência não-formal na disciplina de Biologia realizada através de um curso experimental de cunho dialógico e problematizador disponibilizado a alunos de Ensino Médio privado do Colégio Moura Lacerda, Unidade II, no município de Ribeirão Preto-SP. O objetivo principal foi o de testar os efeitos da aplicação de uma proposta educacional não-formal no colégio citado com sua respectiva clientela.
METODOLOGIA:
O curso oferecido teve duração de 30 horas e contou com a participação facultativa de 15 alunos provenientes de diferentes turmas. O planejamento e a execução da seqüência de atividades didáticas foram baseados nas proposições básicas do Método Científico, essencialmente: 1) OBSERVAÇÃO - os alunos foram colocados em contato direto com todo um universo de fenômenos biológicos ocorrentes em seu próprio ambiente escolar; 2) REFLEXÃO - os alunos foram estimulados a refletirem sobre as causas e os efeitos dos fenômenos observados, a elaborarem questões e discutirem suas hipóteses; 3) INVESTIGAÇÃO - após triagem das questões a serem investigadas e levantamento de informações na biblioteca e no laboratório de informática do colégio foram delineados 2 projetos de pesquisa efetivados através de experimentações em campo e laboratório e discussões em sala de aula; e 4) ORGANIZAÇÃO DO CONHECIMENTO CONSTRUÍDO - as informações geradas e os conteúdos trabalhados foram organizados pelos alunos em uma apresentação oral oportunamente realizada numa Reunião de Pais.
RESULTADOS:

 Em todas essas etapas procurou-se fazer com que os alunos se percebessem como sujeitos agentes da produção de conhecimento e de sua própria aprendizagem. Tal autonomia, voluntariamente delegada, gerou um contexto do eixo ensino/aprendizagem mais aberto e dinâmico, motivando tanto os alunos como os professores, que por sua vez passaram a atuar como orientadores. O estímulo às observações ambientais na escola despertou diversas questões relativas ao ensino de Biologia. A excessiva flexibilidade da seqüência didática não prejudicou, ao contrário do que se esperava, a consistência dos conteúdos da disciplina, os quais surgiram de maneira natural nos entremeios das vivências investigativas. Além dos conceitos biológicos específicos, a utilização de uma postura não-formal nas atividades experimentais possibilitou trabalhar com os alunos conteúdos de extrema relevância, seja em nível conceitual (como aprender a natureza e os métodos da Ciência e as complexas interações entre Ciências, Tecnologia, Sociedade e Ambiente), procedimental (o “fazer” Ciência) ou ainda atitudinal (desenvolvimento da atitude científica, da autonomia, da capacidade de trabalhar em grupo, entre outros). Como destaque foi evidenciada uma mudança de postura dos alunos durante a realização do trabalho. Alguns deles, considerados como desinteressados em sala de aula, mostraram-se verdadeiros líderes nas atividades em campo.

CONCLUSÕES:
Nessa experiência relatada foi vivenciado um exemplo relativamente bem sucedido da utilização da experimentação não-formal como um artifício no Ensino de Ciências, mais especificamente no de Biologia. É importante salientar que esse caso foi concebido em circunstâncias particulares (escola privada, com suporte adequado e alunos diferenciados) e que deve ser tomado antes como aplicação de uma alternativa pedagógica do que propriamente como um modelo educativo. Segundo Paulo Freire, a educação não pode ser efetiva e eficaz sem que os educandos nela tomem parte de maneira livre e crítica. A experimentação não-formal, quando bem planejada, transmite autonomia aos alunos necessária à aprendizagem e ainda tem o potencial de promover interação entre quem faz e quem ensina Ciências. Os resultados mostraram que experiências não-formais de ensino funcionaram no colégio Moura Lacerda, não só como prática de aprendizagem significativa mas também como um fator motivador aos estudos em sala de aula. Tendo em vista a Escola contextualizada num mundo em transformação onde é preciso se atentar a um amplo espectro de saberes, a execução de cursos experimentais não-formais deve ser estimulada como forma de aprimorar o ensino de Ciências frente a uma realidade multicultural e multifacetada.      
 
Palavras-chave: Educação Não-Formal; Experimentação; Ensino de Ciências.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006