As corporações transnacionais são um dos principais agentes do processo de globalização. As mesmas têm adquirido, crescentemente, maior mobilidade e importância no sistema global, em face da intensa competição que as obriga a prospectar mercados emergentes e da oferta de vantagens competitivas por países em desenvolvimento e no interior de países desenvolvidos - salários baixos, infra-estrutura, mão-de-obra escolarizada, sindicatos fracos e incentivos financeiros e fiscais. A questão central em discussão neste trabalho refere-se à presença de agentes globais e as implicações dela decorrentes em mercados de trabalho regionais.

Essa questão é analisada, tomando-se como campo de investigação empírica a instalação do Complexo Industrial Automotivo de Gravataí (CIAG), ocorrida no ano de 2000. Examinam-se os reflexos desse investimento no município de Gravataí (PIB, alvarás comerciais e industriais, nível de emprego, arrecadação de tributos) e no setor metal-mecânico em municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre, em termos do número e do tamanho das empresas, do perfil da mão-de-obra (escolaridade, sexo, idade) e do volume e qualidade do emprego no setor (estoque de empregos, remuneração, tempo no emprego, jornada de trabalho, benefícios sociais). Os dados foram extraídos de fontes secundárias diversas, tais como Relatório Anual de Informações Sociais (RAIS-MTE), relatórios da Prefeitura Municipal de Gravataí e Convenções Coletivas de Trabalho.

A análise dos dados revela mudanças na dinâmica do mercado de trabalho na região, que representam ganhos para os trabalhadores, como elevação geral do nível de emprego, reajuste salarial acima dos índices de inflação e maior escolarização da mão-de-obra. Ademais, a atividade produtiva experimenta ampla expansão no município de Gravataí e em outros municípios da região. Todavia, essas vantagens não afetam a todos os trabalhadores da mesma forma. O crescimento se verifica de forma mais consistente em municípios que já detinham parque metal-mecânico relativamente constituído, antes da presença do CIAG. Além disso, a expansão do emprego é mais significativa entre os jovens e os homens.

O argumento da análise seria o de que a presença de agentes globais estimula novas dinâmicas nos mercados de trabalho regionais. O desequilíbrio nas relações entre agentes globais e agentes locais, a velocidade das mudanças e a complexidade das tecnologias estrangeiras podem constituir processos traumáticos, com sacrifícios para certos segmentos de trabalhadores. A despeito das perdas, os agentes locais tendem a desenvolver estratégias que visam ao ajuste ao novo contexto, tentando extrair vantagens. A presença de agentes globais significa novos capitais e tecnologias que dinamizam e diversificam mercados de trabalho na esfera local. Esses impactos atingem, porém, diferentemente setores e segmentos econômicos e sociais.

Instituição de fomento: CNPq