IMPRIMIR VOLTAR
G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 3. Geografia
CLIMA LOCAL E A EXPANSÃO DA SOJA NO MATO GROSSO: O CASO DE VERA.
Simone Schreiner 1
Gilda Tomasini Maitelli 2
(1. 1 Universidade Federal do Mato Grosso, Departamento de Geografia-UFMT; 2. Prof. Drª da Universidade Federal do Mato Grosso, Departamento de Geografia UFMT)
INTRODUÇÃO:

A região da Pré -Amazônia Mato-grossense, integrante da Amazônia Legal, compreende o centro norte do estado de Mato Grosso, localizando-se na zona tropical e interior do continente sul-americano é considerada como um ecótono de transição entre o Cerrado e a Floresta Amazônica. Esse espaço vem sendo submetido a um rápido processo de transformação, com a derrubada da vegetação original e a implantação de um novo sistema produtivo. Como essa área pertence à zona de transição, facilita ainda mais o desmatamento, pois são áreas planas, os solos mais fracos e a floresta é constituída de arvores mais finas, propiciando o desmatamento e a implantação da produção da soja.

Com o avanço da agricultura mecanizada no norte do Estado a porção de áreas vegetadas vem diminuindo de forma espantosa devido ao alto índice de desmatamento, estes fatores associados com a expansão urbana e os diferentes usos do solo podem provocar diversos problemas sócio-ambientais. Entre eles destaca-se a interferência nas condições atmosféricas e em especial na temperatura e umidade do ar.

O presente estudo tem como objetivo verificar as possíveis modificações das variáveis da temperatura e umidade relativa do ar, provavelmente derivadas dos processos de desmatamentos e da expansão da produção de soja no município de Vera este pertence a mesorregião do Norte Mato-Grossense e a microrregião de Sinop, estando localizado nas coordenadas: 12º17’07 “de latitude sul, e 55º17’47” de longitude oeste.

METODOLOGIA:

Com vistas a alcançar os objetivos propostos adotamos os seguintes procedimentos: levantamento bibliográfico (livros, artigos científicos, dissertações, teses, jornais impressos e revistas), participações de seminários e workshop, envolvendo temas relacionados ao projeto na área humana e física e sobre a região. Foi realizada uma viagem de campo, com o principal objetivo de reconhecimento da área, e coleta de dados sobre a região (fotografias, mapas, informações com produtores rurais sobre a produção, desmatamento e chuvas).

Para realização deste trabalho, foram utilizados dados de temperatura e umidade do ar, coletados na Estação Convencional Meteorológica de Vera – Gleba Celeste. As medidas foram tomadas diariamente as 08:00 h, 14:00 h e as 20:00 h, no período de setembro de 2003 a setembro de 2004, sendo trabalhados e analisados no Laboratório de Climatologia, da Geografia.

RESULTADOS:

Um dos componentes naturais que sofre diretamente os impactos da crescente urbanização, modificação do uso do solo, alteração da vegetação natural é o clima. A modificação da produção agrícola, o aumento da mecanização, a diminuição da vegetação natural, modificam os atributos do clima. Esses fatores estão presentes no município de Vera, onde este possui 295.086,80 hectares, destes 12.637,52 hectares foram desmatados até 2002, um total de 98.615,38 hectares, representando 33,42% da área do município. A cultura que vem se destacando no município é soja, com uma área de 23.000 hectares e a produção 66.240 toneladas em 2002.

Com base nas coletas realizadas, optamos por analisar dados do horário das 20:00 h, devido à ausência da influencia da radiação solar direta. O que acontece no período noturno é a reflexão de radiação da superfície da terra absorvida durante o dia, para a atmosfera. No mês de fevereiro de 2004, referente à estação das chuvas, observou-se a temperatura varia entre 21,5°C a 26°C, e a umidade relativa varia entre 82 % a 98%, devido a influencia do ar úmido vindo da Floresta Amazônica. Já nos meses de seca, referentes à estação do inverno, especificamente no mês de agosto de 2004, a temperatura variou entre 20,5°C a 29°C, (as baixas temperaturas 21°C e 22°C nessa época estão relacionadas à entrada na região de frentes frias, típicas nesse período do ano) e a umidade relativa varia entre 56% a 77%.
CONCLUSÕES:

As análises dos dados climatológicos coletados propiciaram os parâmetros relativos às estações seca e chuvosa. Onde as maiores diferenças foram observadas entre os meses de fevereiro e agosto, onde as temperaturas mais amenas se concentram nos meses de janeiro e fevereiro, por volta dos 25°C, e onde a umidade do ar esta mais elevada, chegando aos 86%, correspondente a estação da chuva. Já nos meses de agosto e setembro, referentes à estação da seca, a temperatura chega aos 29°C e a umidade relativa do ar gira em torno 55 %. Isso se explica devido à circulação geral da atmosfera, que nesse período tem-se uma menor entrada de ar úmido da Amazônia, dificultando a formação de nuvens e a ocorrência de chuvas. Esses fatores associados ao alto nível de queimadas nessa época fazem com que haja uma queda na umidade relativa do ar. Analisando o comportamento da umidade relativa percebe-se que ele se mostra inversamente proporcional aos valores da temperatura. Provavelmente, as diferenças acentuadas entre temperatura e umidade relativa do ar sejam derivadas das modificações que vem ocorrendo no uso e ocupação do solo na escala local, influenciado pelas grandes modificações ocorridas no espaço do Estado de Mato Grosso.

Instituição de fomento: FAPEMAT/CNPq
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Expansão da soja; desmatamento; clima local.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006