A saliva é um fluido corporal facilmente obtido, servindo como material para análise de moléculas com funções biológicas importantes. Dentre essas, as metaloproteinases de matriz (MMPs) podem participar da patogênese de lesões mucosas e cáries. MMPs hidrolisam componentes da matriz extracelular (MEC) e tem papel central em muitos processos biológicos e patológicos. TIMPs (inibidores teciduais de MMPs) são seus principais inibidores. Um desequilíbrio entre atividades de MMPs e TIMPs pode resultar em uma degradação excessiva da MEC, liberando componentes como fatores de crescimento e migração celular. Vários produtos naturais têm sido testados quanto a sua eficácia inibitória sobre as MMPs, especialmente sobre as MMP-2 e 9, também denominadas gelatinases. Algumas plantas são constituídas por substâncias que possuem atividades antioxidantes, anticarcinogênicas, antiinflamatórias e rejuvenecedoras. Dentre estas substâncias, os polifenóis são os mais estudados. A babosa (Aloe vera), a cereja (Prunus avium), a uva (Vitis vinifera) e o chá oolong (Camellia sinensis), são plantas ricas em polifenóis e largamente utilizadas na fitoterapia e na medicina tradicional asiática. O presente trabalho teve como objetivo verificar o poder inibitório da atividade gelatinolítica dos extratos aquosos de babosa, de sementes de cereja e de uva e de chá oolong sobre as gelatinases presentes na saliva humana.

Fez-se um pool de saliva de 4 voluntários que foi centrifugada e o sobrenadante foi utilizado para a dosagem de proteínas (Bradford,1976), utilizando BSA (soro albumina bovina) como padrão. A atividade proteolítica da saliva foi detectada por zimograma SDS-Page 11% de gelatina 1% copolimerizada segundo Heussen e Dowdle (1980), correndo 5μg/μl de proteína. A eletroforese foi realizada em câmara fria a 4°C, 100 V por 2 horas. Em seguida os géis foram lavados por 1 hora em 2,5% Triton X-100. A babosa, as sementes de uva e de cereja e o chá oolong ficaram, separadamente, em infusão (1:100 em água bidestilada, banho-maria a 60°C, por 1 hora) sendo posteriormente filtradas. Com estas infusões foram preparados os tampões de inibição (TI: Tris HCL 0,05M, CaCl2 6mM e extrato 1:100). O tampão de ativação (controle) foi feito substituindo as infusões por água bidestilada. Para verificar a influência dos extratos na inibição da atividade de gelatinases da saliva, os géis foram colocados, overnight, nos tampões de ativação e de inibição. Os géis foram corados (1h) com 0,25% azul de comassie, 45% metanol, 10% ácido acético em água bi-destilada e foram descorados (15 min) com 30% etanol, 10% ácido acético em água bi-destilada.

A atividade das gelatinases foi detectada através da visualização das bandas claras nos géis corados. Esses géis são relativos aos que foram deixados no tampão de ativação. Os tampões que continham os extratos aquosos de semente de uva e de chá oolong inibiram totalmente a atividade gelatinolítica, o que foi comprovado pela ausência de banda clara nos géis. Os tampões feitos com extratos aquosos de babosa e semente de cereja apresentaram capacidade de inibição gelatinolítica quando comparados ao controle, mas menor do que os TI feitos com extratos aquosos de semente de uva e chá oolong.

Os resultados positivos para a inibição de gelatinases da saliva por extratos aquosos de semente de uva (Vitis vinifera) e de chá oolong (Camellia sinensis L.) sugerem que as substâncias presentes nestes extratos podem ser estudadas como potenciais terapias no controle dos processos de remodelação da matriz extracelular e no controle das doenças relacionadas com estes processos.

Instituição de fomento: FAPEMIG, FEIT