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H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 1. Literatura Brasileira

DEUSES TECIDOS NA METÁFORA:

O SAGRADO NA LITERATURA POÉTICA PARAIBANA DO FINAL DO SÉC. XX

Weber Firmino Alves 1
Eli Brandão da Silva  2
(1. Universidade Estadual da Paraíba / UEPB; 2. Universidade Estadual da Paraíba / UEPB)
INTRODUÇÃO:

A referência literária aponta para o mundo humano, no qual encontramos o fenômeno religioso com seus textos e símbolos. Estudá-la para descobrir as imagens do sagrado por ela veiculadas é compreender uma dimensão constitutiva da cultura e da sociedade.

A passagem de um milênio para outro, geralmente, é marcada por predições acerca de um fim de tempo (mundo) e início de um outro. Nesse período tem sido comum a efervescência de movimentos religiosos.

O final do último século-milênio e início do atual configura-se num tempo de símbolo que remete aos ritos de passagem, pois experimentou eventos que facilitam o desenvolvimento de concepções milenaristas: a luta de um sindicalista para chegar à presidência da república, pretendendo promover dias melhores ao povo brasileiro e sua ascensão ao governo; os constantes ataques terroristas ao mundo ocidental, em especial ao mundo americanizado, culminando na derrubada inesperada das duas torres gêmeas nos EUA; as batalhas no Oriente Médio, etc.

O objetivo desta pesquisa não é de natureza apologética, mas simplesmente o de verificar a presença de discursos milenaristas na literatura. Portanto, a pesquisa responde à seguinte questão: Que concepções do sagrado-milenarista a literatura paraibana reflete entre o final e início de um novo milênio?

Assim, de um modo progressivo foi possível identificar temas e figuras referentes ao sagrado na literatura paraibana, comprovar e analisar os estratos discursivos teológicos milenaristas presentes nelas.

METODOLOGIA:

A pesquisa iniciou com um levantamento bibliográfico do acervo literário poético produzido no estado da Paraíba entre os anos de 1994 e 2004. Visitou-se os principais sebos da cidade de Campina Grande-PB e João Pessoa-PB, a biblioteca municipal de Campina Grande-PB, as bibliotecas universitárias das duas maiores cidades da Paraíba (UEPB – Campina Grande-PB; UFPB – João Pessoa-PB), e o NUPEL (Núcleo de Pesquisa em Literatura) do Departamento de Letras da UEPB.

Ao se perceber a imensidão de obras deste período procurou-se delinear o objeto de estudo, estabelecendo critérios na seleção das obras que serviriam de amostra.

Os critérios na seleção das obras foram: obra de poesia paraibana; publicação entre os anos de 1994 e 2004; presença de ISBN, permitindo acessibilidade maior; editora reconhecida que possibilitasse publicação acessível, no mínimo, para o Estado. O critério estabelecido para o reconhecimento de uma obra como paraibana foi o nascimento ou vivência expressiva do autor no Estado da Paraíba, possibilitando a herança cultural da região, independendo da publicação ter sido realizada no Estado da Paraíba.

As obras selecionadas foram lidas e analisadas, considerando o processo interdiscursivo que ocorre quando incorporam temas do sagrado e do milênio a fim de perceber se há concepções milenaristas nestes autores paraibanos.

RESULTADOS:

Foram encontradas 52 obras de cunho poético genuinamente paraibanas, sendo que apenas 18 atingiram os critérios estabelecidos. Mediante leitura destas obras, concluiu-se que a hipótese sugerida, isto é, de que na passagem de um milênio para outro há o surgimento de concepções milenaristas, não pode ser confirmada, pois nenhum livro apresentou qualquer poema que desenvolvesse tal tema. O tecido teológico é fortemente presente em todas as três obras lidas e analisadas, mas não há qualquer indício do fim do atual mundo e nascimento de um outro.

O título de alguns poemas até sugeria uma possível relação, como no caso de “Dez lições de amor para o novo milênio” de Pontes (2004), mas a leitura e análise do poema mostram o eu-lírico se voltando para outro tema como ideal a ser vivido: o amor.

Teixeira (2002) também tem um poema intitulado “Máximas”, cujo subtítulo, em forma de comentário, é bastante sugestivo – “Sutilezas de fim de século – espetáculo do inevitável”; além disso, a data em que foi elaborado (Setembro de 1999) também facilitaria concepções milenaristas. Porém, a análise acurada do texto faz entender que o eu-lírico refere-se ao ato de enfrentar desafios e momentos delicados, chegando a cometer maldades a fim de alcançar glórias não antes atingidas:

Portanto, a passagem do milênio não inseriu o pensamento milenarista nos autores paraibanos; por outro lado, os fez refletir em outras temáticas que proporcionam o anseio por dias melhores: o amor, a esperança, a paz etc.

CONCLUSÕES:

No desenvolvimento da pesquisa, conseguiu-se confirmar a tese de que o homem é um ser essencialmente religioso, pois em todas as obras encontram-se tecidos teológicos. Porém, a hipótese sugerida no projeto de pesquisa não pôde ser confirmada, pois as obras estudadas não tinham qualquer menção de milenarismo no sentido do encerramento do mundo atual e ressurgimento de um novo mundo.

A negação da hipótese levantada quanto à efervescência milenarista não minimiza a importância da pesquisa, pois, ainda assim, foi possível confirmar a presença do sagrado na literatura poética paraibana, além de proporcionar o conhecimento de outros temas tecidos na metáfora dos poetas paraibanos entre o final do séc. XX e início do séc. XXI, como o amor, a esperança, a paz, igualdade etc.

A amostra levantada foi suficiente para negar a hipótese proposta na pesquisa, mas é possível se investigar as obras não registradas com ISBN a fim de conseguir entender a diferença entre esta literatura marginalizada e aquela estudada nesta pesquisa.

Instituição de fomento: CNPq/UEPB
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: literatura; milênio; sagrado.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006