Josué de Castro, brasileiro natural de Pernambuco e que dentre outras atividades que exerceu, foi médico, nutricionista, geógrafo e político, nos legou vários trabalhos centrados numa questão das mais primordiais para o homem: a fome. Contudo o que é mais sensacional em seu trabalho é que o tema fome não só é visto com o olhar do médico, do nutricionista ou só do geógrafo. Pelo contrário, é visto sob o olhar de várias ciências, desde as humanas até as da área de saúde. Este presente trabalho vem contemplar esse lado do Josué, o Josué multidisciplinar, que com seus estudos torna a fome uma preocupação de várias áreas do conhecimento. Revisitar a obra de Josué de Castro é o que os autores deste projeto vêm realizando. Essa releitura é importante no sentido de se pensar o problema da fome atualmente, pensar este que seja uma preocupação não só entre os dirigentes do país, mas de toda a sociedade, para que o combate seja mais ardoroso e que se chegue enfim a uma solução.

Inicialmente foi feito por parte da equipe um levantamento das obras escritas por Josué de Castro. Assistiu-se também a vídeos, palestras, realizaram-se visitas ao Centro Josué de Castro, localizado no bairro da Boa Vista no Recife, e também montaram-se sessões de estudo para se discutir a obra de Josué, sob a supervisão da orientadora professora Thaís de Lourdes Correia da Andrade, do Departamento de Ciências Geográficas da UFPE. Nas leituras realizadas, o que se buscou foi identificar as intervenções feitas pelo Autor nos diversos campos do conhecimento tanto da área das ciências humanas quanto na saúde. Isso foi constatado em todos os seus trabalhos, a exemplo da Geografia da Fome, Geopolítica da Fome e Ensaios de Biologia Social.

Em seu olhar de médico, Josué de Castro teve a preocupação em detectar a existência da fome em sua época e descrever as principais mazelas causadas pela mesma no ser humano. Carências alimentares e suas respectivas doenças são descritas pelo Autor, além de escrever também sobre os episódios de fome aguda e a alta incidência de mortalidade relacionada. Desse modo, foi identificada as intervenções feitas pelo Autor nos diversos campos do conhecimento. Mas a preocupação com a fome nos estudos Josué vai além do olhar de um médico. Como geógrafo, ele localiza o problema, a exemplo do que é visto na Geografia da Fome, identifica suas causas e os efeitos que ela pode ter nas diferentes sociedades humanas. Além do mapeamento dessa mazela fome, Josué mostra como as populações atingidas enfrentam o problema: encaram ou convivem com ele. Ao enveredar na área das ciências sociais e humanas, Josué amplia seu campo de visão sobre o problema e percebe também que a política tem sim relações com o tema, ao diagnosticar que estava mexendo com “um tema proibido”.

A importância de Josué de Castro reside no fato de que, ao tratar o tema fome sob variados pontos de vista, mostrou que a preocupação não deve ser só de um profissional apenas, isto é, só do geógrafo ou só do médico ou só do cientista social, mas de todos. E ainda pode-se ir mais além do campo intelectual: é de toda a sociedade, para que ela, unida, pressione os dirigentes a resolverem o mais rápido possível o problema, e que a solução seja eficaz e não apenas aliviadora. Além disso, estudar os trabalhos de Josué de Castro é revisitar a obra de um grande brasileiro. Um brasileiro que até chegou a dirigir por algum tempo o órgão das Nações Unidas responsável pela alimentação mundial, a FAO e que, já em sua época se inquietava com aqueles que pouco ou nada tinham para sobreviver. Prova disso, é a célebre frase do Autor: "Metade da humanidade não come; e a outra metade não dorme, com medo da que não come".