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G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 8. Antropologia
ESTUDANTES INDÍGENAS NAS CIDADES: UMA SITUAÇÃO LIMINAR
Rodolpho Rodrigues de Sá 1
Elizabeth Maria Beserra Coelho 2
(1. Departamento de Sociologia e Antropologia (DESOC) - UFMA; 2. Departamento de Sociologia e Antropologia (DESOC) - UFMA)
INTRODUÇÃO:

Esta pesquisa analisa a situação de estudantes indígenas nas escolas urbanas em Barra do Corda – MA. Procura mapear as razões que levam a esse deslocamento, as estratégias de manutenção desses estudantes na cidade, as relações que estabelecem nas escolas e a atitude dos órgãos públicos face a essa problemática.

METODOLOGIA:

Foram utilizados dados obtidos nos três Núcleos da Fundação Nacional do Índio em Barra do Corda, em conversas informais com estudantes indígenas, com seus familiares nas aldeias e com não-indígenas relacionados com essa questão (professores, estudantes e diretores, não-indígenas, das escolas municipais). A análise foi conduzida a partir da noção de “fricção interétnica” (OLIVEIRA, 2001) e “cidadania diferenciada” (KYMLICKA, 1996), visando compreender a situação interétnica específica da inserção de indígenas em escolas urbanas, considerando o que está posto no Plano Nacional de Educação (2001), que prevê que o Estado preste assistência aos indígenas nas escolas urbanas.

RESULTADOS:

O Plano Nacional de Educação (2001) prevê que o Estado preste assistência aos indígenas que freqüentam escolas urbanas. A única assistência prestada a esses alunos, que cabia à Gerência de Articulação e Desenvolvimento da Região do Centro Maranhense (GADRCM), é feita pelos “Núcleos da FUNAI” e tem se restringido ao fornecimento de material didático. Esta reduzida assistência, até 2004, era prestada apenas aos alunos indígenas do Ensino Fundamental Maior e Ensino Médio. Devido a exigência da FUNAI/ Brasília, em 2005, foi ampliada para aqueles do Ensino Fundamental Menor. Existem, aproximadamente, 325 estudantes indígenas nas escolas de Barra do Corda, sendo 263 Tenetehara/Guajajara, 53 Ramkokamekrá/Kanela e 09 Apaniekrá/Kanela. Os indígenas alegam que a migração é decorrente da “necessidade” de dar continuidade aos estudos, pois nas aldeias, salvo raras exceções, só há o Ensino Fundamental Menor. Afirmam que a “escola” é um meio de acesso ao “mundo dos brancos”. No entanto, há índios freqüentando o ensino fundamental menor na cidade. A manutenção na cidade é feita, fundamentalmente, pelos familiares, fato que pressupõe não ser individual a iniciativa de estudar fora da aldeia. O cotidiano nas escolas na cidade é marcado por discriminações negativas dos “brancos” em relação aos índios e até pela negação de sua indianidade.

CONCLUSÕES:

A previsão do Plano Nacional de Educação (2001), frente a esses estudantes, é desconsiderada pela GADRCM, órgão público que deveria executar e supervisionar a educação escolar indigenista em Barra do Corda. A permanência nas cidades acaba por se constituir como responsabilidade dos índios e seus familiares. A migração para a cidade gera tensões no interior das aldeias, principalmente nas Timbira, pois à “necessidade de adquirir novos conhecimentos” associa-se o “temor da perda cultural”. Os índios vivenciam uma situação liminar, uma fronteira (Hall, 2003), onde seus valores entram em confronto com o modo de ser dos “brancos”. Mesmo negada em certos discursos, a existência da “fronteira” entre o “nós” (“os brancos”) e o “eles” (“os indígenas”) é perceptível nas relações cotidianas, a qual aflora em situações de “confronto interétnico”.

Instituição de fomento: CNPQ/PIBIC
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Estudantes indígenas; escolas urbanas; relações interétnicas.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006