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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 15. Formação de Professores (Inicial e Contínua)
GRUPO DE ESTUDO: UMA ALTERNATIVA À FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES
Amélia Maria Jarmendia 1
(1. Universidade Cruzeiro do Sul - UNICSUL)
INTRODUÇÃO:

Há muitos anos atuando no sistema público de ensino, pude constatar quão difícil é a introdução de mudanças no fazer docente quando o que se espera que os professores façam vai além de aprender e aplicar novas técnicas, implicando revisões conceituais acerca do processo de ensino e aprendizagem e da própria prática.

 

Minha experiência e os estudos realizados levam-me a crer que mudanças no fazer docente mantêm relação direta com processos de formação que reconheçam a importância tanto do conhecimento das experiências de ensino dos professores, quanto do estabelecimento de vínculos entre o que fazem e pensam os docentes e o que deles se espera. O que, em geral, não é observado na condução dos processos de formação continuada. Salvo raras exceções, a formação continuada tem sido entendida como reciclagem dos professores e organizada visando à atualização dos conhecimentos disciplinares e à difusão de novas técnicas.

 

Considerando a forma como, freqüentemente, se dá a formação continuada e acreditando que é possível que a ação formativa se dê por meio de um processo conduzido de forma flexível, em que o fazer e o pensar dos professores, bem como suas necessidades, sejam tomados como ponto de partida para discussões e estudos, lancei-me a uma pesquisa cuja questão central foi: Como organizar e conduzir um processo de formação continuada que, rompendo com o modelo convencional, possa contribuir tanto para o avanço do conhecimento na área, quanto para o desenvolvimento pessoal e profissional do professor?

METODOLOGIA:

Visando a encontrar resposta para a questão central da pesquisa, organizei, com a colaboração de um grupo de professoras, um espaço e tempo de formação, que denominamos Grupo de Estudo - GE, que também é recurso metodológico da pesquisa.

 

O GE foi entendido como uma estratégia de formação que supõe a participação ativa dos professores, que, em função de suas necessidades, procuram definir o que trabalhar, trocam informações como forma de reflexão sobre as experiências vividas, que são compartilhadas, sobretudo, na forma de relatos de prática, e lançam-se ao aprofundamento teórico, mediante leituras de estudo, que são socializadas no Grupo.

 

Concebido o GE da forma exposta, a escolha dos procedimentos metodológicos nele adotados - relato de prática e socialização de leitura de estudo - foi orientada visando a que fosse possível ao professor: compartilhar seu fazer e pensar; refletir sobre suas experiências e as de seus pares; questionar posturas e/ou práticas cristalizadas; adquirir novas compreensões sobre o objeto de ensino; aprender com seus pares e contribuir para sua aprendizagem; envolver-se mais com sua própria formação e adquirir autonomia.

 

A ação formativa desenvolvida por meio do Grupo de Estudo gerou dados que foram coletados por meio de técnicas próprias de uma abordagem qualitativa: Observação direta intensiva; Observação direta extensiva (mediante aplicação de dois questionários) e Material produzido pelas professoras (síntese dos encontros e apreciação dos encontros).

RESULTADOS:

A leitura e a análise dos dados permitiram constatar a pertinência dos procedimentos metodológicos adotados no GE, pois foi possível identificar-lhes características que os tornam recomendáveis a processos de formação continuada que buscam romper com o modelo convencional e em que os professores não são meros beneficiários, mas sujeitos de sua formação, pois: permitem que a prática seja resgatada como espaço de formação; possibilitam acesso aos conhecimentos dos professores, que servem de ancoragem para a (re)construção dos saberes docentes; permitem a releitura do trabalho de quem faz o relato mediante as considerações de seus pares; possibilitam acesso ao fazer e pensar de vários professores, pois a prática relatada dialoga com outras, por meio de conexões que se estabelecem, dando origem a outros relatos; criam condições para o diálogo reflexivo consigo mesmo e com o outro, de que pode decorrer o surgimento de alternativas metodológicas; permitem uma relação mais dinâmica entre teoria e prática, em que aquela contribui para explicar esta e fornece elementos para sua discussão e reflexão; contribuem para a criação de um contexto alternativo de aprendizagem, em que é possível aprender com os pares; fornecem idéias / conteúdos para o respaldo das práticas (fundamentam teoricamente a prática) e para mudanças (mostram que é possível fazer e pensar de forma diferente).

CONCLUSÕES:

Considerando a pertinência dos procedimentos metodológicos adotados na condução compartilhada da ação formativa, o Grupo de Estudo mostrou-se uma proposta alternativa adequada para a formação continuada de professores com base nas seguintes constatações: possibilitou o exercício e desenvolvimento da autonomia compartilhada; por basear-se no fazer do professor, permitiu recuperar a prática como espaço de formação e reflexão; contemplou as necessidades de formação dos professores; estabeleceu uma relação dinâmica entre o discurso teórico e a prática, possibilitando a criação de vínculos entre o que fazem e pensam os professores e o que deles se espera; possibilitou a criação de um espírito de Grupo calcado na cooperação e apoio mútuo, que tornou possível falar sem medo, criticar, dar sugestões, exercitar a autocrítica e propor mudança visando a melhorar o próprio processo formativo, bem como possibilitou ao professor aprender com seus pares, contando com a colaboração da coordenação do Grupo, que não assumiu o papel de professor, mas o de parceiro experiente como quem é possível compartilhar seu fazer e pensar.

 

Em síntese, a pesquisa revelou que é possível organizar e conduzir um processo de formação continuada que, rompendo com o modelo convencional, contribui tanto para o avanço do conhecimento na área, quanto para o desenvolvimento pessoal e profissional do professor.

 
Palavras-chave: Formação Continuada; Aprendizagem Docente; Autonomia Compartilhada.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006