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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 6. Psicologia do Desenvolvimento Humano
JOVENS ADULTOS UNIVERSITÁRIOS E DEPENDÊNCIA FINANCEIRA
Morgana Pereira Neves 1
Daniela Rodrigues Silva 1
Leonardo Gomes Bernardino 1
Thatiane Duarte Mendes 1
(1. Instituto de Psicologia - Universidade Federal de Uberlândia)
INTRODUÇÃO:
O trabalho realizado teve como objetivo investigar se a dependência financeira causa algum tipo de angústia nos jovens adultos universitários e, ainda, verificar como eles percebem e lidam com este sentimento. O conhecimento sobre esse assunto pode fornecer subsídios para intervenções, que previnam o desajuste psicológico que a angústia pode gerar. Assim, pode-se evitar a evasão, que é um dos maiores problemas do ensino superior. O jovem adulto encontra-se em uma fase de desenvolvimento entre a adolescência e a idade adulta, que está compreendida em torno de 20 -25 anos de idade. Nessa fase, há o estabelecimento estável de identidade pessoal e sexual, uma certa independência dos pais e é o início do estabelecimento de uma escala de valores, ou código de ética próprio. É importante lembrar que estas características podem variar de pessoa para pessoa, dependendo de sua cultura, classe social, e de sua experiência de vida. A nossa cultura considera os anos iniciais da vida adulta, os melhores de toda a vida, fisicamente isso é uma realidade. Já no aspecto social e emocional esses anos são os mais estressantes e difíceis, quando comparados com qualquer outra fase da vida adulta. Um dos motivos desse estresse é o ingresso na Universidade, porque no início o jovem pode apresentar dificuldade de adaptação com o novo ambiente, o ambiente, os novos colegas, relação mais distante com os professores e a angústia de ainda depender economicamente dos pais.
METODOLOGIA:
Foram entrevistados quarenta alunos da Universidade Federal de Uberlândia, da área de Biomédicas (Psicologia, Medicina, Odontologia, Enfermagem, Veterinária e Agronomia). Fez-se uma entrevista semi-estruturada, composta de 5 perguntas, que versavam sobre a percepção deles à respeito do que seus pais pensavam sobre sua dependência financeira, sua percepção própria à respeito desta dependência, se esta percepção mudou no decorrer do curso e as estratégias de enfrentamento utilizadas. Todos os alunos entrevistados tinham mais de 23 anos, sendo 22 homens e 18 mulheres. Eles estavam na biblioteca e foram convidados a participar do estudo. Após o aceite, lhes era entregue um Termo de Consentimento, que continha as informações sobre o estudo. Após a leitura e assinatura deste, as entrevistas eram realizadas. Foram entrevistados também 10 professores e uma psicóloga da Diase (Divisão de Assistência ao Estudante). A estes foi feita uma pergunta sobre como percebiam os sentimentos dos jovens adultos sobre a questão da dependência financeira. Os professores e a psicóloga foram abordados em suas respectivas salas e seguiu-se o mesmo procedimento realizado com os universitários.
RESULTADOS:
Na amostra estudada 75% dos estudantes declararam sentir angústia por ser dependente economicamente. Uma parte dos que assim se sentem (60%) tentam amenizar tal sentimento, realizando trabalhos informais e paralelos à universidade. Houve uma relação direta entre o discurso da maioria dos estudantes e a hipótese de que o jovem universitário, dependente financeiramente dos pais, enfrenta sentimentos de angústia. Os relatos demonstram que estes jovens possuem um sentimento de impotência e angústia frente a sua situação de dependência e, ao menos, sentem certo alívio pelo fato de estarem estudando. Boa parte dos sujeitos afirma que os pais acham ser um dever sustentá-los até o término da graduação, ou seja, a família constitui-se como apoio e redutora dessa angústia. Os homens afirmam sofrer uma pressão social maior pelo simples fato de serem homens. Observou-se uma variação no sentimento de angústia dos entrevistados, quando eles entraram na faculdade e agora: à medida que o tempo passa a angústia torna-se maior. Em relação à psicóloga e aos professores entrevistados não houve uma percepção direta entre a dependência financeira dos estudantes e o sentimento de angústia. Em geral, eles constatam que esse sentimento é gerado por outros motivos, como as provas, a repetência, a formatura iminente e a percepção de não saberem o suficiente e a possibilidade de desemprego.
CONCLUSÕES:
O jovem adulto, o qual estudamos, caracteriza-se por possuir maturação física, cognitiva, emocional. No entanto nem todos são independentes financeiramente de seus pais e isso realmente é fator que gera angústia. De acordo com a literatura o individuo é mais socialmente aceito quando exerce alguma função social, seja trabalhar ou estudar. Por estarem cursando uma faculdade, uma função social, a família se sente no dever de sustentá-los, colaborando para que a angústia não seja tão grande. A angústia aumenta no decorrer do curso provavelmente devido a uma melhor percepção da realidade do mercado de trabalho e também pelo medo do fracasso na vida profissional. Além disso, começam a tomar consciência de que mesmo estudando terão que ser sustentados até se formarem e conseguir um emprego. Pode-se notar, entretanto, que a vivência dessa dependência não é passiva. De algum modo, os universitários engajam-se em atividades remuneradas para reduzir tal sentimento. Contrário à nossa expectativa, a psicóloga e os professores entrevistados relatam não perceber uma relação direta entre dependência financeira e angústia. Entretanto isso é compreensível, na medida em que os professores e a psicóloga não acompanham os jovens em seu cotidiano. Sua relação com eles quase sempre se restringe ao ambiente acadêmico, aonde as preocupações são diferentes e estão ligadas ao mesmo: provas, repetência, formatura, medo do desemprego, entre outros.
 
Palavras-chave: dependência financeira; jovens adultos universitários; angústia.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006