A singularidade das práticas pedagógicas desenvolvidas em museus exige que novos pressupostos sejam pesquisados e testados. O problema de dar conta destas singularidades é aguçado quando se trata de um museu interativo e itinerante. A etapa inicial desta pesquisa consistiu na identificação destas singularidades: a primeira diz respeito à motivação dos visitantes para o estudo das ciências. Esta foi elaborada em especial através do princípio da interatividade, a partir do qual o visitante torna-se um "ator" no processo de construção de seu próprio conhecimento. Uma segunda singularidade diz respeito à forma pela qual a ciência "acabada" é via de regra oferecida ao grande público: segmentada e desvinculada (ou desarticulada) dos demais fenômenos do quotidiano. Para dar conta desta questão, o grupo de trabalho desenvolveu uma abordagem interdisciplinar, ancorada num eixo temático: a luz. A necessidade de formar indivíduos com visão sistêmica, reflexiva e analítica conduziu o desenvolvimento deste trabalho. E foi a partir desta necessidade que surgiu um novo espaço museológico: o Museu Itinerante e Interativo de Ciências (MIIC). O MIIC conta com uma sala de exposições com 18 painéis interativos e uma sala multimídia. Além dos painéis, o visitante tem a sua disposição (mediante agendamento) oficinas, jogos e teatro infantil. O MIIC conta com o apoio da FAPERGS, CNPq, Fundação Vitae e UCS.

A metodologia desenvolveu-se em torno de questões básicas como o papel da educação na sociedade deste novo século. Parafraseando Freire, os conteúdos não são apenas conhecimento acumulado, mas habilidades que retratam a experiência social da humanidade. As questões orientadoras foram: o que os Museus de Ciências podem fazer pelo desenvolvimento da educação e a alfabetização científica? Como premiar a abordagem interdisciplinar e interativa em torno do fenômeno LUZ, de modo a contribuir na formação do indivíduo autônomo e crítico?

Etapas da metodologia:

Pesquisa e revisão bibliográfica;

Discussões sobre os pressupostos teóricos e definição dos eixos condutores;

Encontros para determinação e estudo dos temas interdisciplinares;

Estudo do perfil do público-alvo;

Sistematização das abordagens

Elaboração dos planos e esquemas (Morin, 2002):

1. estudo dos fenômenos que interligam o tema gerador;
2. estudo das características dos fenômenos e dos elementos que constituem os níveis hierárquicos de complexidade;
3. estudo das interdependências dos elementos constituídos;
4. estudo de rede de relações que pode se estabelecer entre eles do ponto de vista sistêmico;

- Estudo de formas de sensibilização do ambiente em torno do tema gerador;

- Transposição para uma linguagem simples e significativa;

- Aplicação de técnicas de iluminação para interligar fenômenos em movimento;

- Acompanhamento da produção artística, estudo de cores e textura de materiais.

Foram produzidos até o momento 18 painéis: hipótese do Universo Primitivo, efeito- estufa, fotossíntese, estruturas vegetais, tabela periódica dos elementos químicos, a luz e os defeitos de visão, a luminosidade e os seres vivos no sistema marinho, espectro de absorção de luz pela clorofila, gerador de Van der Graff, interferência da luz, termorregulação em lagartos, radiação solar, influência da temperatura no sexo das tartarugas, ciclo da água, balanço de energia, conversão fotovoltaica, luneta, holografia. Estão em processo final de construção: a luz e a migração das aves, a luz e a visão dos animais, a importância da radiação infravermelha na predação de serpentes peçonhentas, a luz e a influência no crescimento dos vegetais, a radiação solar e a estratificação vegetal nas florestas, a luz e as condições climáticas, a luz e os alimentos, a luz e seus efeitos na pele humana. Além disso foram organizados experimentos interativos e desenvolvidas oficinas sobre o efeito estufa e termômetro de radiação, extração de pigmentos foliares, teatro infantil, observação com lunetas, rochas luminescentes, transmissão de dados por laser, dominó das funções químicas, chuva ácida . Há também uma sala de multimídia para o aluno investigar assuntos de seu interesse e assim ampliar as relações estabelecidas a partir do tema gerador. Um planetário inflável e um telescópio com espelho (já adquiridos) permitirão em breve a ampliação da oferta de oficinas aos visitantes.

Os resultados ainda são parciais, pois a inauguração do MIIC ocorreu em março de 2005. Em junho de 2005 o MIIC esteve à disposição dos visitantes no evento "Verde é Vida" em Santa Cruz do Sul, com um número de visitantes significativo, cerca de 20.000 estudantes. Na UCS o MIIC fez parte do Projeto "Portal das Profissões" totalizando a presença mais de 5.000 visitantes. Os instrumentos de avaliação aplicados consistiram especialmente de questões abertas e fechadas.Uma das questões dizia respeito a identificação de fenômenos e a citação de conceito-chave presentes na exposição e importantes para a construção de uma proposta de ensino. Os mais citados em 90% dos casos foram: efeito estufa e experimento de Van der graff. Isso se deu devido a grande interatividade do público visitante. Outras questões respondidas foram, luz e sistema marinho, refração da luz que estavam presentes em painéis luminosos. Nas questões fechadas, do tipo, você já havia visitado o MUCS, os resultados apontaram, sim para 95% das respostas e para a nossa surpresa em 70% dos casos as visitas estavam na segunda vez. Estes dados ainda são insuficientes, mas estamos cientes da sua importância para os estudos futuros.

MORIN, Edgar. A religação dos saberes: o desafio do século XXI. Rio de Janeiro Bertrand. Brasil, 2002.

FREIRE, Paulo. A pedagogia da autonomia. São Paulo: Cortez, 1996.