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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 11. Psicologia Social

AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA FÍSICA SOBRE A SUA INSERÇÃO NO MERCADO DE TRABALHO

Michelle Villaça Lino  1
Júlia Reis da Silva 1
Ana Cristina Barros da Cunha  1
(1. Departamento de Psicologia Clínica, Universidade Federal do Rio de Janeiro/ UFRJ)
INTRODUÇÃO:
A palavra deficiência designa falta, imperfeição. Assim, a maioria das definições de deficiências (físicas ou não) se dá pela via da exclusão, uma vez que ao se definir uma pessoa a partir de uma falha ou imperfeição se contribui para afastá-la ainda mais dos ditos “normais”. As representações sociais são construídas através da interação entre os indivíduos de uma sociedade, sendo que a sociedade é marcada por uma ideologia imposta por um grupo social, pela cultura e dinâmicas do meio social. Assim, as representações sociais das pessoas portadoras de necessidades especiais se constroem ao longo de suas vidas muitas vezes marcadas pela exclusão social, já que a sociedade, ao classificá-los como “coitados” e “incapazes”, os isola do convívio social. Deste modo, a inserção dos portadores de deficiência física no mercado de trabalho é muito importante, já uma das formas de construir sua identidade pessoal e social é a partir das relações de trabalho. A atuação de profissionais especializados, como psicólogos e assistentes sociais, faz-se mister para assegurar uma crescente inserção do deficiente no mercado de trabalho e desenvolver programas de assistência ao empregador a fim de eliminar barreiras que se apresentem como obstáculos na empresa, além da conscientização e sensibilização dos trabalhadores quanto às deficiências. Assim sendo, o objetivo deste trabalho foi verificar as Representações Sociais das pessoas com deficiência física sobre a sua inserção no Mercado de Trabalho.
METODOLOGIA:

Foi feito um exaustivo levantamento bibliográfico sobre a teoria das Representações Sociais, a pessoa portadora de deficiência física (definição de deficiência física, critério de classificação diagnóstica, causa e prevenção) e sobre o mercado de trabalho como forma de inserção social. Em seguida, por intermédio de uma ONG, foram aplicados questionários em 15 pessoas portadoras de deficiência física moradoras do estado do Rio de Janeiro, de ambos os sexos, com idade variando entre 28 e 55 anos. A técnica utilizada foi entrevistas individuais, semi-estruturadas. O questionário aplicado constitui-se de duas partes: a primeira quantitativa, contendo dados pessoais; e a segunda qualitativa, contendo perguntas semi-estruturadas. As perguntas se referiam a como o sujeito percebia o trato das empresas com o funcionário portador de deficiência, se ele acreditava que houve alguma mudança após a iniciativa do governo quanto à obrigatoriedade legal das cotas de funcionários portadores de deficiência nas empresas privadas e a opinião sobre temas como: diferença, direitos, igualdade, justiça, mercado de trabalho, oportunidades, preconceito. Baseado na formulação das respostas, foram criadas categorias de análise para que se realizasse o cálculo percentual das mesmas. Finalmente, para entender a análise do material coletado nas respostas dos entrevistados, utilizamos a metodologia da análise qualitativa, mas especificamente a metodologia de análise das representações sociais.

RESULTADOS:

Verificamos que a maioria dos entrevistados é do sexo feminino, morador das Zonas Norte e Oeste, com ensino Médio completo, solteiros e encontram-se empregados. Quanto à análise qualitativa do questionário, percebemos que a grande maioria dos sujeitos acredita que após o estabelecimento da Lei das Cotas houve não só um aumento do número de oportunidades, mas também o acréscimo do receio para com a pessoa portadora de deficiência física. Quanto à opinião dos sujeitos em relação a temas diversos notamos que: a grande maioria destaca que direitos e deveres são comuns a todos, mas há desinformação quanto aos seus direitos. Para alguns sujeitos a igualdade, mesmo não sendo cumprida, é direito de todo cidadão. Quanto ao tema oportunidade, as representações divergem: para uns as oportunidades são poucas e para outros o que prejudica a inserção do portador de deficiência física nas empresas é a falta de capacitação profissional. Alguns entrevistados se vêem excluídos pela sociedade e outros se consideram eficientes. Em relação ao preconceito os sujeitos relatam que ele existe, mas não é exclusivo ao deficiente físico, já que ocorre quanto à cor, raça. Através das falas dos entrevistados percebemos que a característica central das representações sociais das pessoas portadoras de deficiência se dá através da relação entre sua motivação – derivada da capacitação profissional – e sua concepção com relação às empresas e a sociedade em geral.

CONCLUSÕES:
Os resultados obtidos nos permitiram concluir que as pessoas portadoras de necessidades especiais, especificamente deficientes físicos, vêem ocorrer uma mudança de atitude das empresas frente a sua inserção no mercado de trabalho, mas ressaltam que ainda há a permanência de preconceitos e receios por parte das empresas por não acreditarem que podem cumprir plenamente as tarefas que lhes são designadas. Verificou-se que as representações sociais dos portadores de deficiência são marcadas pelo lugar em que esse sujeito sabe e percebe-se, sendo que é altamente influenciado pela forma como a sociedade vai tratá-lo e pelos rótulos que irá impô-los. Mas segundo Moscovici (2001) o sujeito é ativo e criativo e com o apoio de familiares e de profissionais (como o psicólogo mediando as relações interpessoais e ajudando-o a aceitar sua deficiência e a desenvolver suas potencialidades) ele pode reconstruir suas representações sociais e até mesmo transformar a sociedade. Vê-se, então, que não é somente o coletivo que influencia os sujeitos, mas estes também alteram o coletivo já que modificam as relações interpessoais, ideologias e práticas sociais. E por isso, o psicólogo é tão importante no processo de inserção social do deficiente físico, pois media a relação destes com o trabalho, prepara a sociedade para a derrubada de resistências e preconceitos e também desenvolve programas a fim de que empresas possam se adaptar a presença dos portadores de deficiência e considerá-los como iguais.
 
Palavras-chave: Pessoas com deficiência física; Representações Sociais; Mercado de Trabalho.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006