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C. Ciências Biológicas - 13. Parasitologia - 4. Parasitologia Geral

Status Ectoparasitário e Aspectos Epidemiológicos da Tungíase em Área Hiperendêmica no Estado de Alagoas.

Evônio B. Campelo-Júnior  1
Arthur F. Silva 1
Cláudia M. L. Calheiros 1
Valquíria L. Soares 1
Anne Jackson 2
Jorg Heukelbach 3
(1. Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas – UNCISAL.; 2. Universidade Livre de Berlim – Alemanha.; 3. Universidade Federal do Ceará. )
INTRODUÇÃO:

     A Tungíase é uma doença presente em diversas partes do mundo, caracterizada pela penetração na pele do homem e de diversos animais, do espécime fêmea da Tunga penetrans, que é um Arthropoda ectoparasito pertencente à ordem Siphonaptera. Esses insetos são vulgarmente conhecidos como pulgas e, a doença é popularmente chamada bicho-de-pé. A urbanização crescente, a melhoria das condições de moradia e o uso de calçados apropriados podem ter contribuído para a redução da doença, mas ainda a mesma é altamente prevalente em populações que vivem em extrema pobreza, ocorrendo em muitos países da América Latina e África. Este estudo faz parte de um projeto multidisciplinar sobre ectoparasitoses no estado de Alagoas e objetivou determinar em um primeiro momento, o status ectoparasitário da população, para o conhecimento posterior das principais micro-áreas endêmicas em Tungíase, e em um segundo momento, determinar a prevalência da tungíase e as localizações mais freqüentes do ectoparasito no corpo dos indivíduos residentes nessas áreas, havendo a classificação das lesões, em que na oportunidade, buscou-se, também, ações de educação preventiva em saúde à comunidade.

METODOLOGIA:

     Estudo prospectivo realizado no município de Feliz Deserto, litoral sul alagoano, utilizando-se duas fichas: a primeira de prevalência, através de um questionário epidemiológico e exame físico confirmatório, das doenças ectoparasitárias de uma amostra de 42,3% da população rural e urbana do município. Dessas, 392 (24%) eram da área rural e 1.238 (76%) da área urbana. Após rápida avaliação do status ectoparasitário foi realizado o cadastramento das famílias com a assinatura do consentimento livre e esclarecido pelos membros das mesmas, sendo o estudo submetido e aprovado por Comitê de Ética em Pesquisa. Posteriormente procedeu-se à análise da prevalência da tungíase, com a utilização da segunda ficha, realizando-se anamnese específica, classificação e localização das lesões no corpo dos indivíduos em dois momentos: no período das chuvas (junho) e no período da seca (novembro). A classificação obedeceu a um critério proposto por Eisele, et. al, 2002: lesões tipo 1, 2, 3a, 3b, 4a, 4b e 5.Houve ações educativas através de visitas domiciliares enfocando formas de tratamento e prevenção das doenças ectoparasitárias.Na análise estatística foram utilizados os  programas Epi-Info, versão 6.0 e Excel com a posterior confecção  de gráficos.     

RESULTADOS:

     Das 1.630 pessoas que participaram da pesquisa sobre a prevalência das principais ectoparasitoses, 143 (8,77%) apresentaram Tungíase; 164 (10,06%), Pediculose do Couro Cabeludo; 119 (7,30%), lesões cutâneas características de escabiose, e 16 (0,98%), quadros clínicos típicos de Larva Migrans Cutânea (LMC). Em relação à pediculose do couro cabeludo, houve diferença significativa entre os indivíduos de área rural (16,8% de prevalência) e aqueles de área urbana (7,91% de prevalência) (p<0.001). Quanto à análise clínica acerca de lesões causadas pela Tunga penetrans, foram examinados 1193 indivíduos no período das chuvas e 1127 indivíduos no período da seca. A prevalência da tungíase foi de 19.8% (IC 95%: 17.5-22.0) no período chuvoso e de 26.4% (IC 95%: 23.9-29.0) no período da seca (p<0.001). Dentre as pessoas infestadas, 47.9% apresentaram uma lesão, 18.4% duas lesões, 8.8% três lesões e 17.8% possuíam de 4 a 45 lesões. Quanto à localização das lesões no corpo, 96,5% foram identificadas nos pés, 3,2% nas mãos e 0,3% em outra localização. Em 3,5% das pessoas com tungíase foram identificadas lesões ectópicas (fora dos pés). Lesões iniciais (1 – 3) foram identificadas principalmente no período seco, e lesões mais antigas (4 - 5) no período chuvoso (p<0.001).

CONCLUSÕES:

     Estes dados possibilitaram compreender que a tungíase está distribuída por todo município, já que em todas as localidades pesquisadas das áreas rural e urbana, houve registro de pessoas infestadas pela Tunga penetrans. A pediculose do couro cabeludo se mostrou mais prevalente em todo o município, seguida pela Tungíase. A prevalência da tungíase na área de estudo é alta. A taxa de ataque se encontra mais alta na época da seca, pela maior prevalência e maior encontro de lesões iniciais (1 – 3). Localizações ectópicas são comuns, principalmente quando a prevalência é alta. Foram encontrados todos os estágios das lesões nos dois períodos estudados (chuva e seca) sugerindo a hiperendemicidade do município para Tungíase.  

Instituição de fomento: Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Alagoas (FAPEAL).
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Tunga penetrans ; Tungíase; Epidemiologia .
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006