IMPRIMIR VOLTAR
C. Ciências Biológicas - 10. Microbiologia - 3. Microbiologia

INFLUÊNCIA DE QUEIMADAS CANA SOBRE A MICROBIOTA FUNGICA DO SOLO

Rubens Ferracini Junior 1
Gabriela Luchiari Tumioto 1
Aristeu Gomes da Costa 1
(1. Laboratório II - Microbiologia – Departamentos de Farmácia¹ e Biomedicina² - Cen)
INTRODUÇÃO:

O trabalho presente analisa os efeitos das queimadas sobre fungos telúricos. Em condições naturais, queimadas são eventos que auxiliam a revitalização do solo, pelo incremento de elementos minerais, que recuperam a saúde do solo. Entretanto, a utilização reiterada deste processo, produz a rarefação da vida microbiana local, causando efeito inverso àquele projetado pela natureza. A agroindústria paulista, em particular o setor do açúcar e do álcool, desempenham importante papel na economia regional e nacional, não apenas  pelo valor intrínseco dos produtos gerados, mas também por fatores paralelos como geração de empregos indiretos em  setores associados. Entretanto, algumas técnicas de manejo da cana-de-açúcar (matéria-prima mais usada na produção de açúcar e álcool), embora sabidamente agressivas ao meio ambiente e à saúde humana e animal, continuam sendo praticadas. Tal prática colabora com o empobrecimento do solo a médio e longo prazo. Isto obriga a utilização de práticas corretivas, que aumentam a deterioração biológica do solo. Neste contexto, o presente trabalho propôs-se avaliar a microbiota fungica telúrica em áreas de cultivo e não cultivo de cana-de-açúcar. A avaliação foi realizada pela caracterização de espécies fungicas presentes em áreas de cultivo e não cultivo de cana, e, no primeiro caso, em épocas de safra e não safra.

METODOLOGIA:

Durante vinte e quatro meses foram coletadas amostras de solo em cinco regiões do Estado de São Paulo, duas das quais têm intensa atividade da agroindústria sucro-alcooleira (R1: Ribeirão Preto-Araraquara; R2: Ourinhos-Pirajú), uma litorânea (R3: Registro-Peruíbe), uma região serrana (R4: Amparo-Serra Negra) e uma região de atividade pastoril (R5: Araçatuba-Birigui). De cada um dos locais citados, foram obtidas 8 amostras a intervalos de 60 a 90 dias entra elas. Em cada coleta foram obtidas amostras superficiais e a dez centímetros de profundidade, numa massa final de cinqüenta gramas. As amostras forma tamisadas para retirada de resíduos maiores, maceradas e homogeneizadas por agitação em solução salina contendo antibacterianos. Após 24 horas de contato, o material foi dividido em alíquotas de 10 mL cada, centrifugado e lavado com solução salina estéril tamponada. O sedimento final foi ressuspenso em solução salina fisiológica. Esta suspensão foi inoculada em Plate Count Agar (PCA) pela técnica de pour-plate, para contagem (microrganismos totais), e por esgotamento em superfície, em Sabouraud-Dextrose Agar, para isolamento e identificação dos fungos. Técnicas de identificação envolveram laminocultivo e colônia-gigante, para fungos filamentosos, e auxanograma e zimograma para leveduras. Realizaram-se também determinações da temperatura e da umidade relativa através de termômetros de bulbo e higrômetro simples, posicionados a 1,5 metros do solo.

 

RESULTADOS:

                  Os resultados obtidos demonstraram que em solos onde houve o manejo da cultura de cana pela utilização de queimadas, o solo apresentou-se empobrecido em densidade e diversidade de espécies fungicas. A redução da densidade microbiana fúngica, em comparação com áreas controles onde a média de unidades formadores de colônias esteve entre 3200 e 4000/amostra, foi de 70 a 90%. Usando-se como parâmetro as próprias áreas de cultivo, em épocas de não safra obtiveram-se entre 2500 e 3100 UFC/ amostra, havendo redução de 85 a  95% desse valor em épocas de safra. Além da redução no número de isolados, notou-se redução significativa ou mesmo  desaparecimento de espécies com potencial atividade de formação de nitritos e nitratos, como A. flavus e A. oryzae.  Alguns gêneros considerados indicadores secundários de fertilidade, como A. niger e Cunninghamela, também foram encontrados em densidades reduzidas nesta situações, assim como  gêneros produtores de substâncias com atividade antimicrobiana, como Penicillium e Acremonium, responsáveis em grande parte pelas estratégias naturais de competição no solo.  Gêneros envolvidos em atividade quitinolítica como Fusarium, Absidia e Gliocladium, não foram detectados em quaisquer amostras provenientes das áreas de trabalho onde ocorreu manejo da cultura de cana pela utilização de queimadas.  

CONCLUSÕES:

                  Os resultados obtidos no presente trabalho apresentam quadros evidentes de prejuízo à fertilidade do solo, provocados pelo manejo de cultivos através de queimadas. A fertilidade esta relacionada à diversidade microbiológica e ao equilíbrio entre as espécies microbianas no local. Fungos, como  importantes elementos decompositores e cicladores de matéria  orgânica, são bons indicadores da qualidade do solo. As áreas amostradas referem-se a regiões onde a agroindústria  canavieira apresenta-se em diferentes estágios de desenvolvimento. Nas regiões onde a prática de queimadas, para  facilitar o corte de cana, é freqüente, houve alteração significativa da diversidade fúngica, com uma concentração dos  isolados em poucas espécies. Esta redução indica alteração profunda no equilíbrio da microbiota local, e levando-se em conta as interações dessa microbiota com meio como um todo, pode-se imaginar que a deterioração ambiental em curso seja de gravidade maior do que noticiada. Alternativas  às queimadas devem ser pensadas, propostas e implementadas, e lei cumprida ao rígido, para que esta prática tão prejudicial  possa ser banida.

 

Instituição de fomento: Centro Universitário Barão de Mauá (CBM)
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: microrganismos; fungos; microbiota fungica.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006