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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 6. Psicologia do Desenvolvimento Humano

PERCEPÇÃO DE JOVENS COM SÍNDROME DE DOWN SOBRE RELACIONAMENTO AMOROSO

Elaine Cristina Luiz 1
Olga Mitsue Kubo 1
(1. Universidade Federal de Santa Catarina/UFSC)
INTRODUÇÃO:

Sexualidade de pessoas portadoras de alguma deficiência é um tema complexo e delicado e ainda pouco discutido no meio científico. Esse tema gera muitas controvérsias em razão de envolver conflitos sexuais e posições morais e políticas. Um exame do conhecimento já produzido sobre a sexualidade de pessoas com Síndrome de Down possibilita concluir que é bastante semelhante a das outras pessoas. Contudo, pais ainda tendem a apresentar concepções sobre a sexualidade do filho com Síndrome de Down como inexistente ou de que ela deve ser reprimida. Em estudo sobre as percepções parentais das interações sociais de pessoas com Síndrome de Down, incluindo interesse no sexo oposto, mais da metade de um grupo de pais entrevistados relataram que, em algum momento, seus filhos apresentaram esse interesse. O constrangimento dos pais em falar sobre sexo e sexualidade com seus filhos, pode influenciar a concepção desses jovens sobre sexualidade, sexo e seu próprio corpo, no sentido de percebê-los como algo vergonhoso e proibido. Considera-se importante conceder aos jovens com Síndrome de Down ou com alguma deficiência mental oportunidades para falar sobre aspectos de sua sexualidade e afetividade. O objetivo foi investigar as percepções de jovens com Síndrome de Down sobre relacionamento amoroso, a partir de sua próprias verbalizações, considerando as características do ambiente familiar e social no qual estão inseridos.

METODOLOGIA:

Participaram cinco jovens, três homens e duas mulheres, com idades entre 18 e 28 anos. Entre os sujeitos, três estavam namorando, um já havia namorado e um não havia namorado. Os critérios para seleção dos sujeitos foram ser portador de Síndrome de Down e ter acima de 15 anos. Para localização dos sujeitos entrou-se em contato com três instituições de educação especial de duas cidades de médio porte da região sul do país. Uma delas mediou o contato entre os sujeitos e o pesquisador. Três entrevistas realizaram-se em um consultório de enfermagem dessa instituição. Duas entrevistas foram realizadas nas residências dos sujeitos, na sala de estar. Para obtenção dos dados foram utilizados: termo de consentimento; formulário de dados pessoais e familiares e roteiro de entrevista. Para registro foi utilizado um gravador e fitas de áudio. A elaboração do roteiro de entrevista iniciou-se com o levantamento das variáveis constituintes do fenômeno relacionar-se amorosamente, distribuídas nos seguintes aspectos: apaixonar-se, sentimentos pelo namorado(a), sentimentos do namorado(a) pelo sujeito, sentir-se atraído pelo outro, trocar carícias e relacionar-se sexualmente. Foi elaborado também um formulário de informações pessoais e familiares dos sujeitos a ser preenchido pelos pais.

RESULTADOS:

Entre os principais resultados encontrados destaca-se que apaixonar-se é entendido pelos jovens com Síndrome de Down como acarinhar o outro, valorizar o outro e ficar animado com o outro. Referem-se à gestos de carinho e preocupação com o outro, às características positivas do outro, e ao entusiasmo com a companhia do outro ao descreverem o que é paixão. Observou-se uma diferença no grau de generalização das respostas do sujeitos. Em geral, ao explicar o que é se apaixonar referem-se à paixão por uma pessoa específica. Os dados possibilitam demonstrar que há uma projeção de seus próprios sentimentos no outro, ou seja, os sujeitos acreditam que os sentimentos do(a) namorado(a) por eles eqüivalem aos seus. Em geral, esses sentimentos referem-se a sentimentos de proximidade, bem-estar, saudade na ausência do outro, paixão e ternura. Os jovens valorizam atributos físicos - ser elegante, magro, ter um rosto bonito - e comportamentais - falar frases bonitas, ser respeitoso, romântico, fiel - para definir o que é uma pessoa atraente. Um dos sujeitos descreveu o envolvimento afetivo e amoroso no momento de sua primeira relação sexual. Outros sujeitos consideram que só terão relações sexuais mais tarde, pois julgam-se despreparados ou sentem-se tímidos para isso atualmente. A interdependência do outro é mencionada como um aspecto necessário para que ocorra um relacionamento sexual, assim como a prevenção e anti-concepção.

CONCLUSÕES:

As percepções que os jovens apresentam sobre relacionamento amoroso são pautadas na vivência concreta de cada um, na experiência que têm de namoro ou envolvimento com o sexo oposto. Essas vivências facilitam a identificação de comportamentos para formar conceitos concernentes ao relacionamento amoroso. No entanto, nem todos os jovens entrevistados foram capazes de ampliar os conceitos, como a paixão, por exemplo, e generalizá-los para situações mais amplas de relacionamento entre casais. Essa constatação indica a necessidade de investimento em uma educação que propicie a formação de conceitos mais complexos, a partir da vivência dos jovens, prevenindo uma ruptura entre conceitos e vivência. Em geral, houve menção de bons sentimentos, como carinho, segurança e aconchego, e a percepção de uma reciprocidade observada pela projeção desses sentimentos no outro. As verbalizações dos jovens parecem expressar uma influência da família, da escola e da mídia em suas vivências e sobre suas concepções amorosas, a exemplo de considerarem-se despreparados para o relacionamento sexual e destacarem aspectos como "elegante" e "magrinha" para definir uma pessoa atraente. Observou-se que a influência da família exerce impactos diferentes nos indivíduos, com diferentes graus de aceitação por parte dos jovens das imposições desta. Ainda que a família aceite o namoro de seus filhos com Síndrome de Down, a educação ainda é limitadora de uma vivência amorosa e sexual plena.

 
Palavras-chave: Síndrome de Down; Relacionamento Amoroso; Educação Sexual.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006